3º Dia da Novena de Pentecostes – O amor é uma água que apaga a sede
3º Dia da Novena do Espírito Santo
Domingo da Ascensão do Senhor Jesus Cristo
Qui biberit ex aqua, quam ego dabo ei, non sitiet in aeternum – “Aquele que beber da água que eu lhe der, não terá jamais sede” (Jo 4, 13)
Sumário. É com razão que Deus se queixa de tantas almas que vão mendigar junto às criaturas alguns miseráveis e curtos prazeres, e o abandonam, Bem infinito e fonte de todas as alegrias. Nós ao menos não sejamos tão insensatos: apaguemos a nossa sede com as águas do santo amor de Deus, e o nosso coração estará perfeitamente satisfeito. Lembremo-nos, porém, de que a chave que nos abre os canais desta água desejável é a santa oração, que nos alcança todos os bens em virtude da promessa de Jesus Cristo: Pedi e recebereis.
I. O amor é chamado também fonte de água viva – “fons vivus, ignis, caritas”. O nosso Redentor disse à mulher Samaritana: Aquele que beber da água que eu lhe der, não terá jamais sede – non sitiet in aeternum (1). O amor é, pois, uma água que mata a sede; aquele que ama a Deus sinceramente, não busca nem deseja coisa alguma fora de Deus, porque em Deus acha todos os bens. Assim, contente com possuir a Deus, repete sempre na alegria de seu coração: Deus meus et omnia – “Meu Deus e meu tudo”. Ó meu Deus, Vós sois o meu único bem. – Mas Deus queixa-se de tantas almas que vão mendigar junto das criaturas alguns miseráveis e curtos prazeres, e o abandonam, Bem infinito e fonte de todas as alegrias: Me dereliquerunt, fontem aquae vivae, et foderunt sibi cisternas; cisternas dissipatas, quae continere non valent aquas (2) – “Eles me abandonaram, a mim que sou a fonte de água viva, e cavaram para si cisternas, que não podem reter a água”.
Aí está, porque o Senhor que nos ama, e deseja ver-nos contentes, nos clama a todos: Si quis sitit, veniat ad me (3) – “Se alguém tem sede, venha a mim”. Quem deseja a verdadeira felicidade, venha a mim, dar-lhe-ei o Espírito Santo, que o fará feliz nesta vida e na outra: Qui credit in me, sicut dicit Scriptura, flumina de ventre eius fluent aquae vivae – Sentirá correr de seu próprio seio rios de água viva, como os profetas anunciaram.
Aquele, pois, que crê em Jesus Cristo, e o ama, será enriquecido de tantas graças, que de seu coração, ou de sua vontade, que é como seio da alma, fluirão fontes de santas virtudes, que o ajudarão não somente a conservar a própria vida, mas ainda a comunicá-la aos outros. A água misteriosa de que fala Nosso Senhor, é precisamente o Espírito Santo, o amor substancial, que Jesus prometeu enviar-nos do céu depois da sua ascensão: Hoc autem dixit de Spiritu, quem accepturi erant credentes in eum; nondum enim erat Spiritus datus, quia Iesus nondum erat glorificatus (4) – “Isto disse ele acerca do Espírito, que haviam de receber os que cressem nele; porque ainda o Espírito não fora dado, por não ter sido ainda Jesus glorificado”.
II. A chave que abre os canais desta água desejável, é a oração, pela qual obtemos todos os bens em virtude da divina promessa: Petite et accipietis (5) – “Pedi e recebereis”. Somos cegos, pobres e fracos; mas a oração nos consegue a luz, a riqueza e a força da graça. Com a oração só podemos tudo, dizia São Teodoreto. Oratio, cum una sit, omnia potest. Aquele que ora, recebe tudo que deseja. Deus quer dar-nos suas graças, mas quer ser rogado.
Domine, da mihi hanc aquam (6). Meu Jesus, dir-Vos-ei com a Samaritana, dai-me desta água de vosso amor, que me faça esquecer a terra, e viver para Vós, ó amável Infinito. Riga quod est aridum – “Regai o que é seco”. Minha alma é uma terra seca, que não produz senão abrolhos e espinhos de pecados; ah! Inundai-a com as águas da vossa graça, para que produza algum fruto para vossa glória, antes que a morte me arrebate deste mundo.
Ó fonte de água viva, ó Bem supremo, quantas vezes Vos deixei pelas águas lodosas desta terra, que me privaram do vosso amor! Ah! Não ter eu morrido antes de Vos ofender! Mas, no futuro, não quero mais buscar nada fora de Vós. Ó meu Deus, socorrei-me e fazei com que Vos seja fiel. – Maria, minha Esperança, cobri-me sempre com vosso manto.
Referências:
(1) Jo 4, 13 (2) Jr 2, 13 (1) Jo 7, 37 (1) Jo 7, 39 (1) Jo 16, 24 (1) Jo 4, 15
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 109-111)
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