Os falsos profetas e a necessidade das boas obras
7º Domingo depois de Pentecostes
Omnis arbor, quae non facit fructum bonum, excidetur et in ignem mittetur – “Toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e metida no fogo” (Mc 7, 19)
Sumário. Persuadamo-nos de que a fé por si sós não basta para a nossa salvação. São também necessárias as obras, porquanto, como diz nosso Senhor no Evangelho de hoje: “Toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e metida no fogo.” Estas obras não são as mesmas para todos; diferem segundo o estado em que Deus nos colocou. Quantos cristãos, desejando fazer coisas grandes, descuidam os deveres do próprio estado e se condenam! Meu irmão, põe a mão na consciência: serás tu porventura um destes infelizes?
I. No Evangelho de hoje Jesus Cristo nos põe de sobreaviso contra os corruptores da doutrina e da moral cristã; e especialmente contra os que negam a necessidade das boas obras para se conseguir a salvação eterna.
“Guardai-vos”, diz o Senhor (1), “dos falsos profetas, que vêm a vós com vestidos de ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os reconhecereis. Por ventura colhem-se uvas de espinhos, ou figos de abrolhos? Assim, toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá frutos maus.”
“Não pode a árvore boa”, assim prossegue o Senhor, “dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos, portanto, os reconhecereis. Nem todo o que diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai, … esse entrará no reino dos céus.”
A fé, portanto, não basta por si só para a salvação; são necessárias também as obras, sem as quais a fé é morta (2). São em primeiro lugar necessárias aos inocentes porque Deus nos diz que no dia do juízo dará a cada um segundo as suas obras (3). Elas são mais necessárias ainda aos penitentes; porque a conversão não consiste somente na contrição do coração e na confissão oral, mas também em fazer dignos frutos de penitência (4). Àquele que não produz tais frutos, está reservada á sorte da árvore inútil: Será cortada e lançada ao fogo. – Examina agora, meu irmão, se tens a fé, que é acompanhada de frutos de boas obras; ou somente de folhas e flores de desejos vãos e propósitos ineficazes. Reflete bem, que muitos cristãos, teus semelhantes, estão agora queimando no inferno por haverem tido uma fé morta.
II. Muito embora as boas obras sejam indispensáveis para a entrada no céu, não são, todavia, iguais para todos; mas cada um deve fazer bem segundo o seu estado e a sua profissão. – É por isso que no Evangelho deste dia o Senhor nos compara a plantas, que não produzem todas os mesmos frutos, mas cada uma os da sua espécie (5) O mesmo nos é também insinuado pelas seguintes palavras: O que faz a vontade de meu Pai, este entrará no reino dos céus.
Examina aqui novamente como, no teu estado de sacerdote, de religioso ou de secular, cumpres os teus deveres para com Deus, para contigo e para com o próximo, porque, na palavra de São Francisco de Sales: “Sem o cumprimento desses deveres, ainda que ressuscitasses defuntos, serias inimigo de Deus e morrerias em estado de condenação.” – Cuida sobretudo de que não sejas do número daqueles que, pelo desejo de fazerem sempre coisas grandes, descuram de fazer bem as coisas ordinárias.
Ó Senhor, eis que eu sou aquela árvore que há tanto tempo merecia ouvir: Succide ergo illam (6) “Corta-a”. Sim, porque em todos os anos que me acho no mundo, não Vos tenho produzido outros frutos, senão espinhos e abrolhos de pecados. Mas, não quereis que eu me perca; muito ao contrário, vejo que me ofereceis o perdão, se eu me arrependo de Vos haver ofendido. Sim, pesa-me, ó bondade infinita; e prometo que nos dias que ainda me restam, procurarei reparar o passado, redobrando meu fervor em Vos amar e servir.
Vós, porém, ó meu Deus, fortalecei-me com a vossa graça; e “pela vossa providência, que não se engana nas suas disposições, apartai de mim tudo o que é danoso e concedei-me o que me possa ser útil” (7). Fazei que eu aformoseie a minha fé por meio de boas obras e, assim cumprindo sempre a vontade do Pai celestial, me torne merecedor da beatitude eterna. Concedei-mo, pelo amor de Maria Santíssima.
Referências:
(1) Mt 7, 15ss (2) Zc 2, 26 (3) Rm 2, 6 (4) Lc 3, 8 (5) Gn 1, 12 (6) Lc 13, 7 (7) Or. Dom. curr.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 250-252)
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