O fim do mundo e o procedimento dos bons católicos em tempo de perseguição
25ª e Última Semana depois de Pentecostes
Erit tunc tribulatio magna, qualis non fuit ab initio mundi usque modo – “Será então a aflição tão grande, que, desde que há mundo até agora, não houve outra semelhante” (Mt 24, 21)
Sumário. A perseguição que o espírito infernal suscitará no fim do mundo não é a única que devemos temer. Cada dia os ímpios tramam uma revolta igual à do Anticristo, como de sobejo demonstram os males que nos sobrevêm e as guerras que a Igreja Católica tem de sustentar. Aproveitemos os ensinos que Jesus Cristo nos dá no presente Evangelho: Sejamos constantes na fé; humilhemo-nos perante Deus, confessando que temos merecido os seus castigos, e rezemos com fervor, a fim de que sejam abreviados os dias de provação.
I. No Evangelho de hoje Jesus Cristo nos fala da destruição de Jerusalém e ao mesmo tempo do fim do mundo prefigurado pela ruína daquela cidade infeliz. “Será tão grande a aflição”, diz Jesus, “que desde que há mundo até agora, não houve nem haverá outra semelhante. E se não se abreviassem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; mas hão de abreviar-se em atenção aos escolhidos: Propter electos breviabuntur dies illi.” (1)
— Passando depois a dar-nos avisos apropriados àqueles tempos, recomenda-nos o Senhor especialmente a constância na fé, e prossegue:
“Então, se alguém vos disser: Aqui está o Cristo, ou ei-lo acolá; não lhe deis crédito. Pois se levantarão falsos Cristos e falsos profetas; farão grandes prodígios e maravilhas tais, que (se fôra possível) até os escolhidos se enganariam. Vede que eu vô-lo adverti antes: Ecce praedixi vobis”.
Meu irmão, esperas e estás confiado que não presenciarás esta última tribulação, mas nem por isso creias que não te dizem respeito os avisos do Redentor. São Gregório afirma:
“A perseguição que o espírito infernal suscitará nos últimos tempos não é a única que devamos temer; porque cada dia os ímpios tramam a revolta do Anticristo, e até agora este mistério de iniquidade se planeja às ocultas no seu coração: Iam nunc occultus operatur”.
Ou, para melhor dizer, já está planejado e está sendo executado pela guerra continua e múltipla movida contra a Esposa de Jesus Cristo, a Igreja Católica. — Aproveita-te, pois, dos avisos do Senhor:
“Sede sóbrios e vigiai, porque vosso adversário, o diabo, como leão a rugir, anda ao redor, buscando a quem devore: resisti-lhe fortes na fé”. (2)
II. Abreviar-se-ão aqueles dias em atenção aos escolhidos. Assim como no tempo da destruição de Jerusalém foram abreviados os dias de miséria para os infelizes judeus, em atenção aos escolhidos; assim como em atenção aos mesmos serão para todos os homens abreviados os dias de tribulação na destruição final do mundo; assim Deus, em atenção às almas justas que vivem na Igreja, abreviará em sua infinita misericórdia para esta sua Esposa imaculada os dias de aflição e acelerará o desejado triunfo.
Meu irmão, se não podes de outro modo cooperar para este fim, faze-o pelo menos humilhando-te na presença de Deus, e reconhecendo que os castigos que nos oprimem são consequência dos nossos pecados. E, entretanto, não deixes de dirigir a Deus orações fervorosas. — A fim de que essas orações sejam mais facilmente atendidas, procura fazê-las o mais possível diante de Jesus sacramentado, que, na interpretação comum dos santos, é aquele corpo do qual fala o Evangelho e ao redor do qual se ajuntam as águias, isto é, as almas desapegadas dos afetos terrestres: Ubicumque fuerit corpus, illic congregabuntur et aquilae.
† “Ó clementíssimo Jesus, Vós sois a nossa única salvação, a nossa vida e a nossa ressurreição. Nós Vos pedimos que não nos abandoneis em nossas angústias e tribulações; mas pela agonia do vosso Coração sacratíssimo e pelas dores de vossa Mãe imaculada, socorrei os vossos servos que remistes com vosso precioso sangue.” (3)
— Excitai também, ó Senhor, a vontade dos vossos fiéis; a fim de que pratiquem com maior fervor as obras de piedade, e mereçam com elas maiores remédios da vossa piedade.” (4)
— A vós também, ó grande Mãe de Deus, pedimos esta graça.
Referências:
(1) Mt 24, 22 (2) 1 Pd 5, 8 (3) Indulg. de 100 dias. (4) Or. Dom. curr.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 316-318)
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