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As confissões cristãs não católicas pertencem à Igreja de Cristo?

As confissões cristãs não católicas pertencem à Igreja de Cristo?

As confissões cristãs separadas da Igreja Católica são dissidências da Igreja Católica e não lhe pertencem. Mesmo se conservam certas verdades cristãs e, eventualmente, um Batismo válido, permanecem separadas do Corpo Místico de Cristo. Por conseguinte, não poderá ser salvo aquele que, depois de ter reconhecido que a Igreja Católica é a única e verdadeira Igreja de Cristo, não entra Nela; mas permanece em uma comunidade herética ou cismática.

Como se pertence à verdadeira Igreja de Cristo?

O Papa Pio XII ensina em Mystici corporis que três elementos são necessários para pertencer à verdadeira Igreja de Cristo. São o Batismo, a verdadeira Fé e a submissão à autoridade legítima:

“Só são membros da Igreja os que receberam o Batismo de regeneração e professam a verdadeira Fé e que, de outra parte, não se separaram, para sua desgraça, do conjunto do Corpo, ou, que Dela não tenham sido amputados pela autoridade legítima.” [192]

As igrejas cismáticas que guardam os sete Sacramentos e que estão de acordo com a Igreja Católica na maior parte dos pontos de Fé não pertencem então à verdadeira Igreja de Cristo?

As igrejas orientais cismáticas, mesmo se guardam os Sacramentos e estão de acordo com a Igreja Católica na maior parte dos pontos de Fé, não são a verdadeira Igreja de Cristo.

Recusam-se a reconhecer, com efeito, o Primado e a Infalibilidade do Sucessor de Pedro. E Cristo disse que aquele que se recusa a escutar a Igreja é para ser considerado como um pagão e como um pecador público (Mt 18,17).

O que dizer das comunidades heréticas?

Se as comunidades cismáticas não pertencem à única Igreja de Cristo, a fortiori as comunidades heréticas – protestantes, por exemplo -, que se afastam da verdadeira Fé em numerosos pontos.

Essa verdade foi posta em xeque no interior da Igreja?

Essa verdade foi, infelizmente, posta em xeque frequentemente. Em 06 de maio de 1983, a Comissão Mista católico-luterana, reunida em Kloster Kirchberg em Wurtemberg, declarou sobre o heresiarca Lutero:

“Juntos, começa-se a reconhecê-lo como uma testemunha do Evangelho, como um mestre na Fé, como um paladino da renovação espiritual (...)
A tomada em consideração do condicionamento histórico de nossos modos de expressão e de pensamento contribuiu, igualmente, para fazer reconhecer grandemente nos meios católicos o pensamento de Lutero como uma forma legítima da Teologia Cristã (...).” [193]

As confissões não-católicas e as religiões não-cristãs são meios de salvação?

As confissões não-católicas e as religiões não-cristãs não são meios de salvação; mas sim de perdição. Claro, os adeptos das falsas religiões podem se salvar nelas, se, vivendo segundo sua consciência, e, esforçando-se por cumprir a Vontade de Deus tanto quanto a conheçam, recebam de Deus as virtudes teologais; mas apenas Deus sabe quando isso se realiza.

Nós podemos somente dizer que se pode eventualmente se salvar em religiões falsas; ou melhor, apesar delas; mas nunca por elas.

As comunidades não-católicas (protestantes, por exemplo) fornecem a seus membros um certo número de bens úteis à salvação (Batismo, Sagrada Escritura, etc.). Não são nisso um meio de salvação?

Tudo o que se pode achar de verdadeiro e de bom no protestantismo ou no cisma pertence, de direito, à Igreja. Mesmo o decreto conciliar sobre o ecumenismo, Unitatis redintegratio, teve que precisar este ponto, no número 3, por pedido expresso do Papa Paulo VI.

Como foi aceito esse acréscimo imposto pelo Papa?

Adivinha-se, sem dificuldade, que os teólogos liberais não ficaram satisfeitos com isso. Rahner e Vorgrimler comentam assim a coisa:

“Que esses bens pertençam, de direito (jure) à Igreja de Cristo, é uma das dezenove modificações pontifícias acrescentadas em novembro de 1964 a um texto que havia já sido votado, e, que, em razão de sua bitolação, causaram uma impressão mais desfavorável justificada verdadeiramente pelo ensinamento nelas contido. (Fazemos aqui somente alusão às mudanças pela quais os não-católicos foram especialmente desagradados). [194]

Vaticano II retoma, então, a doutrina católica sobre esse ponto?

Esse mesmo nº 3 do decreto Unitatis redintegratio contém, infelizmente, uma monstruosidade, bom exemplo das contradições do Concílio:

“O Espírito de Cristo, com efeito, não se recusa a se servir delas [as igrejas ou comunidades separadas] como meios de salvação.” [195]

Concretamente, não é por sua comunidade herética ou cismática que os cristãos separados da Igreja recebem certos meios de salvação (mesmo se esses meios pertençam, de si, à Igreja Católica)?

As realidades santas indevidamente apropriadas pelas sociedades heréticas ou cismáticas só podem dar a Graça e a salvação na medida que aqueles que as recebem recusem (até implicitamente) a adesão formal a essa heresia ou a esse cisma.

Dito de outro modo: na medida que, pela intenção profunda de sua vontade, escapem a essas sociedades. Longe de serem “meios de salvação”, essas sociedades, por si mesmas, tornam estéril tudo o que usurparam, mesmo os Sacramentos (que são, entretanto, em si, os meios de salvação por excelência).

As comunidades separadas da Igreja e as religiões não-cristãs não podem então ser meios ordinários de salvação?

Não apenas as falsas religiões não são meios de salvação ordinários; mas não são nem mesmo meios extraordinários. São apenas obstáculos à salvação. [196]

Se alguns de seus membros estão em estado de graça; é unicamente porque estão na ignorância e porque não são culpados de sua separação do Corpo da Igreja.

Segundo o ensinamento tradicional, podem pertencer à Alma da Igreja. Mas a esta pertencem individualmente e não por suas comunidades. Por si mesmas, estas, longe de conduzirem à Igreja Católica, Dela afastam. Não são desejadas por Deus.

O que se deve pensar do raciocínio que afirma que as comunidades separadas são meios de salvação, por causa dos elementos de santificação de que são portadoras?

Esse raciocínio é um sofisma porque se baseia sobre algo acontece per accidens (por acidente), em razão das disposições pessoais de tal ou tal membro dessas comunidades, e disso pretende tirar uma conclusão sobre o valor próprio (per se) dessas sociedades.

Com o mesmo gênero de raciocínio, poder-se-ia dizer que Judas é um santo e que cumpriu um ato eminentemente meritório, ao entregar a Cristo, já que ele assim permitiu a Redenção do gênero humano!

O que se deve pensar das apreciações positivas que o Concílio Vaticano II trouxe sobre o hinduísmo, o budismo, o islã, e o judaísmo em seu texto Nostra aetate (declaração sobre as religiões não cristãs)?

A declaração conciliar Nostra aetate é voluntariamente parcial. Seu redator oficial declarou publicamente que ela tinha por princípio não dizer a verdade inteira sobre essas religiões; mas mencionar somente o que as pudesse aproximar do Cristianismo. [197]

Essa parcialidade voluntária é tão simplesmente uma traição para com Nosso Senhor Jesus Cristo.

A declaração Nostra aetate não se redime afirmando, ao lado, que a Igreja “tem obrigação de anunciar a Cristo, sem cessar, que é “o caminho, a Verdade e a Vida.” (Jo 14,6) no qual os homens devem encontrar a plenitude da vida religiosa e no qual Deus se reconciliou com todas as coisas” (NA 2)?

Nosso Senhor Jesus Cristo não traz apenas a “plenitude” da vida religiosa; Ele é o único Mediador entre Deus e o homem (1Tm2,5), o único embaixador acreditado junto a Deus, e que intercede, sem cessar, por nós (Hb 7,25).

“Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus seja o Cristo? Eis aí o Anticristo ! Ele nega o Pai e o Filho. Quem quer que negue o Filho não possui também o Pai” (1Jo 2,22-23).
“Nenhum outro nome foi dado sob o céu pelo qual se possa ser salvo” (At 4,12).

Toda religião que recusa essa Mediação é intrinsecamente má. É contraditório pretender anunciar o Cristo, louvando (mesmo que parcialmente) as religiões que se opõem a Ele.

Essas religiões não contém, apesar de tudo, bons elementos?

Mesmo na ordem material, um bolo é julgado bom ou ruim não apenas em função dos elementos que contém; mas enquanto um todo. A má repartição dos ingredientes, em si excelentes, pode bastar para estragar o conjunto. A introdução de um só bem comestível avariado pode fazer mais mal ainda. E o acréscimo de algumas gotas de veneno arrisca de pesar mais sobre o efeito final do que muito boa manteiga, muito boa farinha e muito bom chocolate.

A fortiori, na ordem espiritual. Uma religião não é somente uma aglomeração material de elementos. Forma um todo (igual a um sistema científico ou filosófico, uma demonstração, etc.). Esse todo é bom ou mau, verdadeiro ou falso, enquanto um todo. E se é mau enquanto um todo, pouco importam os bons elementos.

Não se pode, apesar de tudo, sublinhar as parcelas de verdade que essas religiões contêm?

Todo sistema errôneo contém parcelas de verdade. Uma idiotice evidente não teria adeptos. Mas essas verdades parciais estão reduzidas à escravidão pelo sistema falso que se apropriou delas (e que utiliza em proveito seu a sua verossimilhança e a sua força de sedução).

Ademais, essas verdades estão, elas mesmas falsificadas, porque ligadas a erros que lhes deformam as perspectivas.

Podeis dar um exemplo?

O islã se apresenta como uma religião monoteísta. Esse aspecto justo e razoável (roubado da verdadeira Religião) compõe uma grande parte de sua força. Mas esse monoteísmo é ferozmente antitrinitário. Verdadeiro em si, é falsificado pelo sistema de erro de que é escravo.

Não há, porém, graus no erro? E não se pode dizer que uma religião que, apesar de falsa, reconhece a existência de um Deus único e impõe uma certa moral, vale mais do que o ateísmo declarado e o amoralismo absoluto?

Há graus no erro; mas, paradoxalmente, pode-se dizer que um sistema que retém mais elementos de verdade é mais perigoso do que um outro que retenha menos.

Uma cadeira com três pés, que fica de pé, é mais perigosa do que uma cadeira com dois pés sobre que ninguém tem a ideia de se sentar. Um cheque falso muito bem imitado é mais perigoso do que um outro facilmente reconhecível.

Podeis dar um exemplo?

Escreveu-se muito justamente:

“O islã é a religião que, havendo tido conhecimento de Cristo, recusou-se a reconhecê-Lo como Deus. Se é verdade que a pior forma de mentira é a que, aparentemente, contradiz menos a verdade, a mentira que consiste em dizer de Cristo todo o bem possível, exceto que é Deus, é a mais ameaçadora de todas” [198]

De fato, os missionários sempre tiveram muito mais dificuldade de converter os muçulmanos do que os animistas.

O que se deve pensar do raciocínio que afirma que Deus opera nas religiões não-cristãs, já que se pode, nelas, encontrar algum bem, e o bem só pode vir de Deus?

Esse raciocínio é um sofisma que repousa sobre a confusão entre a ordem natural e a sobrenatural. Pois é evidente que, quando se fala de uma ação de Deus numa religião, entende-se uma obra de salvação. Isto é, Deus, que salva por Sua Graça – Sua Graça sobrenatural.

Enquanto que o bem que se pode achar nas outras religiões (pelo menos nas não-cristãs), é somente um bem natural. Deus age, então, enquanto Criador, que dá o ser a toda coisa, e não enquanto Salvador.

A vontade do Concílio Vaticano II de atropelar a distinção entre a ordem da Graça e a ordem natural traz aqui seus frutos mais desastrosos. Chega-se a pensar que qualquer religião pode obter os maiores bens do Bom Deus. É uma imensa enganação.

Notas:

[192] Pio XII, encíclica Mystici corporis, 29.06.1943, Documents pontificaux de Pie XII, t.V, ano de 1943, Saint-Maurice, Suíça, Ed. Saint Augustin, 1962,p.163-164.

[193] DC nº1855 (1983), p.694-695.

[194] K.Rahner et H. Vorgrimler, Kleines Konzilskompendium. Sämlichte Texte des Zweiten Vatikanums, Fribourg, Herder, 1986, p.220.

[195] Vaticano II, Unitatis redintegratio, §3.

[196] O cardeal Joseph Ratzinger, em seus Entretiens sur La foi com Vittorio Messori (Paris, Fayard, 1985, p.247) contesta a ideia de que as religiões não-cristãs possam ser meios ordinários de salvação. Mas admite que sejam meios extraordinários.

[197] Acta Synodalia Sacrosanti Concilii Oecumenici Vaticani II, volumen IV, periodus quarta, pars IV (Typis polyglottis Vaticanis 1977), p.698 (resposta ao segundo modus) e p. 706 (resposta ao modus 57) – Sobre esse “princípio de parcialidade”, ver Sel de La terre nº 58, p.10-11.

[198] Joseph Hours, “La conscience chrétienne devant l’islam”, Itinéraires nº 60, p.121.

Catecismo Católico da Crise na Igreja. Pe. Mathias Gaudron.

Notas da imagem:

Papa Francisco recebe em audiência geral, uma delegação de muçulmanos italianos que o convidou oficialmente a visitar a Mesquita de Roma, o maior local de culto islâmico da Europa. Isso foi relatado pela Sala de Imprensa do Vaticano. [1]

Referências: 

[1] ACI Digital. 20-01-2016. Disponível em:  https://www.acistampa.com/story/il-papa-invitato-ufficialmente-a-visitare-la-moschea-di-roma-2450

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