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Como o Vaticano II foi influenciado por ideias de outras seitas?

Como o Vaticano II foi influenciado por ideias de outras seitas?

Sob a presidência do Cardeal Bea, o Secretariado para a Unidade preparou o Concílio perguntando aos não-católicos o que esperavam da Igreja. Estabeleceu contatos com os ortodoxos, os protestantes, os judeus, os comunistas e os maçons, e comprometeu-se mesmo a que alguns de seus ficassem satisfeitos.

Quais foram as exigências dos ortodoxos e dos comunistas?

Para obter a presença de observadores ortodoxos no Concílio, João XXIII se comprometeu à não-condenação do Comunismo pelo Concílio. Mons. Roche, amigo e confidente do Cardeal Tisserant, testemunha:

“O Cardeal Tisserant recebeu ordens formais tanto para negociar o acordo como para supervisionar sua exata execução durante o Concílio. Foi assim que, a cada vez que um Bispo queria abordar a questão do Comunismo, o Cardeal, de sua mesa do Conselho de Presidência, intervinha”. [71]

Quais foram os pedidos dos judeus?

No número 1001 de Tribune Juive (de 25 a 31 de dezembro de 1987), Lazare Landau conta:

“Numa noite brumosa e glacial do inverno de 1962-63, atendi a um convite extraordinário no Centro comunitário da Paz, em Estrasburgo. Os dirigentes judeus recebiam, em segredo, no sub-solo, um enviado do Papa. Na saída do chabath, éramos uma dezena para acolher um dominicano de vestimenta branca, o reverendo padre Yves Congar, encarregado pelo cardeal Bea, em nome de João XXIII, de nos perguntar, no ínício do Concílio, o que esperávamos da Igreja Católica (...).
Os judeus, mantidos há vinte séculos à margem da sociedade cristã, frequentemente tratados como subalternos, inimigos e deicidas, pediam sua completa reabilitação. Provindos, em linhagem direita, do tronco abrâmico, de onde saiu o Cristianismo, pediam para serem considerados como irmãos, parceiros de igual dignidade, da Igreja cristã (...)
O mensageiro branco – despojado de qualquer símbolo ou ornamento – retornou a Roma, portador das inumeráveis solicitações que reforçavam as nossas. Depois de debates difíceis (...), o Concílio fez jus a nossas expectativas. A declaração Nostra Aetate nº 4 constituiu – Pe. Congar e os três redatores do texto me confirmaram – uma verdadeira revolução na doutrina da Igreja sobre os judeus(...).
Homilias e catecismos mudariam em poucos anos (...). Desde a visita secreta do Pe. Congar, num lugar escondido da sinagoga, durante uma noite muito fria de inverno, a doutrina da Igreja havia conhecido uma total mutação.” [72]

Quais foram os pedidos dos protestantes e dos maçons?

Em setembro de 1961, o Cardeal Bea encontrou, secretamente, em Milão, o pastor Willem A. Visser’t Hooft, secretário-geral do Conselho Ecumênico de igrejas (organismo de origem protestante, de tendência maçônica).

A liberdade religiosa foi um dos temas mais importantes do encontro. Mais tarde, em 22 de julho de 1965, na véspera da última sessão conciliar, o mesmo Conselho Ecumênico de igrejas publicou a lista de suas sete exigências fundamentais em matéria de liberdade religiosa. Todas foram satisfeitas pelo Concílio, no documento Dignitatis Humanae. [73]

Que conclusões se podem tirar dessa política de abertura levada a cabo pelo Concílio Vaticano II?

Percebe-se, claramente, que Vaticano II não foi um Concílio como os outros. Os textos que promulgou, frutos de um “diálogo” com o mundo, são mais textos diplomáticos ou “publicitários” (destinados a dar uma boa imagem à Igreja) do que textos magisteriais (ensinando com autoridade e precisão Verdades de Fé). Nenhum dos textos conciliares é, de si, infalível.

Notas:

[71] Itinéraires nº 285, p.157. Sobre esse acordo, ver também: France nouvelle (hebdomadário do Partido Comunista francês) nº 900, 16-22 de janeiro de 1963, p.15; La Croix, 15 de fevereiro de 1963, p.5; Itinéraires nº280, p.1-15; P. Floridi, S.J, Moscou et Vatican, Paris, FranceEmpire, 1979, p. 142-148; etc.

[72] Ver também, sobre o assunto, Le Sel de La Terre nº 34, p. 196-217 (e, notadamente, o relato da visita secreta que o Cardeal Bea fez ao Comitê judaico americano, em Nova Iorque, em 31 de março de 1963) (nota dos editores franceses).

[73] “Durante a última sessão conciliar, o Bispo de Mônaco, Mons. Rupp, num discurso que foi muito escutado, pediu que o Concílio se contentasse tomar, por sua conta, essas sete exigências e que as confirmasse com sua própria autoridade (...) Na realidade, o Concílio fez mais. Não somente as fez suas, em termos equivalentes, essas sete exigências, mas as fundou solidamente (...)” Mons. Willebrands, em Vatican II – La liberte religieuse, coleção Unam Sanctam, Paris, Cerf, 1967, pp.241-242

Catecismo Católico da Crise na Igreja. Pe. Mathias Gaudron.

Notas da imagem:

Monsenhor Marcel Lefebvre e outros bispos participando do Coetus Internationalis Patrum. Foi um grupo de estudo e trabalho, que reunia alguns dos participantes do Concílio Vaticano II com o fim de frear as influências progressistas no Concílio.

Entre os bispos e cardeais que fizeram parte estão: Giuseppe Siri, arcebispo de Gênova; Alfredo Ottaviani, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; Arcadio Maria Larraona Saralegui C.M.F., Penitenciário-Mor; Ernesto Ruffini, arcebispo de Palermo; Michael Browne O.P, Cardeal Diácono de São Paulo em Regola; Antonio Bacci, latinista-mor da Santa Sé; Benedetto Aloisi Masella arcipreste da Arquibasílica de São João de Latrão e prefeito da Congregação para a Disciplina dos Sacramentos; Monsenhor Marcel Lefebvre bispo de Tulle e Superior-Geral dos Espiritanos; Casimiro Morcillo González, arcebispo de Madri; Joseph Marie Anthony Cordeiro, arcebispo de Karachi no Paquistão; José Maurício da Rocha, bispo de Bragança Paulista, Brasil; António de Castro Mayer, bispo de Campos, Brasil; assim como 250 outros prelados participantes no Concílio.

Muitos padres também aderiram ao grupo, como o perito Cándido Pozo S.J. Este grupo formou-se em reação contra as influências progressistas manifestadas no Concílio. Como membro das Comissões preparatórias do Concílio Vaticano II, Mons. Lefebvre colaborou na elaboração de assuntos sujeitos à discussão dos padres conciliares. Depois da primeira sessão do Concílio, de Outubro a Dezembro de 1962, alguns prelados ficaram inquietados perante a orientação progressista que tomavam as discussões dos assuntos apresentados.

Esses prelados reuniram-se e criaram um grupo de estudo, para estudarem as propostas conciliares, sendo auxiliados por alguns teólogos de renome. Esse grupo ficou conhecido por Coetus Internationalis Patrum (Grupo Internacional de Padres do Concílio) e foi instituído ex officio em outubro de 1964.

O Coetus Internationalis Patrum analisou numerosos textos propostos para discussão aos padres conciliares. Um dos mais importantes foi sobre a Colegialidade Episcopal, que poderia por em causa o Primado Pontifício. O grupo opôs-se à inversão dos fins do matrimônio (tradicionalmente, o fim primeiro era os filhos e depois o amor conjugal: certos progressistas desejavam inverter estes dois fins); trabalhou para modificar o projeto da Declaração sobre a Liberdade Religiosa, dando-lhe um sentido mais tradicional; desejava o estabelecimento de um documento específico sobre a Virgem Maria e o seu lugar na Igreja, e não apenas o cap. 8 da Constituição Dogmática Lumen Gentium; era favorável à proclamação de Maria, de medianeira de qualquer graça e co-redentora como dogma.

No Brasil, existe um livro publicado sobre a participação de bispos brasileiros no Coetus: CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Os baluartes da tradição: o conservadorismo católico brasileiro no Concílio Vaticano II. Curitiba: CRV, 2011.

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