A cruel perseguição da Igreja católica na China
Em pleno século XXI, devido à cruel perseguição religiosa na China comunista, numerosos católicos, religiosos e leigos, dão testemunho da Fé, padecendo por isso sofrimentos indizíveis, às vezes a própria morte.
Essa perseguição é o desdobramento daquela iniciada durante a “Revolução Cultural” de Mao Tsé-Tung. Que os corajosos exemplos desses novos mártires fortaleçam a nossa Fé.
Conta o Pe. João Huang Yongmu, um dos biografados no livro em foco, testemunha e vítima desse violento processo, que passou mais de 25 anos em prisões e campos de trabalho forçado:
“Nossas igrejas foram transformadas em salas de palestras, ‘centros de reeducação’ e fóruns para acaloradas discussões sobre os programas da reforma agrária. […]
Podia-se dizer que já tínhamos adivinhado o diabólico plano dos comunistas contra a Igreja Católica. O primeiro passo foi o de controlá-la; o segundo foi de restringir suas atividades, de modo a destruí-la completamente.
Algumas pessoas não viam claramente o que estava começando a acontecer. Eram otimistas e inclinadas a dizer que o comunismo chinês era diferente do russo. Mas isso era uma fábula contada por estrangeiros” (pp. 94-95).
E acrescenta com muita propriedade:
“A Reforma Agrária provocou uma luta de classes extremamente violenta, colocando os chineses uns contra os outros. Os comunistas queriam uma sociedade igualitária, e desse modo começaram a reduzir tudo ao nível de uma única classe. Rendas e interesses foram abolidos.
Os proprietários de terra eram sujeitos a ‘julgamentos populares’ e a rudes críticas. As terras foram divididas, e os lavradores podiam pilhar as casas e os bens dos proprietários.
As ‘ovelhas negras’ — aqueles que, em outras palavras, se opunham a esse terrível programa — eram expostas ao público e criticadas. […]
De acordo com a doutrina de luta de classes comunista, quem é rico está errado e, portanto, deve ser punido” (p. 96). Essa é, aliás, a mentalidade dominante em amplas áreas do atual governo brasileiro, que atiça uma luta de classes e de raças segundo o estilo “nós contra eles”.
Girolamo Fazzini, organizador da edição que analisamos, escreve que entre 1958-1962 — “os trágicos anos do ‘Grande Salto para Frente’”, segundo o jargão comunista —, “Mao Tsé-Tung visava alcançar a radical transformação da economia e incrementar a produção industrial maciça, em particular a produção de aço. O tradicional tecido social chinês, baseado na família e na vida da aldeia, é revolucionado com o estabelecimento das ‘comunas populares’, com as quais o regime comunista tenta coletivizar cada aspecto da vida dos agricultores”. (p. 317)
Instituídas oficialmente em agosto de 1958, “essas comunas não seriam supressas senão no começo dos anos 80. As consequências dessa desastrosa campanha foram sentidas principalmente na agricultura. A derrubada dos métodos tradicionais causou um drástico declínio na produção agrícola e no controle da terra arável, resultando na morte de pelo menos 40 milhões de chineses (existiria um documento interno do Partido Comunista que fala sobre cerca de 80 milhões de mortes por ‘causas não naturais’)”. (p. 317)
A perseguição à verdadeira Igreja de Cristo foi inexorável desde o início da era comunista. Já em 1951, para mais eficazmente controlar as religiões, o governo criou um órgão específico, que fechava seminários, confiscava hospitais, escolas e asilos dirigidos pela Igreja. Num golpe de força, em 1955 os comunistas aprisionaram o destemido bispo de Xangai, Dom Inácio Kung, bem como muitos de seus sacerdotes e leigos pertencentes à Legião de Maria (que foi considerada ilegal e subversiva). Dom Inácio passaria 30 anos na prisão, muitas vezes na solitária.(3)
Em agosto de 1957 foi fundada pelo governo comunista a Associação Patriótica dos Católicos Chineses, organização títere do regime, a única a ter voz e vez em matéria de catolicismo, com o fim de confundir e desviar a população católica. Vale lembrar que representantes dessa malfadada Associação comunista e cismática vieram se aconselhar com altos representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) anos atrás…
Para mais eficazmente revolucionar de alto a baixo toda a sociedade tradicional chinesa, Mao Tsé-Tung iniciou, com a “Circular de 16 de Maio” de 1966, a proletária Revolução Cultural. Visava ele eliminar assim todos os remanescentes dessa antiga sociedade através de uma mudança abrupta e total de mentalidade segundo a filosofia marxista.
Sobre o significado desta “revolução” escreve o Pe. João Huang, baseado em sua própria experiência:
“Durante o verão de 1966, a furiosa perseguição da Revolução Cultural espalhou-se através do país como um incontrolável incêndio numa floresta, com atos de violência e vingança sem precedentes. Nunca, na história da China, se ouvira falar em tais atos de crueldade: uma perseguição de vastas proporções, que destruía tudo e promovia sangrentas flagelações, torturas e mortes.
Toda a nação foi lançada num enorme redemoinho de imenso sofrimento. A assim chamada Revolução Cultural nada tinha a ver com a verdadeira cultura; ao contrário, seu propósito era destruir a cultura chinesa antiga. Essa revolução foi pior do que as catástrofes naturais comuns, como pragas e terremotos, porque era causada pelo homem” (p. 128).
Abordando o mesmo tema, Li Daoming, autor da vida do Pe. José Li, também vítima dessa revolução, observa:
“A Revolução Cultural lançou o país num caos completo e absoluto. Ninguém mais trabalhava. Jovens e velhos, sem distinção, passavam todo o tempo em ‘reuniões de massa’ ou em ‘sessões de luta de classes’”.
No fundo, em agitações tão ao gosto dos mal chamados Movimentos Sociais que atuam no Brasil, cujo representante máximo, João Pedro Stédile, foi duas vezes convidado, recebido e promovido pelo Vaticano… (vide “Encontro Mundial de Movimentos Populares no Vaticano”, Catolicismo dezembro/2014).
As pessoas que tivessem qualquer vislumbre conservador “eram arrastadas à força e colocadas em plataformas diante da multidão, sendo alvo de torrentes de acusações e todos os tipos de agressões. Pouco importava que as acusações fossem contraditórias ou sem base; os acusados deviam, de qualquer modo, permanecer de pé, imóveis, enquanto cada detalhe de sua vida privada era dado a conhecer a todos. Entre os muitos incapazes de suportar a violência desse linchamento moral, vários chegaram a enlouquecer, enquanto outros cometeram suicídio. Não está longe da verdade afirmar que nesses anos o país inteiro se transformara num colossal manicômio. […] A Revolução Cultural espalhou tal clima de desconfiança e suspeição, que ameaçava sufocar completamente até mesmo o pouco de bondade natural inerente a cada ser humano” (pp. 194-195).
Não é para isso que caminhamos com as novas políticas do governo brasileiro? É uma pergunta que se impõe.
E conclui: “Em 1974, a desordem e a confusão continuaram a prevalecer no país. À medida que a Revolução Cultural progredia, só os mais rudes, os mais arrogantes e os insensatos conseguiam permanecer no poder. O comum dos cidadãos tinha que aprender rapidamente a escolher cuidadosamente suas palavras e ser muito cauto. As pessoas procuravam esconder suas próprias opiniões até dos parentes mais próximos. Ninguém ousava tomar uma iniciativa pessoal; todo mundo se limitava a fazer somente o que tinha sido ordenado ou permitido por aqueles no poder”. (p. 203)
Trechos do artigo "Cruel perseguição á Igreja católica na China". Disponível em: https://www.abim.inf.br/cruel-perseguicao-a-igreja-catolica-na-china/
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