Festa da Anunciação de Maria Santíssima
Ecce concipies in utero et paries filium, et vocabis nomen eius Iesum – “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus” (Lc 1, 31)
Sumário. Eis como Maria, enquanto na sua casa está suplicando a Deus pela vinda do Redentor, vê um anjo que a saúda e lhe anuncia ser ela mesma destinada para Mãe do Salvador. A humilde Virgenzinha, julgando-se nimiamente indigna de tamanha honra, fica toda perturbada; mas afinal dá o consentimento, e naquele mesmo instante o Verbo divino se tornou seu Filho. Ó grande Mãe de Deus, vós, tão privilegiada e tão humilde, nós tão pecadores e tão orgulhosos! Obtende-nos a santa humildade.
I. Querendo Deus enviar seu Filho para se fazer homem e assim remir o homem perdido, escolheu-lhe uma mãe virginal, entre todas as virgens a mais pura, a mais santa e a mais humilde. Enquanto Maria estava em sua pobre casa suplicando a Deus pela vinda do Redentor, eis que lhe aparece um anjo que a saúda e lhe diz: Ave gratia plena: Dominus tecum; benedicta tu in mulieribus (Luc 1, 28) — “Ave, cheia de graça: o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres”. Que faz a humilde Virgenzinha ouvindo tão elogiosas palavras? Não se desvanece, mas cala-se perturbada, julgando-se indigna de tais louvores: Turbata est in sermone eius — “Turbou-se com as suas palavras”. — Ó Maria, vós tão humilde, e eu tão orgulhoso! Obtende-me a santa humildade.
Mas, ao menos aqueles louvores não fizeram surgir à Maria a ideia, que porventura fosse ela escolhida para Mãe do Redentor? Não, serviram tão somente para fazê-la entrar num grande temor, de modo que foi preciso que o anjo a animasse a não temer, porque tinha achado graça diante de Deus. E então anunciou-lhe que era escolhida para Mãe do Salvador do mundo: Ecce concipies in utero, et paries filium, et vocabis nomen eius Iesum — “Eis que conceberás, e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus”.
Ora, pois, assim lhe fala São Bernardo, porque tardais, ó Virgem santa, a dar o consentimento? O Verbo Eterno espera-o para tomar a natureza humana e fazer-se vosso filho; também o esperamos nós, que estamos infelizmente condenado à morte eterna. Se consentirdes em ser Mãe do Redentor, todos nós seremos livres da morte eterna. Respondei, Senhora, depressa: não retardeis mais a salvação do mundo, que agora depende de vosso consentimento. Mas felizmente, eis que Maria já responde ao anjo: Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum. Eis aqui, diz a Virgem, eis aqui a escrava do Senhor, obrigada a fazer o que seu Senhor ordena. Se ele escolhe uma escrava para sua mãe, não se louve a escrava, mas unicamente a bondade do Senhor, que se digna honrá-la assim. — Ó Bem-Aventurada Virgem Maria, quanto soubestes agradar e ainda agradais a vosso Deus! Tende piedade de mim!
II. Ó Virgem imaculada e santa, das criaturas a mais humilde e maior diante de Deus! Éreis bem pequena a vossos próprios olhos, mas aos olhos de vosso Senhor éreis tão grande, que ele vos elevou a ponto de vos escolher para sua mãe. Dou graças a Deus por vos ter elevado tão alto, e me regozijo convosco ao ver-vos tão unida a Deus, que mais o não podia ser uma simples criatura. Vendo que juntais tamanha humildade a tantas perfeições, envergonho-me de aparecer diante de vós, orgulhoso como sou, não obstante tantos pecados. Mas, miserável como sou, quero saudar-vos.
Ave Maria, gratia plena: Vós sois cheia de graça, obtende-me uma parte dela. Dominus tecum: O Senhor foi sempre convosco, desde o primeiro instante da vossa existência, mas a vós se uniu muito mais estreitamente fazendo-se vosso filho. Benedicta tu in mulieribus: Ó mulher bendita entre todas as mulheres, obtende-nos também as divinas bênçãos. Et benedictus fructus ventris tui: Ó feliz planta, que destes aos mundo tão nobre e santo fruto!
Sancta Maria, Mater Dei: Ó Maria, reconheço que sois verdadeiramente Mãe de Deus, e em defesa desta verdade pronto estou a dar mil vezes a minha vida. Ora pro nobis peccatoribus: Se sois Mãe de Deus, sois também Mãe de nossa salvação, Mãe dos pobres pecadores, porque, para salvar os pecadores, é que Deus se fez homem, e se ele vos fez sua Mãe, é para que vossas orações tenham virtude de salvar qualquer pecador. Rogai então por nós, ó Maria — Nunc et in hora mortis nostrae. Rogai sempre: rogai agora que estamos expostos a mil tentações e perigos de perder a Deus; mas rogai sobretudo na hora de nossa morte, afim de que, salvos pelos merecimentos de Jesus Cristo e por vossa intercessão, possamos ir saudar-vos e louvar a vosso divino Filho e a vós, no céu, durante toda a eternidade.
“Ó Deus, que mediante a embaixada do anjo quisestes que vosso Verbo tomasse carne no seio da Bem-Aventurada Virgem Maria: concedei-me que, assim como a venero como verdadeira Mãe de Deus, seja ajudado pela sua intercessão junto a vós” (1). Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo.
Referências:
(1) Or. festi.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 454-456)
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