Festa de Santa Ana, Mãe de Maria Santíssima
Laudemus viros gloriosos et parentes nostros in generatione sua — “Louvemos aos varões gloriosos e aos nossos pais na sua geração” (Eclo 44, 1)
Sumário. A dignidade de Santa Ana e de São Joaquim é tão grande, que a inteligência humana não a pode compreender. São os pais de Maria Santíssima e portanto os avoengos de Jesus Cristo quanto à natureza humana. A sua santidade é proporcionada à sua dignidade, porquanto é fora de dúvida que Deus lhes comunicou graças proporcionadas ao ofício ao qual os quis destinar. Alegremo-nos com os santos esposos e vejamos se lhes temos uma devoção especial, pela imitação das suas virtudes, especialmente do seu espírito de sacrifício e do seu amor para com Deus e o próximo.
I. A dignidade de Santa Ana e São Joaquim é tão grande, que a inteligência humana não a pode compreender. São eles os pais de Maria Santíssima, quer dizer: eles deram a vida àquela que por um prodígio inaudito foi, de certo modo, admitida ao consórcio da Santíssima Trindade, por ser a verdadeira Mãe do Verbo encarnado, a Filha primogênita do Pai Eterno, a Esposa puríssima do Espírito Santo. Por causa destas exímias prerrogativas afirmam graves autores que desde a eternidade Santa Ana e São Joaquim foram, depois de Maria Santíssima, e em união estreita com ela, objeto de uma predestinação especial da parte de Deus, e unidos ao próprio Jesus Cristo, que foi feito da estirpe de Davi segundo a carne (1).
Eles são também inseparáveis da sua Filha nas promessas, nos vaticínios e nos símbolos misteriosos que a anunciaram nas Sagradas Escritura. Se Maria é aquela mulher excelsa, anunciada por Deus mesmo desde o princípio do mundo, a qual em seu tempo havia de esmagar a cabeça da serpente infernal, Santa Ana e São Joaquim são os que, dando-lhe a existência natural, fizeram esta heroína, por assim dizer, sair a campo e entrar em combate com o antigo adversário. Se Maria é o arco-íris celeste da aliança perpétua entre o céu e a terra, Santa Ana e São Joaquim são a nuvem fecunda, da qual esta íris magnifica irradia em todo o seu esplendor.
A joia, porém, mais preciosa da coroa que orna a cabeça veneranda destes santos esposos, é que, pela sua eleição para pais de Maria, foram feitos avoengos de Jesus Cristo segundo a carne. Na qualidade de avoengos aproximaram-se mais do que todos os outros santos Patriarcas, da paternidade natural do Filho de Deus e merecem mais do que eles a nossa veneração e afeto especiais.
II. Proporcionada à sua dignidade foi a santidade de São Joaquim e Santa Ana; pois é regra da Providência que Deus, elegendo alguém para algum ofício particular, lhe comunica todas as graças para o cumprir com decência. Eis porque os Padres e Doutores não se cansam de lhes elogiar as sublimes virtudes: a sua fé viva e esperança firme no Messias vindouro; a sua ardente caridade para com Deus e o próximo; a sua perfeita resignação à vontade de Deus, e sobretudo o seu espírito de sacrifício em privar-se da sua filha amantíssima, para consagrá-la ao Senhor no templo. Regozija-te com os santos cônjuges e também com a Santíssima Virgem pela glória que possuem; agradece ao Senhor em nome deles, e vê se tens uma devoção especial para com eles e lhes imitas as virtudes.
Com o coração cheio de filial veneração, prostro-me diante de vós, ó Bem-aventurada Santa Ana. Vós sois aquela criatura privilegiada e predileta que pelas vossas virtudes e santidade extraordinárias merecestes de Deus a graça suprema de dar a vida à Tesoureira de todas as graças, à Bendita entre as mulheres, à Mãe do Verbo encarnado, à Santíssima Virgem Maria.
Em atenção a tão sublimes favores, dignai-vos, ó piedosíssima Santa, aceitar-me no número dos vossos verdadeiros devotos, como protesto ser e quero ser durante toda a minha vida. Protegei-me com o vosso poderoso patrocínio e alcançai-me de Deus a imitação das virtudes que vos ornaram tão copiosamente. Obtende-me a graça de conhecer e detestar os meus pecados, um amor ardentíssimo a Jesus e Maria, a força para cumprir fiel e constantemente os deveres do meu estado. Preservai-me de todo o perigo durante a minha vida e assisti-me na hora da minha morte, a fim de ir ao paraíso para louvar convosco, ó ditosíssima Mãe, o Verbo de Deus feito homem no seio da vossa filha puríssima, a Virgem Maria.
“E Vós, ó Deus, que Vos dignastes conferir a Santa Ana a graça de merecer ser mãe da mãe de vosso Filho unigênito: concedei-me propício que, celebrando a sua festividade, seja ajudado pelo seu patrocínio” (2). Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo.
Referências: (1) Rm 1, 3. (2) Or. festi.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 337-340)
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