Maria Santíssima, modelo de fé
Beata quae credidisti, quoniam perficientur ea, quae dicta sunt tibi a Domino – “Bem-aventurada és tu, que creste, porque se hão de cumprir as coisas que te foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1, 15)
Sumário. Maria Santíssima teve fé tão viva, que excedeu a de todos os homens e de todos os anjos, porquanto viu Jesus Cristo sujeito a todas as misérias humanas e sempre o reconheceu por seu Deus verdadeiro. Se quisermos ser dignos filhos da divina Mãe, imitemo-la nesta virtude como em todas as demais. Exercitemo-nos em fazer contínuos atos de fé e vivamos segundo as verdades da nossa fé: porque a fé sem as obras é morta.
I. Assim como a Bem-aventurada Virgem é modelo de amor e de esperança, assim também é modelo de fé, pois que, diz Santo Irineu, aquele dano que Eva fez com a sua incredulidade, Maria o reparou com a sua fé. Com efeito, Eva, porque quis dar crédito à serpente contra aquilo que Deus tinha dito, trouxe a morte; mas a nossa Rainha, dando crédito às palavras do anjo, que ela, ficando Virgem, devia fazer-se Mãe do Senhor, trouxe ao mundo a salvação. Exatamente por causa da sua fé é chamada bem-aventurada por Santa Isabel: Beata quae credidisti — “Bem-aventurada és tu porque creste”.
Diz o Padre Soarez, que a Santíssima Virgem teve mais fé que todos os homens e todos os anjos. Via o seu Filho no presépio de Belém e cria que Ele era o Criador do mundo. Via-O fugir de Herodes e não deixava de crer que era o Rei dos reis. Via-O nascer, e O cria eterno. Via-O pobre e necessitado de alimento, e O cria Senhor do universo; deitado sobre a palha, e O cria onipotente. Observava que não falava e cria que era a Sabedoria infinita. Ouvia-O chorar e cria que era a alegria do paraíso. Via-O, finalmente, na morte vilipendiado e crucificado e bem que nos outros vacilasse a fé, Maria estava firme em crer que Ele era Deus. É por esta razão, diz Santo Antônio, que no Ofício das Trevas só se deixa uma vela acesa e São Leão, a este propósito, aplica à Virgem esta passagem: Non extinguetur in nocte lucerna eius (1) — “A sua lâmpada não se apagará de noite”.
Maria Santíssima, pela sua grande fé, mereceu ser feita a Luz de todos os fiéis, como é chamado por São Metódio: Fidelium fax. E São Cirilo de Alexandria a chama Rainha da verdadeira fé: Sceptrum orthodoxae fidei. A mesma Igreja atribui à Virgem, pelo merecimento de sua fé, a derrota de todas as heresias: Gaude, Maria Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo (2).
II. Exorta-nos Santo Ildefonso: Imitamini signaculum fidei Mariae — “Imitai a fé insigne de Maria”. Mas como havemos de imitá-la? A fé é ao mesmo tempo dom e virtude. É dom de Deus, enquanto é uma luz, que Deus infunde na alma. É virtude, quanto ao exercício que dela faz a alma. Por isso a fé não só nos há de servir de regra para crer, mas também para obrar; porquanto, como diz São Gregório: Crê verdadeiramente aquele que põe em prática as verdades que a fé lhe ensina. É isto ter uma fé viva, o viver segundo se crê, assim como, no dizer do Apóstolo, cada justo deve viver: Iustus autem meus ex fide vivit (3) — “O meu justo vive pela fé”. Assim viveu a Santíssima Virgem e assim nós também, à imitação dela, devemos viver, com diferença daqueles que não vivem segundo aquilo que creem, cuja fé é morta, como diz São Tiago (4). — E por isso roguemos à divina Mãe, que pelo merecimento de sua fé nos alcance uma fé viva: Domina, adauge nobis fidem — “Senhora, aumentai-nos a fé”. Ao mesmo tempo, exercitemo-nos em fazermos freqüentes atos de fé, unindo-os aos da Santa Virgem. Roguemos também por tantos nossos irmãos infelizes, que vivem fora da Igreja Católica.
† “Ó Maria, Mãe de misericórdia e Refúgio dos pecadores, súplices vos rogamos que lanceis um olhar benigno sobre os povos hereges e cismáticos. Vós, que sois a Sede da sabedoria, iluminai os espíritos tristemente envoltos nas trevas da ignorância e do pecado, a fim de que reconheçam claramente que a santa Igreja católica, apostólica, romana é a única verdadeira Igreja de Jesus Cristo, fora da qual não há santidade nem salvação. Completai a sua conversão impetrando-lhes a graça de abraçar qualquer verdade da santa fé, e de submeter-se ao Sumo Pontífice Romano, Vigário de Jesus Cristo na terra, a fim de que, estando em breve todos unidos conosco pelos doces laços do divino amor, haja um só rebanho, debaixo do mesmo único Pastor, e possamos todos, ó Virgem gloriosa, cantar com alegria na eternidade: Gaude, Maria Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo — “Alegrai-vos, ó Virgem Maria, porque vós só derrotastes todas as heresias no mundo universo.” (5)
Referências: (1) Pv 31, 18 (2) Off. B. M. V. (3) Hb 10, 38 (4) Tg 2, 26 (5) Indulg. de 300 dias para quem reza esta oração, acrescentando-lhes três Ave-Marias
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 151-154)
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