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Não teria sido possível continuar a caminhar com Roma?

Não teria sido possível continuar a caminhar com Roma?

O simples bom senso indica – e a experiência confirma – que é, atualmente, impossível viver plenamente e defender a Fé Católica, sendo, ao mesmo tempo, aprovado pela Roma Conciliar [430].

Depois das sagrações episcopais de 1988, Roma concedeu a celebração da antiga Liturgia a algumas comunidades; mas estas devem, em contrapartida, reconhecer a Missa Nova como um rito plenamente legítimo e abster-se de qualquer crítica em relação a Vaticano II.

É-lhes preciso aceitar, em particular (ou, ao menos, não criticar) a liberdade religiosa e o ecumenismo. Um tal silêncio constitui, em si, uma cumplicidade culpável.

Quais são essas comunidades que obtiveram a Liturgia tradicional em troca de seu silêncio sobre os erros de Vaticano II?

As comunidades que obtiveram a Liturgia tradicional em troca de seu silêncio sobre os erros de Vaticano II são, em particular:

  • a Fraternidade São Pedro (nascida de uma cisão da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, em 1988),
  • o Instituto Cristo-Rei (fundado pelo padre Wach em Gricigliano, perto de Florença);
  • o Mosteiro beneditino do Barroux (cooptado desde 1988);
  • a Fraternidade São Vicente Ferrer, em Chéméré (bruscamente saída do sedevacantismo à cooptação conciliar no momento em que Monsenhor Lefebvre conduzia tratativas com Roma em 1987);
  • o Instituto de Opus Mariae (padre Wladimir); as dominicanas professoras do ramo de Pontcallec (fundado pelo padre Berto) e, enfim, mais recentemente,
  • a Administração Apostólica São João Maria Vianney, em Campos dos Goytacazes, no Brasil (dirigida por Monsenhor Rifan, e cooptada desde 2002).

Essas comunidades são geralmente designadas com o nome global de “comunidades Ecclesia Dei”.

Por que todas essas comunidades levam o nome genérico de “comunidades Ecclesia Dei”?

Essas comunidades levam o nome genérico de “Comunidades Ecclesia Dei”, pois a maior parte delas dependem da Comissão de mesmo nome, criada em Roma, quando das sagrações episcopais de 1988, para recuperar os desertores da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

O que manifesta esse nome “Ecclesia Dei”?

As palavras “Ecclesia Dei” constituem o título do documento que excomungou Monsenhor Lefebvre: pode-se, pois, dizer que todas essas comunidades foram estabelecidas em cima dessa excomunhão e beneficiam-se assim – mesmo que o neguem - do ato heróico de Monsenhor Lefebvre em 30 de junho de 1988.

Se o fundador de Écône não tivesse, primeiro, anunciado (29 de maio de 1987) e depois efetuado (30 de junho de 1988) essas sagrações episcopais, a Roma Conciliar nunca teria outorgado a Liturgia tradicional a todas essas comunidades.

Por que a Roma Conciliar ficou tão incomodada com as sagrações?

A Roma Conciliar ficou muito incomodada com essas sagrações episcopais porque garantiam a sobrevivência da Tradição.

Podia-se pensar, até então, que a reação tradicionalista se extinguiria por si mesma quando não tivesse mais Bispo para ordenar seus sacerdotes.

Monsenhor Lefebvre estando já idoso, era apenas uma questão de tempo – e toda a estratégia da Roma Conciliar consistia em tentar ganhar esse tempo.

As sagrações de 1988 inverteram a relação de força.

Apesar de terem abandonado Monsenhor Lefebvre, as comunidades Ecclesia Dei tiveram proveito daquelas.

Roma lhes outorgou a Liturgia tradicional para separá-las de Monsenhor Lefebvre.

As comunidades Ecclesia Dei reconhecem que devem sua prosperidade às sagrações de 1988?

Sendo toleradas apenas na medida em que se separaram ostensivamente dele, as comunidades Ecclesia Dei evitam, geralmente, reconhecer o que devem a Monsenhor Lefebvre.

Alguns leigos, todavia, têm uma maior liberdade de palavra.

Em 2006, o diretor do Remnant – jornal do círculo Ecclesia Dei nos Estados Unidos – publicamente reconheceu que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X era como o contrapeso que permitia às comunidades Ecclesia Dei existirem e desenvolverem-se.

Por conseguinte, e muito logicamente, declarava não torcer, naquele momento, por um acordo entre a Roma Conciliar e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, pois esse deslocamento do contrapeso arriscaria enfraquecer todo o movimento tradicionalista.

Todas essas considerações não são por demais humanas?

É o próprio ao Vaticano II ter substituído a afirmação corajosa da Fé Católica pela tática, pela diplomacia e pelo diálogo (os textos sobre a liberdade religiosa e sobre o ecumenismo são disso a mais clara manifestação).

Ao contrário, Monsenhor Lefebvre sempre foi conduzido por considerações de Fé. Só procedeu às sagrações de 1988 para continuar a transmitir a Fé e os Sacramentos católicos.

Sempre guardando essa mesma perspectiva, não é proibido constatar que a Fé do fundador de Ecône – que recusava se enfronhar nas astúcias humanas – revelou-se, finalmente, muito mais hábil do que todas as manobras dos diplomatas do Vaticano.

As sagrações episcopais de 1988 podem ser, pois, consideradas como uma grande vitória da Tradição católica?

Sim, as sagrações episcopais de 1988 constituem uma grande vitória da Igreja.

Salvaram a Missa tradicional. O progresso lento, mas real, desta, no seio da Igreja é incontestavelmente um fruto seu.

Se, pois, a vitória foi conseguida, o que impede, hoje, de se reconciliar com as autoridades romanas?

As sagrações de 1988 contribuíram para salvar a Tradição católica não somente, ao assegurar a transmissão do Sacramento da Ordem – e, pois, da Missa e dos Sacramentos tradicionais – mas também, ao proteger dos erros conciliares uma pequena parte do rebanho da Igreja.

Ora, esses erros conciliares continuam a arruinar a Igreja, e reinam em Roma mesma.

Para continuar a se proteger eficazmente, é então necessário manter as necessárias distâncias das autoridades romanas. A vitória definitiva ainda está por vir.

Não se poderia continuar a resistir aos erros conciliares sem, todavia, permanecer assim afastado das autoridades legítimas da Igreja?

Em tempo de epidemia, a mais elementar prudência exige separar rigorosamente os doentes dos saudáveis. Uma certa comunicação permanece indispensável (para curar esses doentes); mas está limitada o máximo possível e é rodeada por grandes precauções.

É igual, na situação atual: não se pode frequentar de modo habitual as autoridades conciliares sem se expor a contrair os seus erros.

O exemplo das comunidades Ecclesia Dei é a prova manifesta disso.

Os membros das comunidades Ecclesia Dei verdadeiramente admitiram os erros conciliares ou apenas se calam com relação aos mesmos?

Sem pretender julgar do foro interno, nem das exceções possíveis, parece que a maior parte dos membros das comunidades Ecclesia Dei acabaram, infelizmente, aliás, por aderir aos erros conciliares.

Começaram por um silêncio que julgavam prudente. Tiveram que, cada vez mais, dar garantias.

Foram submetidos, sem mesmo se darem conta, à pressão psicológica do liberalismo – tanto mais eficaz quanto parecer menos coercitiva.

Acabaram por se proibirem a si mesmos de pensarem diferentemente de como agiam e daquilo que diziam (“por força de não viver como se pensa – disse Paul Bourget – acaba-se por pensar como se vive”).

Rapidamente, caíram inteiramente dentro da engrenagem em que haviam, imprudentemente, posto o dedo.

Essa aceitação dos erros conciliares é comum a todas as comunidades Ecclesia Dei?

Há, sem dúvida, nuances; mas, de modo geral, todas as comunidades Ecclesia Dei hoje aderem aos erros conciliares.

Quando de sua cooptação de julho de 1988, o Barroux havia, publicamente, posto como condição: “Que nenhuma contrapartida doutrinal ou litúrgica seja exigida de nós, e que nenhum silêncio seja imposto a nossa pregação anti-modernista”. [431]

Ora, desde o mês de outubro seguinte, um monge constatava “uma certa relativização da crítica de Dignitatis humanae e de Assis” [432] no seio do Mosteiro.

De fato, o Barroux viria mesmo a tentar, publicamente, justificar os erros de Vaticano II. [433]

A Fraternidade São Pedro que pretendia, no início, continuar exatamente o que fazia a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (exceto as sagrações episcopais) sofreu a mesma involução.

As comunidades Ecclesia Dei não permanecem firmes, pelo menos, na Liturgia?

Longe de resistirem firmemente, todas as comunidades Ecclesia Dei mais ou menos aceitaram a nova Liturgia, que evitam, em todo caso, atacar francamente: Dom Gérard (prior do Barroux) teve que concelebrar a Missa nova com o Papa (em 27 de abril de 1995).

O padre Wach (superior do Instituto Cristo-Rei) já havia feito o mesmo (21 de dezembro de 1991) [434].

Monsenhor Rifan da Administração Apostólica São João Maria Vianney também concelebrou a Missa nova (08 de setembro de 2004).

A Fraternidade São Pedro teve que aceitar o princípio da concelebração da missa crismal (da Quinta-Feira Santa) com os Bispos das dioceses onde está estabelecida (reunião de Rocca di Papa, 08 a 12 de fevereiro de 2000). [435]

A Fraternidade São Vicente Ferrer é um pouco mais reservada: propugna “somente” a assistência em hábito de coro e a comunhão, na missa crismal da Quinta-Feira Santa [436] (mas é já aí uma participação litúrgica e, pois, uma aceitação dessa Missa nova).

Em contrapartida a esses compromissos, as comunidades Ecclesia Dei obtêm, ao menos, vastas possibilidades de apostolado?

A situação é bem diferente conforme o país (e, na França, conforme a diocese); mas a maioria dos Bispos permanece muito restritiva quanto às comunidades Ecclesia Dei.

Mesmo aqueles que não lhes são hostis demais hesitam em acolhê-las, porque temem as reações do seu clero ou de leigos “engajados”.

Roma teme, de sua parte, a reação dos Bispos. A situação das comunidades Ecclesia Dei seria de uma extrema fragilidade sem o contrapeso da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

O que manifesta, em definitivo, essa situação?

A situação das comunidades Ecclesia Dei, que são pressionadas a abandonar, cada vez mais, a doutrina tradicional, e que, todavia, somente são aceitas com muitas restrições nas diferentes dioceses confirma, à evidência, a existência daquele “estado de necessidade” que Monsenhor Lefebvre invocava para justificar as sagrações de 1988.

Hoje como naquela época, é impossível, para aqueles que querem defender integralmente a Fé Católica, colaborar com Roma.

Porém, esta situação não durará indefinidamente, Nosso Senhor o prometeu: As portas do inferno não prevalecerão contra Ela (Mt 16,18).

Notas:

[431] Sinal verde para o Mosteiro do Barroux. Declaração de Dom Gérard, Présent, 18 de agosto de 1988.

[432] Carta do padre Joseph Vannier (ex-sub-prior do Barroux) a Dom Gérard, à época prior, 25 de outubro de 1988, Fideliter nº67, janeiro-fevereiro de 1989, p.14.

[433] Desde 1993, o Barroux tenta justificar o Novo Catecismo da Igreja Católica (sobre essa má justificação, ver Le sel de La Terre nº 9, p.175-188); o padre Basile (do mesmo Mosteiro) se empregou em justificar a liberdade religiosa de Vaticano II em uma tese “monumental” de 2960 páginas (ver Le Sel de La terre nº30, p.202-207). Ele reconhece que os outros autores que haviam, até então, tentado conciliar Dignitatis humanae com a Tradição (o padre Lucien, o padre Harrison, o padre Margerie, o padre De Saint-Laumer, etc.) não tinham sido bem-sucedidos; mas pensa, ele, ter encontrado a solução. Durante vários anos, a tese do padre Basile seria assim apresentada, nos meios Ecclesia Dei, como a prova de que é possível conciliar Vaticano II com a Tradição. Infelizmente, um outro monge do Barroux, o padre Jehan, publicou em 2004 um memorial em Direito Canônico, provando que a tese do padre Basile sofre de um vício “fatal”: falsifica radicalmente o ensinamento de Santo Tomás de Aquino sobre a noção do “Direito” (ver Le Sel de La terre nº56, p.180-187). – Em vez de pregar o Cristo-Rei, os “cooptados” empregam-se assim em defender Vaticano II em trabalhos que se contradizem uns aos outros e que só fazem aumentar a confusão generalizada.

[434] Fotografia em Le Sel de La terre nº21, p.182.

[435] Sobre essa reunião importante de Rocca di Papa, ver o testemunho de Jonathan White em Le Sel de La terre nº41, p.226-233.

[436] Sedes sapientiae nº68, p.3-30. Ver sobre o assunto Le Sel de La terre nº32, p.217-219.

Notas da imagem:

A plena comunhão com o modernismo de Dom Rifan, da Administração Apostólica São João Maria Vianney.

A Administração Apostólica de Dom Rifan nos habituou aos poucos, desde sua fundação em 2002, a um desvio da Tradição para o modernismo. No seu primeiro discurso dirigido aos seus sacerdotes e fiéis, depois do seu regresso de Roma, Dom Rifan anunciou sua vontade de praticar a Tradição sem mais combater o modernismo, numa espécie de coexistência pacífica com a diocese.

Este discurso já tinha, em germe, tudo o que ia se suceder em seguida: mudança do Pai Nosso, explicações da necessidade da comunhão visível com os bispos, presença de Dom Rifan nos congresso da CNBB, obrigação imposta aos seus colaboradores e seminaristas de não mais condenar a nova missa, permissão de assistir a nova missa, celebração da nova missa por alguns padres, concelebrações no novo rito no Rio de Janeiro e em outros lugares (depois em Campos), e agora concelebração no novo rito dos dois bispos em Varre-Sai.

Foi um procedimento progressivo para preparar os mais fiéis a aceitarem o modernismo. Em Varre-Sai, bastião da resistência ao modernismo, este ato oficial na ocasião da consagração do município aos Corações de Jesus e de Maria foi um último teste para preparar uma fusão total entre a Administração e a diocese.

Depois de várias declarações do Bispo Dom Roberto, fazendo entender que a existência da Administração em sua diocese não fazia sentido, podemos legitimamente nos colocar a pergunta: O que vai ser da mesma Administração, agora que ela não faria sentido neste contexto de perfeita união entre Tradição e modernismo? Dom Roberto não seria o legítimo sucessor de Dom Antônio de Castro Mayer, enquanto bispo da diocese? O tempo da Administração não seria apenas provisório?

Extrato da carta que escreveu o Padre Fernando Áreas Rifan ao Prior do Mosteiro do Barroux na França, avisando os perigos de fazer um acordo com Roma... Dom Rifan não seguiu os conselhos do Padre Rifan... os resultados estão à vista:

"Ao estudar detalhadamente o caso de Dom Lefebvre, pude constatar a verdadeira cilada em que procuravam nos envolver. Eles não são sinceros. Eles o demonstraram: Logo depois de assinado o protocolo, eles já queriam mais: que reconhecêssemos os erros que cometemos (doutrinários); depois, a celebração de uma Missa nova em S. Nicolas, etc... Vejamos o que aconteceu com Dom Agostinho! Começou apenas se separando de nós. Agora já está dando a comunhão na mão! O caminho é escorregadio. Começou apenas querendo a legalidade. Depois teve que receber o bispo para celebrar missa no mosteiro. Terminou com a comunhão na mão! Nosso Senhor mandou-nos unir a simplicidade da pomba à esperteza da serpente."

No caso presente, Dom Fernando Rifan (antes Padre Rifan) une a simplicidade da serpente com a esperteza da pomba! O D. Fernando Rifan concelebra a missa nova, há muitos anos.... Mas agora, arranjou até acólitAs...

Vejam o que dizia o Missal Dominical Popular dos Padres de Campos, antes dos acordos... quem mudou?

"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa, desde que não se falte à verdade, sendo obra de caridade gritar: 'Eis o lobo!', quando está entre o rebanho ou em qualquer lugar onde seja encontrado". (São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja, Filotea ou Introdução à Vida Devota, parte III, cap. 28)

Para ver mais sobre a apostasia da Administração Apostólica São João Maria Vianney, com Dom Fernando Rifan, acesse o link: https://www.fsspx.com.br/videos-impressionantes-da-atual-administracao-de-dom-rifan/

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