1º Dia da Novena do Sagrado Coração de Jesus – Coração amável de Jesus
1º Dia da Novena ao Sagrado Coração de Jesus
Totus desiderabilis: talis est dilectus meus – “Todo desejável, tal é o meu amado.” (Ct 5, 16)
Sumário. O fim principal que nos devemos propor nesta novena é o nosso progresso contínuo no amor de Jesus Cristo, para assim o desagravar dos ultrajes que recebe, especialmente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Consideremos, pois, a amabilidade desse Coração divino, todo puro, todo santo, todo amor para com Deus e para conosco. Basta dizer que Deus nele acha as suas delícias, toda a sua complacência. Será então possível não as acharmos também?… Ah, meu Jesus, eu Vos amo e quero amar-Vos sempre de todo o coração.
I. Quem se mostra sempre e em tudo amável faz-se necessariamente amar. Ah! Se procurássemos conhecer todos os belos títulos que Jesus Cristo tem para ser amado, todos nós acharíamos na feliz necessidade de o amar. Que coração há mais amável que o de Jesus Cristo? Coração este, todo puro, todo santo, todo amor para com Deus e para conosco. Coração cujos desejos têm por objeto único a glória divina e o nosso bem. Coração no qual Deus acha todas as suas delícias e toda a sua complacência.
No coração de Jesus estão concentradas todas as perfeições e virtudes: um amor ardentíssimo a Deus seu Pai, unido à mais profunda humildade e reverência; uma suprema confusão pelos nossos pecados que tomou sobre si, unida à confiança mais perfeita de Filho terníssimo; uma extrema detestação das nossas culpas, unida a uma viva compaixão das nossas misérias; uma dor suprema unida a uma conformidade perfeita com a vontade de Deus. Em Jesus, portanto, acha-se tudo que possa haver de amável.
Uns são atraídos ao amor pela beleza, outros pela inocência, estes pela convivência, aqueles pela devoção. Mas se houvesse uma pessoa que em si reunisse todas estas e mais outras virtudes, quem poderia deixar de a amar? Se soubéssemos que longe de nós reina um monarca famoso, humilde, afável, piedoso, cheio de caridade, manso para com todos e bem-fazejo até para com os que lhe fazem mal; mesmo sem o conhecermos e termos que ver com ele, seríamos cativados pelo seu amor e constrangidos a amá-lo. – Como é então possível, que Jesus Cristo, que possui todas estas virtudes e em grau supremo, que nos ama tão ternamente, seja amado tão pouco pelos homens e não seja o objeto único de nosso amor?
Ah, Deus! Jesus, que só é amável e nos deu tantas provas do amor que nos tem, Jesus só, por assim dizer, é tão inditoso, que não consegue ver-se amado de nós, como se não fosse bastante digno de nosso amor! É o que fazia chorar uma Rosa de Lima, uma Catarina de Gênova, uma Teresa, uma Maria Madalena de Pazzi, que contemplando a ingratidão dos homens exclamavam entre lágrimas: O amor não é amado! O amor não é amado!
II. Ó meu amável Redentor, que objeto mais digno de amor podia o vosso Eterno Pai mandar-me amar fora de Vós? Vós sois o enlevo do paraíso e o amor de vosso Pai; vosso Coração é a sede de todas as virtudes. Amabilíssimo Coração do meu Jesus, Vós mereceis o amor de todos os corações. Muito pobre e infeliz é o coração que Vos não ama. Tão infeliz foi o meu coração durante todo o tempo que Vos não amou. Mas não quero continuar a ser tão desgraçado, pois amo-Vos, ó Jesus e quero sempre amar-Vos.
Ó Senhor, no passado vivi esquecido de Vós; e agora que esperarei? Talvez que a minha ingratidão Vos obrigue a Vos esquecer inteiramente de mim e a me desamparar? Não, meu dulcíssimo Salvador, não o permitais. Vós sois o amor de um Deus e não o sereis de um miserável pecador como eu, a quem tanto tendes amado e cumulado de benefícios? Ó formosas chamas, que ardeis no Coração amoroso do meu Jesus, acendei no meu pobre coração este fogo sagrado e bendito que Jesus veio trazer do céu à terra. Consumi e destruí todos os afetos impuros que reinam em meu coração e o impedem de ser todo de Deus. Fazei, ó meu Jesus, que eu viva unicamente para Vos amar, meu amado Salvador.
Se outrora Vos desprezei, sabei que hoje sois o meu único amor. Amo-Vos, amo-Vos, amo-Vos e só a Vós quero amar. Ó meu amadíssimo Senhor, não recuseis o amor de um coração que por tanto tempo Vos afligiu. Seja uma glória vossa mostrar aos Anjos um coração todo abrasado em vosso amor, que outrora fugia de Vós e Vos desprezava. – Virgem Santíssima e esperança minha, Maria, ajudai-me; rogai-Lhe que com a sua graça me torne tal qual seu Coração me deseja.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 149-151)
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