A Igreja pode mudar o rito dos Sacramentos?
A Igreja não pode tocar na essência dos Sacramentos (isto é, no que é absolutamente necessário para sua validade).
Pode modificar os ritos acidentais; mas isso deve ser feito com a finalidade de exprimir mais claramente a essência dos sacramentos e de facilitar sua digna recepção.
Por que a Igreja não pode tocar na essência dos Sacramentos?
Pio XII explica:
“A esses sacramentos instituídos por Cristo Nosso Senhor, a Igreja, no curso dos séculos, não substituiu por outros Sacramentos, e não o podia fazer, pois, segundo a expressão do Concílio de Trento, os sete Sacramentos da Lei nova foram todos instituídos por Cristo Nosso Senhor, e a Igreja não tem poder sobre a substância dos Sacramentos (substantia sacramentorum); isto é, sobre aquilo que, conforme o testemunho das Fontes da Revelação Divina, o próprio Cristo ordenou manter no sinal sacramental.” [356]
Com que objetivo a Igreja pode modificar os ritos acidentais?
O Concílio de Trento declarou:
“Na administração dos Sacramentos – e sem tocar em sua substância – a Igreja sempre teve o poder de estabelecer ou de modificar o que julgasse convir melhor à utilidade daqueles que os recebem e ao respeito aos próprios Sacramentos, conforme a diversidade das coisas, dos tempos e dos lugares.” [357]
Quais são os Sacramentos cujos ritos foram modificados desde Vaticano II?
Todos os Sacramentos foram modificados em seguida a Vaticano II.
Há, pois, um novo rito de ordenação (1968) [358]; uma Missa nova (1969) [359]; um novo Batismo (1969) [360]; um novo Matrimônio (1969) [361]; uma nova Crisma (1971) [362]; uma nova Extrema Unção (1972) [363]; uma nova Confissão (1973) [364], como há, ademais, um novo Breviário (1970) [365], um novo calendário (1969) [366], novos óleos santos (1970) [367], um novo Direito canônico (1983) [368], uma nova Via Sacra (1991) [369], um novo Catecismo (1992) [370], um novo rito de exorcismo (1998) [371], um novo martirológio (2001) [372] e um novo Rosário (2002) [373] – sem contar a “nova evangelização” [374] ou, na França, o novo Pai-Nosso, o novo Credo (em que se substituiu a expressão “consubstancial ao Pai” por “de mesma natureza que o Pai” [375]; o novo Réjouis-toi, Marie (lit. Alegrai-vos, Maria), etc.
Vaticano II fez novas todas as coisas, como que para fundar uma nova religião.
Os novos ritos exprimem melhor a essência dos Sacramentos?
Longe de fazerem compreender melhor a ação sacramental e de facilitar a digna recepção dos Sacramentos, os novos ritos fazem o completo inverso: relativizam as Verdades de Fé, banalizam o Mistério, enfraquecem o respeito devido aos Sacramentos.
As deficiências dos novos ritos afetam todos os Sacramentos?
As deficiências dos novos ritos afetam não somente todos os Sacramentos (mais ou menos conforme o caso); mas também outras cerimônias como os funerais ou os exorcismos (que não são Sacramentos; mas sacramentais) [376].
Para não ser longo demais, nós nos contentaremos com quatro exemplos:
i) O novo rito do Batismo;
ii) O novo rito da Extrema Unção;
iii) O novo rito do exorcismo;
iv) O novo rito dos funerais. [377]
Quais foram as modificações trazidas pelo novo ritual do Batismo?
O novo ritual atenua o que evoca os efeitos sobrenaturais do Sacramento; suprime vários ritos preparatórios ao Batismo, notadamente o triplo exorcismo, que arranca, com autoridade, a criança da influência de Satã.
Por que o Batismo tem necessidade de ritos preparatórios?
“Quem quer que queira realizar sabiamente uma obra, começa por eliminar os obstáculos que se opõem à mesma”, diz Santo Tomás, que cita Jeremias: “Não semeai entre espinhos” [378].
Grandes transformações requerem grandes preparações. É por isso que os catecúmenos dos primeiros séculos não eram somente instruídos sobre o Credo; mas submetidos a um tempo de prova, provas e toda uma série de ritos e de exorcismos, de acordo com seu progresso. [379]
Tudo isso sobreviveu no ritual tradicional do Batismo. [380]
Os ritos preparatórios ao Batismo têm uma eficácia própria ou só fazem significar o que o Batismo realiza de toda maneira?
Vários ritos preparatórios ao Batismo – sobretudo os exorcismos – têm uma eficácia própria, distinta da do Batismo propriamente dito.
É necessário, pois, diz Santo Tomás, administrá-los depois àqueles que, batizados de urgência, não os puderam receber. [381]
Qual é a eficácia própria dos ritos preparatórios ao Batismo?
Os ritos preparatórios eliminam os obstáculos ao pleno efeito do Batismo:
i) Obstáculo externo: o demônio, que possui um certo poder sobre a natureza;
ii) Obstáculo interno: a resistência oposta às realidades da salvação pela sensibilidade desregrada (os sentidos estão como que fechados ao sobrenatural). [382]
Quais são os ritos que eliminam esses dois obstáculos?
O rito do sopro (com a ordem: "Saia desta criança, espírito impuro, e cede o lugar ao Espírito Santo Paráclito") e os dois outros exorcismos solenes – que ordenam, ao demônio, não apenas sair, mas de se afastar do futuro batizado – afastam, eficazmente, os maus espíritos. [383]
Os ritos do sal (sobre a língua), da saliva (sobre as narinas e as orelhas), da imposição das mãos (sobre a cabeça) e dos sinais-da-cruz (sobre a testa e sobre o peito) contribuem para tornar receptivo aos Mistérios da salvação.
Que ritos o novo ritual do Batismo suprimiu?
No novo ritual, o sacerdote não usa a estola roxa para acolher o futuro batizado na porta da igreja. Omite o rito do sopro, os dois outros exorcismos e o rito do sal. Não renova o gesto de Nosso Senhor ao ter curado o surdo-mudo pela saliva, dizendo-lhe Ephphéta (Abre-te).
O que significa a acolhida com estola roxa, na entrada da igreja?
Essa acolhida manifesta que o não-batizado não pode entrar na casa de Deus, sem se purificar de seus pecados. Mas, em nossa era de ecumenismo e de salvação universal, não se quer mais ouvir falar de nada disso.
O que significa o rito do sal?
O sal, símbolo da sabedoria, vem proteger nossa natureza da corrupção do pecado, dando-lhe o gosto pelas realidades sobrenaturais. Mas esse simbolismo requer o espírito de Fé. Os inovadores, pois, eliminaram-no.
O que significa o “Ephphéta” que acompanha a imposição de saliva?
Ephphéta significa: Abre-te. Esse rito ajuda a perceber “o bom odor de Jesus Cristo” e a abrir as orelhas da alma ao ensinamento da Fé (ensinamento recebido pelo ouvido, diz São Paulo, isto é, por um ensinamento exterior) [384].
Mas para os modernistas, as Verdades de Fé provêm, ao contrário, das profundezas da consciência.
Que outras mudanças sofreu o Batismo no novo ritual?
Em vez de se dirigir, através do padrinho, ao futuro batizado (N., o que pedes à Igreja de Deus?; N., renuncias a Satanás? N., queres ser batizado?), o novo ritual dirige as perguntas aos pais (O que pedis para N. à Igreja de Deus?).
Esse modo de se dirigir aos pais não é mais conforme à realidade?
Se o recém-nascido não coloca nenhum ato voluntário ao receber o Batismo, a orientação de sua vontade é, todavia, mudada pelo Sacramento. Sua alma adquire as disposições morais de alguém que se teria afastado, voluntariamente, do pecado, para aderir a Jesus Cristo.
Nesse sentido, tudo o que o padrinho diz em nome do afilhado se realiza na alma da criança (do mesmo modo que esta havia realmente contraído o estado de alguém que se havia afastado de Deus, sem, todavia, ter cometido pessoalmente o ato do pecado original).
É essa mudança sobrenatural e misteriosa que a Igreja manifesta, ao fazer falar o padrinho em nome do batizado. O novo ritual decai dessa visão profundamente sobrenatural para uma visão bem superficial.
Podeis dar um último exemplo das mudanças trazidas ao Batismo?
No rito tradicional, o sacerdote faz o sinal-da-cruz sobre a testa e sobre o peito da criança, dizendo:
“Recebei o sinal-da-cruz sobre a vossa testa + e em vosso coração +. Acolhei a Fé e seus ensinamentos divinos, e vivei de tal maneira que possais, doravante, ser o templo de Deus”
No novo rito, a cruz só está na testa, e o sacerdote declama:
“N., a comunidade cristã te acolhe com uma grande alegria. Em seu nome, eu te marco com a cruz, que é o sinal de Cristo, nosso Salvador. E vós, seus pais, vós o(a) marcareis, depois de mim, com este mesmo sinal.”
O que manifesta esse último exemplo?
Esse último exemplo manifesta sempre a mesma tendência a enfraquecer a expressão das realidades sobrenaturais que o Sacramento produz na alma, para insistir sobre os aspectos superficiais da cerimônia (aqui: a alegria da comunidade que acolhe um novo membro).
Notas:
[356] Pio XII, Sacramentum ordinis, DS 3857.
[357] Concílio de Trento, 21ª sessão, cap. 2; DS 1728.
[358] Constituição Apostólica, Pontificalis romani, de 18 de junho de 1968. A forma da ordenação sacerdotal e a da sagração episcopal foram modificadas. DC nº 1520 (1968, col. 1165-1169.
[359] O Novo Ordo Missae foi promulgado em 03 de abril de 1969. DC nº 1541 (1969), p. 515-517.
[360] 15 de maio de 1969; AAS, vol. LXI, p.548. – Para o Batismo de adultos: 06 de janeiro de 1972, AAS, vol. LXIV, p.252.
[361] Março de 1969. Ver DC nº 1541 (1969), p.518. Mas um novo ritual do matrimônio foi ainda publicado por João Paulo II em 1990.
[362] Constituição Apostólica Divinae consortium naturae, de 15 de agosto de 1971, DC nº 1594 (1971), p.852-855; decreto de 22 de agosto de 1971, AAS, vol. LXIV, p.77.
[363] Constituição Apostólica de 30 de novembro de 1972, DC nº 1625 (1973), p.101-102; decreto de 07 de dezembro de 1972, AAS, vol. LXV, p.275.
[364] Decreto de 02 de dezembro de 1973, AAS, vol. LXVI, p.172.
[365] Constituição Apostólica Laudis canticum de 01 de novembro de 1970; decreto de 11 de abril de 1971, AAS, vol. LXIII, p.712.
[366] Motu Proprio Mysterii paschalis de 14 de fevereiro de 1969, DC nº 1541 (1969), p.519-520.
[367] Decreto de 03 de dezembro de 1970, AAS, vol. LXIII, p.711.
[368] Constituição Apostólica Sacrae disciplinae leges de 25 de janeiro de 1983.
[369] Inaugurada por João Paulo II, em 1991, essa nova Via Sacra conta quinze estações, em vez de catorze, e modificou várias. Foi ainda este que foi utilizado para o Jubileu do ano 2000.
[370] Constituição Apostólica Fidei depositum de 11 de outubro de 1992.
[371] Ver Dc nº2198 (1999), p.159-160.
[372] Publicado em 29 de junho de 2001, esse novo martirológio contém o nome de 6538 Santos e bem-aventurados, dos quais 1717 (quase um terço) foram proclamados como tais pelo próprio João Paulo II.
[373] Encíclica Rosarium Virginis Mariae de 16 de outubro de 2002, DC nº 2280 (2002), p.951-969.
[374] Lançando essa fórmula “Nova Evangelização”, em 03 de março de 1983 (dirigindo-se ao Conselho Episcopal latino-Americano), João Paulo II explicava que devia ser nova não somente em seu ardor; mas também “em seus métodos e em sua expressão” [DC nº 1850 (1983), p.438]. As Jornadas Mundiais da Juventude são uma ilustração típica dessa “nova evangelização”.
[375] Em fins de 1965, o filósofo Etienne Gilson publicou em France catholique um artigo de título provocativo (“Sou cismático?”) no qual colocava em xeque essa falsa tradução. O artigo fez muito barulho; mas nada foi mudado. Gilson retornou ao assunto em 1967: “O novo Símbolo omite-se em afirmar a unicidade da Trindade. Certamente não a nega; mas também não a ensina e, ao impor essa omissão aos fiéis, proíbe-lhes de continuar a professar como sempre fizeram, desde o Concílio de Nicéia. Pois se o Filho é de mesma natureza que o Pai, Ele é Deus como Aquele; mas se não é da mesma substância que o Pai, Ele pode ser um segundo Deus, e em breve o Espírito Santo será um terceiro (...) Para [o judaísmo e o islã], o Cristianismo é um politeísmo. O cristão podia até aqui responder que não, já que as três Pessoas Divinas são apenas um só e mesmo Deus. Não o pode mais, se for francês, pois se as Pessoas só tiverem em comum a natureza, não a substância ou o ser, cada uma delas seria um Deus como as Outras duas. Do mesmo modo que um pai e seu filho são dois homens de mesma natureza, o Pai e o Filho seriam dois deuses (...) O objeto do Símbolo não é o de fazer compreender o Mistério, é o de defini-Lo. Ora, não se define, dizendo que o Filho é de mesma natureza que o Pai, pois isso é verdade para todos os filhos. O que seria um mistério insondável seria que um filho não fosse de mesma natureza que o seu pai. Ao afirmar que o são, não se diz absolutamente nada, senão uma verdade da mesma ordem daquelas tornaram célebre o nome de Monsieur de La Palisse” (Etienne Gilson, La société de masse et as culture, Paris, Vrin, 1967, p.128-129)
[376] Diferentemente dos Sacramentos (instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo), os sacramentais foram instituídos pela Igreja. Não causam, eles mesmos, diretamente a Graça; mas favorecem a recepção Desta.
[377] Para o que é da Santa Eucaristia (atacada pela Comunhão na mão, pela redução dos sinais de adoração, pela diminuição do jejum eucarístico, etc.), ver o capítulo deste catecismo sobre a Missa Nova.
[378] Jr 4, 3, citado por Santo Tomás de Aquino, III, q.71, a.2.
[379] Ver sobre o assunto, Le Baptême, por Dom Bernard Maréchaux OSB, disponível nas Editions Du sel. (nota dos editores franceses).
[380] É precisamente o que os inovadores quiseram destruir: Annibale Bugnini se gabou de que “pela primeira vez na história da Liturgia católica” havia-se preparado um rito para o Batismo das crianças que não fosse o modelo abreviado do Batismo dos adultos” [DC nº 1544 (1969), p.676]. Tratava-se de aplicar a Constituição conciliar sobre a Liturgia, que pedia que o rito do Batismo das crianças fosse adaptado “à situação real dos pequeninos” (Sacrosanctum concilium, § 67)
[381] Santo Tomás de Aquino, III, q.71, a.3.
[382] Santo Tomás de Aquino, ibid.
[383] A unção dos catecúmenos (dada antes do Batismo, sobre o peito e entre os ombros, com o óleo dos catecúmenos) é também um rito de combate. O catecúmeno é ungido, como os pugilistas, para estar preparado para a luta contra o demônio (enquanto que a unção feita, sobre a cabeça, depois do Batismo e com o Santo Crisma, exprime a consagração do cristão: cristo = ungido). Ver Santo Tomás de Aquino, III, q.66, a.10, ad.2. – No novo ritual, a unção dos catecúmenos não é mais feita entre os ombros; mas somente sobre o peito.
[384] Fides ex auditu (Rm 10,17).
Catecismo Católico da Crise na Igreja. Pe. Mathias Gaudron.
Notas da imagem:
"Batizado no Espírito", "Oração em Línguas", "O Dom da Profecia", e um "Relacionamento Pessoal com Jesus Cristo" são todas expressões muito em voga e indispensáveis no vocabulário da assim chamada "Renovação Carismática Católica" (RCC) , um movimento cujas origens se deve a um retiro sem nenhum acompanhamento realizado em 1967 por alguns estudantes da Universidade de Duquesne em Pittsburg (USA) . Por volta de 1990, o movimento já contava com cerca de 72 milhões de seguidores no mundo inteiro e organizações oficiais em mais de 120 países.
Um crescimento tão rápido aqui e no exterior, juntamente com o quase completo abandono de práticas e crenças genuinamente católicas, bem como modo de se expressar, tem sido motivo de preocupação para os Católicos já por um bom espaço de tempo. À luz do trigésimo aniversário da RCC ocorrido no ano de 1997, uma análise mais profunda de suas práticas, crenças e ideias vem bem a calhar.
O trecho abaixo tirado da literatura carismática, diz respeito a um dos carro-chefes da RCC, "Batismo no Espírito", uma "Experiência de fé", na qual uma pessoa "libera" as graças recebidas no Batismo, Confirmação e Sagrada Eucaristia e assim experimenta a presença de Deus de um modo profundamente pessoal. Só por aí já podemos antecipar a visão e a compreensão dos Sacramentos mais comuns para os seguidores desse movimento:
"Cada Paróquia possui um certo número de grupos com sua própria visão, propósito e área de serviço. Ninguém se sente incomodado ou perturbado pelos outros movimentos tais como, Grupos do Rosário, Legião de Maria, Sociedade de São Vicente ou qualquer outra organização paroquial – a lista aqui poderia ser bem maior. Portanto, por que toda essa polêmica em torno da Renovação Carismática? A verdade é que a RCC não é apenas uma questão de encontros de oração semanal. O seu coração reside no Batismo no Espírito Santo – uma graça de Deus a qual deveria ser parte da experiência normal de todo cristão – Através desse batismo, todo mundo: clero e leigos, homens e mulheres, jovens e velhos, negros e brancos, ricos e pobres – todos sem distinção, têm a oportunidade de dar o seu sim a Deus. Mas é ainda muito mais do que isso. Ao fazermos nossa adesão pessoal a Jesus Cristo, nós estamos dizendo "sim" à presença poderosa do Espírito Santo e aos seus dons: os carismas. Muitos de nós fracassamos em fazer isso quando iniciamos o processo da Iniciação Cristã. Mas agora todos nós podemos fazê-lo, basta permitirmos que o Espírito Santo transforme-nos desde o mais profundo íntimo do nosso ser, equipando-nos para o serviço à Igreja e ao mundo." (Charles Whitehead- Charismatic Renewal- A Challenge 1993).
As implicações de tal declaração não deveriam deixar perplexo ninguém que tem um mínimo de conhecimento do Catecismo. Do ponto de vista ortodoxo e para dar ao autor o benefício da dúvida, poderíamos considerar tal declaração como uma referência ao Sacramento da Confirmação, o Sacramento pelo qual o Espírito Santo vem até nós de modo particularmente especial para nos transformar em verdadeiros cristãos e perfeitos soldados de Cristo.
Que fosse tal pensamento relativo ao caráter sacramental, poderíamos ainda assim suspeitar de que o que eles pretendem sugerir, seria na verdade, um "oitavo sacramento" necessário para completar os outros sete. Mas muito ao contrário, os carismáticos negam qualquer clara conexão entre o "Batismo no Espírito" e os sacramentos Católicos, uma vez que ritos sacramentais e experiência religiosa são partes complementares da iniciação Cristã básica. E uma vez que esses aspectos da "Iniciação Cristã" são complementares, os Carismáticos não veem nenhum motivo pelo qual não-católicos e até não-cristãos sejam excluídos da oportunidade de experimentar ou receber os tais carismas, aqui se referindo é claro, às extraordinárias manifestações do Espírito Santo, as quais auxiliaram na expansão da Igreja Primitiva e desapareceram pouco tempo depois da Era Apostólica.
De fato, eles sustentam que a natureza complementar das duas partes da "Iniciação Cristã" faz com que ela se torne algo facilmente reversível, ou seja, que uma pessoa não batizada pode experimentar esse "batismo no Espírito" e se tornar ipso facto, um cristão autêntico, precisando dos "ritos sacramentais" meramente para "completar" sua "iniciação cristã". O status dessas pessoas teoricamente seria o mesmo daqueles católicos que tendo recebido os Sacramentos, ainda esperam por uma consciente manifestação das graças invisíveis". É óbvio que muitas pessoas, mesmo os grandes Santos, nunca receberam consolações notáveis em sua Fé e muito menos manifestações extraordinárias do Espírito Santo. Portanto dizer que uma pessoa que experimentou esse "batismo no Espírito" está de tal forma unida a Deus como (ou até mais que) um católico piedoso e batizado que nunca vivenciou tal experiência é claramente um absurdo.
A raiz desse absurdo é o falso entendimento de que uma experiência emocional sempre acompanha a concessão de uma graça - ou que pelo menos faz parte da "liberação da graça". Muito ao contrário, no que diz respeito à graça sacramental, frequentemente a única indicação sensível da concessão da graça é o sinal sacramental por si mesmo.
O Catecismo do Concílio de Trento define um sacramento como "um sinal visível de uma graça invisível, instituído para a nossa justificação". É portanto um sinal, cujo efeito é o que significa. Uma vez que todos os sinais visíveis de todos os sacramentos são completamente objetivos e estabelecidos pela Igreja de acordo com o mandamento ou inspiração de Nosso Senhor Jesus Cristo, os sentimentos pessoais de um indivíduo não tem nada a ver com a conferência da graça pelos sacramentos (naturalmente, desde que não haja nenhuma intenção contrária).
O "Batismo no Espírito Santo", é o componente primário da RCC, e juntamente com a maioria dos demais, reside em falsas concepções sobre a graça, experiência e relacionamento mútuo, como é sustentado por seus seguidores. Os ítens principais da plataforma carismática, juntamente com os falsos princípios nos quais eles se apoiam, serão examinados um por um à luz da Doutrina Católica. Alguns de seus erros como o fenomenalismo, gnosticismo, ecumenismo, protestantismo e antiquarianismo ou arqueologismo, já foram tratados pelo Magistério da Igreja com profundidade. A eclesiologia defeituosa da RCC, bem como erros maiores no tocante à graça, o livre-arbítrio e os sacramentos merecerão um tratamento consideravelmente mais profundo.
Portanto ficará claro que, apesar do entusiasmo dos modernos homens da Igreja por esse movimento, a RCC é fundamentalmente um movimento não-católico irreconciliável com 20 séculos de Magistério Católico. Depois de um breve exame de suas raízes, a inteira árvore será examinada ramo por ramo e todos os seus frutos amargos expostos, levando em consideração o mandamento apostólico: "Examinai tudo: abraçai o que é bom" ( I Tess.5.21).
Referências:
Editora Permanencia. Disponível em: https://permanencia.org.br/drupal/node/2235
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