2º Dia da Novena de Natal – Tristeza do Coração de Jesus no seio da Virgem Maria
Tristeza do Coração de Jesus no seio da Virgem Maria
Hostiam el obationem noluisti, corpus autem aptasti mihi – Não quiseste hóstia nem oblação, porém me formaste um corpo (Hb 10,5)
Sumário. Tudo quanto Jesus Cristo padeceu no correr da sua vida, foi-lhe posto diante dos olhos quando ainda se achava no seio de sua Mãe; e Jesus aceitou tudo por nosso amor. Porém, naquela aceitação e na repressão da repugnância natural, ó Deus, que aflição devia experimentar o seu Coração! Se Jesus, embora inocente, desde princípio da vida começou a sofrer por nós, não é justo que nós, que somos pecadores, padeçamos alguma coisa por seu amor e em desconto dos nossos pecados?
I. Considera a grande amargura de que o coração de Jesus Menino devia sentir-se atormentado e oprimido no seio de Maria, quando no primeiro instante da encarnação o Pai Eterno lhe mostrou toda a série de desprezos, de dores e de angústias que no correr da sua vida deveria sofrer, afim de livrar os homens do seu estado de miséria – Eis o que ele falou pela boca do profeta Isaías: Mane erigit mihi aurem – Pela manhã (o Senhor) levantar-me o ouvido. Isto é: no primeiro instante da minha encarnação, meu Pai me fez conhecer a sua vontade, que eu levasse uma vida de sofrimentos para ser finalmente sacrificado na cruz. Ego autem non contradico; corpus meum dedi percutientibus (1) – Eu não contradigo; entreguei o meu corpo aos que me feriam. Ó almas, aceitei tudo pela vossa salvação e desde então entreguei o meu corpo para receber os açoites, os pregos e a morte.
Pondera que tudo o que Jesus Cristo sofreu no correr da sua vida e em sua Paixão, foi-lhe posto diante dos olhos quando ainda se achava no seio de sua Mãe. Jesus aceitou tudo com amor. Mas naquela aceitação, e na repressão de sua repugnância natural, ó Deus, que angústias e que aflição não devia experimentar o Coração inocente de Jesus! Desde então compreenderia bem quanto teria de sofrer, primeiro nascendo numa gruta fria, pousada de animais; em seguida, tendo de morar trinta anos desconhecido na loja de um simples oficial. Já então viu que os homens haviam de tratá-lo de ignorante, de escravo, de sedutor, de réu de morte, digno da mais infamante e dolorosa morte destinada aos celerados. Tudo isso o nosso amante Redentor aceitou-o cada instante, mas cada vez que renovava a aceitação, tornava a sofrer juntas todas as penas e todas as humilhações que depois deveria sofrer até a morte. E para que? Para salvar-nos da morte eterna, a nós, miseráveis pecadores.
II. Ó meu amado Redentor, quanto Vos custou, desde a vossa primeira entrada neste mundo, tirar-me da miséria que tinha atraído sobre mim pelos meus pecados! Para me livrardes da escravidão do demônio, a quem de livre vontade me tinha vendido, Vós sujeitastes a ser tratado como o mais vil de todos os escravos. E eu, sabedor disso, tive ânimo de amargurar tantas vezes o vosso amabilíssimo Coração, que tanto me amou! Mas, já que Vós, que sois inocente e sois o meu Deus, aceitastes por meu amor uma vida e uma morte tão penosas, aceito, por vosso amor, ó Jesus meu, toda a pena que me vier das vossas mãos. Aceito-a e abraço-a por vir daquelas mãos que um dia foram transpassadas, afim de livrar-me do inferno tantas vezes merecido pelos meus pecados. Ó meu Redentor, o amor que mostrastes em oferecer-Vos a sofrer tanto por mim, constrange-me demais a aceitar por vosso amor toda a pena, todo o desprezo. Ó meu Senhor, pelos vossos merecimentos dai-me o vosso santo amor; este tornar-me-á suaves e amáveis todas as dores e todas as ignomínias. Amo-Vos sobre todas as coisas, amo-Vos de todo o meu coração, amo-Vos mais que a mim mesmo.
Durante toda a vossa vida me tendes dado provas demasiadamente grandes do vosso afeto para comigo. Eu, ingrato, já tenho vivido tantos anos nesta terra e quais são as provas de amor que Vos mostrei? Fazei, ó meu Deus, que ao menos nos anos de vida que me restam, Vos dê alguma prova de meu amor. Não tenho coragem de comparecer na vossa presença, quando vierdes a julgar-me, tão pobre como agora me acho, sem ter feito alguma coisa por vosso amor. Mas, que posso fazer sem a vossa graça? Nada senão pedir-Vos que me socorrais, e este mesmo pedido ainda é uma graça da vossa parte. Jesus meu, socorrei-me pelos merecimentos de vossas penas e do sangue que por mim derramastes.
Maria Santíssima, recomendai-me a vosso Filho, peço-o pelo amor que lhe tendes. Lembrai-vos que sou uma daquelas ovelhas pelas quais vosso Filho morreu.
Referências: (1) Is 50, 4-6
OBS: Santo Afonso indulgenciou esta Novena da seguinte forma: para cada dia da Novena, recebemos Indulgência de 300 dias. Para o dia do Natal ou num dia da Oitava, recebemos Indulgência Plenária se fizermos e cumprirmos as obras prescritas da Confissão e da Comunhão.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 58-60)
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