Coração de Jesus, modelo de Humildade
Discite a me, quia… sum humilis corde — “Aprendei de mim, porque sou humilde de coração” (Mt 11, 29)
Sumário. Oh! Quanto é bela a alma ornada da virtude da humildade! O humilde de coração, diz São Paulino, torna-se o Coração de Jesus Cristo, porque a humildade nos une a este divino Coração. O Filho de Deus veio do céu para nos ensinar a humildade, não somente pelas Suas palavras, mas ainda pelo Seu exemplo. Santo Agostinho falando da humildade de Jesus, diz: Se tal remédio não nos cura do nosso orgulho, difícil será achar-se outro meio de nos livrarmos dele. Aprendamos, pois, de Jesus Cristo a ser humildes.
I. Oh! Quanto é bela a alma ornada da virtude da humildade! O humilde de coração, nos diz São Paulino, torna-se o Coração de Jesus Cristo mesmo: Humilis corde Cor Christi est. E porque? Porque a humildade nos une ao Coração de Jesus Cristo, que é a humildade mesma, como Ele mesmo nos ensina: Aprendei de mim, que sou humilde de coração. Antes de Jesus Cristo, esta bela virtude era pouco conhecida e pouco estimada, ou antes era aborrecida sobre a terra; por toda a parte reinava o maldito orgulho, que causou a desgraça de Adão e de todo o gênero humano.
Então veio o Filho de Deus do céu à terra para no-la ensinar, não somente pelas Suas palavras, mas ainda pelos Seus exemplos. A este fim, “Ele se humilhou, até fazer-Se homem, tomando a forma de servos — Semetipsum exinanivit formam servi accipiens” (1). Ele quis até, entre os homens, ser tratado como objeto de desprezo e como o último dos homens: despectum et novissimum virorum, conforme o que disse Isaias (2). — Escutemos agora o que Ele nos recomenda:
“Eu Vos dei o exemplo, a fim de que façais o que Eu fiz por vós — Exemplum dedi vobis, ut, quemadmodum ego feci vobis, ita et vos faciatis” (3)
Como se dissesse : Meus filhos, se abracei todas estas ignomínias, é para que, seguindo o meu exemplo, não as desdenheis.
Santo Agostinho, falando da humildade de Jesus Cristo, diz que, se tal remédio não nos cura do nosso orgulho, difícil será achar-se outro meio de nos livrarmos dele. Eis aqui o que o mesmo Santo escrevia a um amigo: Se queres saber qual é a virtude principal que nos cumpre praticar, para nos tornarmos discípulos de Jesus Cristo, e a mais eficaz para nos unir a Deus, dir-te-ei que é a humildade; interroga-me quantas vezes quiseres, sempre terás a mesma resposta. Muitas pessoas são humildes de boca, sem o serem de coração. Todavia, a verdadeira humildade, a do coração, consiste em desejarmos ser desprezados dos outros e nos comprazermos nas humilhações. Esta é propriamente a humildade que Jesus Cristo veio nos ensinar pelo Seu exemplo.
II. A humildade, dizia São Vicente de Paulo, parece bela em especulação, mas na prática é horrível, porque consiste em amar os abatimentos e os desprezos. Conforme São Francisco Xavier, o amor das honras é coisa indigna de todo cristão, que deve ter sem cessar diante dos olhos as ignomínias de Jesus Cristo; quanto mais indigno é esse amor da alma que se diz discípula do Coração infinitamente humilde de Jesus Cristo. Se queremos, pois, santificar-nos, apreciaremos, segundo o conselho de São Boaventura, viver ignorados e ser tidos em nada.
Ó Coração humildíssimo de Jesus, que, por amor de mim, quisestes ser obediente até à morte de cruz, como ouso aparecer ante Vós e dizer-me discípulo Vosso, eu, tão grande pecador, e contudo tão orgulhoso, que não posso suportar um desprezo sem ressentir-me? De onde me vem esse orgulho, se, pelos meus pecados, tenho merecido tantas vezes ser calcado aos pés do demônio nos infernos? Ó Coração divino, saturado de tantos desprezos, fazei que eu me torne semelhante a Vós. Sinceramente desejo mudar de proceder; pelo meu amor sofrestes todos os opróbrios; quero, pelo Vosso amor, suportar todas as injurias.
Meu divino Redentor, pelo fato de abraçardes as humilhações com tanto amor durante a Vossa vida, Vós as tomastes tão honrosas e desejáveis, que eu, de agora em diante, quero pôr toda a minha glória em sofrer conVosco e por Vós: Longe de mim o pensamento de buscar a minha glória em outra coisa fora da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo (4).
— Ó humildíssima Maria, Rainha do céu e Mãe de Deus, vós adquiristes a mais perfeita semelhança com o vosso divino Filho; obtende-me a graça de suportar com resignação todos os ultrajes que me forem feitos no futuro.
Referências: (1) Fl 2, 7 (2) Is 53, 3 (3) Jo 13, 15 (4) Gl 6, 14
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até à Undécima Semana depois de Pentecostes Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 375-377)
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