As religiões não-cristãs honram o verdadeiro Deus?
As religiões não-cristãs não honram o verdadeiro Deus. O verdadeiro Deus é, com efeito, o Deus trinitário que se revelou no Antigo Testamento e, sobretudo, no Novo Testamento, pelo Seu Filho Jesus Cristo.
“Aquele que nega o Filho não tem o Pai” (1Jo 2,23).
“Ninguém vem ao Pai, se não for por Mim” (Jo 14,6).
Não se pode dizer que os judeus e os muçulmanos têm uma ideia certa, mas incompleta de Deus, e, que, por conseguinte, honram o verdadeiro Deus?
Os judeus do Antigo Testamento estavam nesse caso. A eles, a Santíssima Trindade não havia ainda sido revelada. Nela não criam explicitamente; mas também não a rejeitavam.
Hoje, os maometanos e os judeus negam expressamente a Santíssima Trindade revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Rezam para um Deus que seria só uma Pessoa solitária. Mas um tal Deus não existe.
Os judeus e os muçulmanos entendem, entretanto, honrar o único Deus que existe; o que criou os céus e a terra; o que se revelou a Abraão, Isaac e Jacó. Assim procedendo, não se dirigem ao verdadeiro Deus?
Os não-cristãos podem ter um certo conhecimento natural de Deus enquanto autor da natureza, e mesmo, enquanto autor de algumas revelações (a Abraão, Isaac, Jacó, etc) às quais eles aderem com uma fé puramente humana. Mas esse conhecimento puramente natural deixa-os como estranhos a Deus.
Somente a Fé sobrenatural faz penetrar na intimidade divina e permite ter relacionamentos familiares com Ele.
O Papa Gregório VII não escreveu, no século XI, a um rei muçulmano que cristãos e muçulmanos têm o mesmo Deus?
O Papa São Gregório VII escreveu, efetivamente, numa carta ao rei Anzir [208]:
“(...) Nós e vós que, mesmo de uma maneira diferente, cremos e confessamos um só Deus; que, cada dia, louvamo-No e veneramo-Lo como Criador dos séculos e governante deste mundo (...) [209]”
O que significa precisamente esse texto?
Essa frase do Papa Gregório VII significa isto: cristãos e muçulmanos creem, confessam, louvam e veneram um só Deus; mas, no caso dos cristãos, essa fé e esse amor são virtudes sobrenaturais, que os fazem aderir a Deus; enquanto que, para os muçulmanos, trata-se de uma virtude de religião natural, que os deixa como exteriores a Deus [210].
Pode-se, pois, dizer, em um sentido, que só os cristãos têm ou atingem o verdadeiro Deus, e que só eles O honram verdadeiramente, pois só eles estão em relação íntima com Ele.
Uma pessoa que reza, fundando-se sobre um conhecimento simplesmente natural de Deus, não pratica uma boa ação?
Uma tal oração seria, em si, uma boa ação (embora sem valor sobrenatural), se não estivesse misturada com erros ou com ritos supersticiosos, que, longe de honrar a Deus, injuriam-No.
O muçulmano que, várias vezes por dia, afirma que Deus não é engendrado e não engendra, blasfema o Deus a que crê honrar. Pode, eventualmente, estar escusado dessa blasfêmia por sua ignorância invencível; igual àquele que se entrega a um falso culto; de fato, não é um ato de religião que é cumprido; mas de superstição.
Essas verdades fundamentais foram colocadas em xeque desde Vaticano II?
Quando do retiro que o Cardeal Wojtyla, futuro João Paulo II, pregou, em 1976, diante do Papa Paulo VI, aquele desenvolveu uma concepção absolutamente modernista da Fé e, ainda, a tese segundo a qual todos os homens, de qualquer religião, oram para o verdadeiro Deus.
Podeis citar essas proposições modernistas do Cardeal Wojtyla?
O Cardeal Wojtyla declarou:
“O itinerário espiritual leva a Deus a partir das profundezas da criatura e do homem. A mentalidade contemporânea encontra nessa via um ponto de apoio para a experimentação e para a evidenciação da transcendência humana.” [211]
Em que essas proposições são modernistas?
Essas proposições são modernistas, porque a Fé não é mais a resposta à Revelação Divina; mas uma procura de Deus, vindo das profundezas do homem. [212
O que diz o Cardeal Wojtyla da oração das falsas religiões?
Um pouco mais adiante, o Cardeal Wojtyla afirma:
“O trapista ou o cartuxo confessam esse Deus por toda uma vida de silêncio. É, em direção a Ele, que se vira o beduíno peregrino no deserto, quando vem a hora da oração. E aquele monge budista se concentra em Sua contemplação, que purifica seu pensamento, orientando-o em direção ao Nirvana. Porém, será somente em direção ao Nirvana? Deus, absolutamente transcendente, ultrapassando absolutamente todo o criado, visível e tangível.” [213]
Que se pode dizer dessas afirmações?
Essa maneira de pensar é completamente estranha à Sagrada Escritura. O Antigo Testamento está cheio da cólera de Deus contra as falsas religiões; o povo eleito é frequentemente punido por venerar falsos deuses.
Encontra-se essa mesma visão das coisas no Novo Testamento?
São Paulo escreveu um fórmula lapidar:
“O que os pagãos sacrificam; oferecem aos demônios e não a Deus” (1Cor 10,20).
Então, um não-cristão não pode honrar ao verdadeiro Deus?
Deus é certamente atento às boas disposições que possam ter judeus, muçulmanos ou pagãos quando se dispõem a rezar. É mesmo possível que, movidos pela Graça, alguns dentre eles honrem, realmente, ao verdadeiro Deus em seu coração; mas isso se dá, apesar das falsas ideias que lhes dá sua falsa religião.
A falsa religião, ela, não se dirige ao verdadeiro Deus; mas a uma ilusão. De si, ela não conduz seus adeptos a Deus; mas os afasta Dele.
O que se deve pensar da tese do “Cristianismo anônimo”?
Para Karl Rahner, as religiões não-cristãs são um Cristianismo anônimo. São vias de salvação “pelas quais os homens se aproximam de Deus e de Seu Cristo” [214]. Claro, não professam a Fé em Cristo como os cristãos; mas a procuram. Essa opinião é totalmente falsa.
As religiões não-cristãs, ao contrário, impedem, aos homens, de crer em Cristo e de se fazerem batizar. Quando o islã professa que é uma blasfêmia dizer que Deus tem um Filho, impede seus adeptos de aderir à verdadeira Fé.
Os Padres da Igreja não reconheceram que as religiões pagãs continham “sementes do Verbo”?
É o que João Paulo II afirma, depois de Vaticano II [215]. Mas, os Padres da Igreja nada disso reconheceram. Os textos de São Justino e de Clemente de Alexandria que são invocados naquele sentido não falam, na realidade, de nenhum modo, das religiões pagãs; mas de filósofos e de poetas. E São Justino precisa bem que essa “semente” espalhada em toda a humanidade é a da razão natural, que ele distingue, cuidadosamente, da Graça sobrenatural. [216]
Não há, então, cristãos anônimos?
Pode-se, no limite, chamar de cristãos anônimos os que, apesar das falsas doutrinas de sua religião, estão interiormente dispostos, por uma Graça especial de Deus, a receber tudo o que Deus tenha revelado. Mas é melhor empregar a expressão tradicional de “Batismo de desejo implícito”.
Notas:
[208] Esse príncipe beduíno (En Nacir Ibn Alennas) reinou sobre a antiga província romana da Mauritânia sitífica de 1062 a 1088. Gregório VII podia considerá-lo como influenciado pelo Cristianismo de seus ancestrais, e mesmo cripto-cristão, pois havia enviado presentes ao Papa, havia lhe pedido para sagrar um Bispo e havia libertado prisioneiros cristãos, como o explica o começo da carta. A carta do Papa Gregório VII podia, pois, ter por fim sondar melhor o pensamento do rei, o que explicaria sua linguagem inabitual (é a única carta do gênero anterior a Vaticano II)
[209] “(...) Nos et vos(...) qui unum Deum, licet diverso modo, credimur et confitemur, qui eum creatorem huius mundi quotidie laudamus et veneramur(...)”
[210] A menos que tenham recebido o Batismo de desejo, caso, no qual não agem mais enquanto muçulmanos; mas enquanto cristãos.
[211] Cardeal Karol Wojtyla, O sinal de contradição, Paris, Fayard, 1979, p.30.
[212] Ver pergunta nº 11 do presente catecismo.
[213] Cardeal Karol Wojtyla, Le signe de contradiction - O sinal de contradição, Paris, Fayard, 1979, p.31.
[214] Karl Rahner, Schriften zur Theologie, t.3, Einsiedeln, 1978, p.350.
[215] João Paulo II escreve na sua primeira encíclica, Redemptor homines, de 04 de março de 1979: “A justo título, os Padres da Igreja viam nas diversas religiões como que vários reflexos de uma única verdade, como “sementes do Verbo” (...)” Refere-se em nota a São Justino e a Clemente de Alexandria; mas, sobretudo, aos textos de Vaticano II que lançaram essa ideia: Ad gentes, n§11 e Lumen Gentium § 17.
[216] Para maiores detalhes, ver Le Sel de La terre nº38, p.1-4. (nota dos editores franceses).
Catecismo Católico da Crise na Igreja. Pe. Mathias Gaudron.
Notas da imagem:
No site da RCC de Pernambuco possui uma nota sobre a renovação carismática católica:
A Renovação Carismática é uma "corrente de graça para a Igreja". No documento de Malines, vocês têm um guia, um percurso seguro para a estrada certa. O primeiro documento é o seguinte: Orientação teológica e pastoral. O segundo é: Renovação Carismática e Ecumenismo, escrito pelo Cardeal Suenens, o grande protagonista do Concílio Vaticano II. O terceiro é: Renovação Carismática e serviço ao homem, escrito pelo Cardeal Suenens e Bispo Dom Helder Câmara. Este é vosso percurso: a evangelização, o ecumenismo espiritual, cuidado com os pobres e necessitados e o acolhimento dos marginalizados. E tudo isso com base na adoração! O fundamento da Renovação é adorar a Deus! [1]
O Papa Paulo VI publicou um discurso no encerramento do Concílio Vaticano II, revelando o que seria a doutrina deste concílio:
“Ainda há um outro ponto que Nós devemos destacar: toda esta riqueza doutrinária [do Concílio Vaticano II] visa somente uma coisa: servir o homem. (...)
Tudo isto, e tudo aquilo que Nós podemos ainda dizer do valor humano do Concílio [Vaticano II], talvez tenha desviado o pensamento da Igreja do Concílio em direção de posicionamentos antropocêntricos, tomados da cultura Moderna? Não, a Igreja não se desviou, mas Ela se voltou em direção ao homem. (...)
A mentalidade moderna, habituada a julgar todas as coisas pelo seu valor, pela sua utilidade, quereria bem admitir que o valor do Concílio é grande pelo menos por esta razão: tudo foi orientado para a utilidade do homem! Portanto, não se declare mais inútil uma religião, como a religião Católica que, na sua forma, a mais consistente e eficaz, como esta do Concílio, proclama que Ela está toda inteira a serviço do homem. Neste Concílio [Vaticano II] a Igreja quase se fez escrava da humanidade (...)
Humanistas do século XX, reconhecei que também Nós temos o culto do Homem".
(Papa Paulo VI, Discurso de Encerramento do Concílio Vaticano II) [2]
Referências:
[1] Renovação Carismática Católica de Pernambuco. Disponível em: https://www.rccpe.com.br/noticias/noticias-do-movimento/a-renovacao-carismatica-e-uma-corrente-de-graca-para-a-igreja
[2] Paulo VI, Discurso de Encerramento do Concílio Vaticano II, em 7 de Dezembro de 1965.
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