Meditação de 16 de julho

2 meditações
Procurar:
Festa de Nossa Senhora do Carmo

Festa de Nossa Senhora do Carmo

Gloria Libani data est ei, decor Carmeli et Saron — “A glória do Libano lhe foi dada, a formosura do Carmelo e de Saron” (Is 35, 2)

Sumário. São muitas as prerrogativas concedidas àqueles que se fizeram alistar na Confraria do Carmo, mas entre todas têm a primazia a promessa feita pela Santa Virgem ao Bem-aventurado Simão Stock; a saber, que serão preservados da condenação eterna e que serão livrados do purgatório no primeiro sábado depois da sua morte. Para gozar destes privilégios não bastam trazer o santo escapulário, mas é preciso cumprir também as condições prescritas e ter ao menos a vontade de deixar o pecado.

I. Assim como os homens se honram de ter alguns que trazem a sua libré, do mesmo modo Maria Santíssima estima que os seus devotos tragam seu escapulário, em sinal de serem dedicados ao seu serviço e de pertencerem à família da Mãe de Deus. A santa Igreja, mestra infalível da verdade, aprovou esta devoção com muitas bulas e enriqueceu-a de muitas indulgências.

Falando em particular do escapulário do Carmo, referem graves autores, e o Breviário Romano o confirma, que a Santíssima Virgem apareceu ao Bem-aventurado Simão Stock, e, dando-lhe o seu escapulário, lhe disse que àqueles que o trouxessem seriam livres da condenação eterna. Mais: aparecendo Maria outra vez ao Papa João XXII, lhe ordenou fizesse saber àqueles que trouxessem o sobredito bentinho, que seriam livres do purgatório no sábado depois da sua morte. O Papa declarou isso depois em uma bula confirmada sucessivamente por vários Pontífices, e especialmente por Paulo V, que também prescreve as condições que se devem observar para gozar do privilégio.

“O povo cristão”, diz ele, “pode crer piamente o que se refere acerca do auxílio que recebem as almas dos irmãos da Confraria de Nossa Senhora do Carmo; isto é, que a Bem-aventurada Virgem Maria ajudará com a sua contínua intercessão, com os seus rogos, com os seus merecimentos e com a sua especial proteção depois da morte, principalmente no sábado, consagrado pela Igreja à mesma Virgem, as almas dos irmãos que saíram deste mundo na graça de Deus, trouxeram o seu hábito, guardando castidade, segundo o seu estado, e rezaram o Ofício Parvo da Virgem; ou, se não o puderam recitar, observaram os jejuns da Igreja, e guardaram abstinência de carne na quarta-feira e no sábado, excetuando quando nele cair o dia de Natal”.

As indulgências ligadas a este escapulário do Carmo, como aos de Nossa Senhora das Dores, das Mercês e especialmente da Conceição, são inúmeras, parciais e plenárias, para o tempo da vida e para a hora da morte.

II. Meu irmão, se ainda não foste inscrito na Irmandade do Escapulário, pelo qual Deus tem feito e ainda faz milagres tão estupendos, faze-te alistar quanto antes. Lembra-te, porém, que esta bem como as demais práticas de devoção em honra da Virgem, para serem eficazes, devem ser acompanhadas das boas obras, da frequência dos sacramentos e sobretudo do horror do pecado; porquanto a divina Mãe nunca deseja patrocinar o pecado e é Mãe somente daqueles pecadores que têm vontade de se emendar. Ego sum quasi mater omnium peccatorum, volentium se emendare (1).

“Ó beatíssima Virgem imaculada, beleza e glória do Carmelo, vós que olhais com bondade inteiramente especial para aqueles que se vestem com o vosso bendito hábito, volvei sobre mim também um olhar propício, e cobri-me com o manto da vossa maternal proteção. Pelo vosso poder fortificai a minha fraqueza, pela vossa sabedoria dissipai as trevas do meu espírito, aumentai em mim a fé, a esperança e a caridade. Ornai a minha alma com graças e virtudes que a façam cara ao vosso divino Filho e a vós. Assisti-me durante a vida, consolai-me na morte pela vossa amável presença, e apresentai-me à augusta Trindade como Filho vosso e servo dedicado, para vos louvar e bendizer eternamente no paraíso”.

“E Vós, ó meu Deus, que honrastes a Ordem da vossa beatíssima Mãe e sempre Virgem Maria, com o singular título do Carmelo: concedei propício que, celebrando hoje com solene ofício a sua comemoração, munido do seu amparo, mereça chegar aos gozos eternos”.

Referências: (1) Revelação de Santa Brígida. (2) Indulgência de 200 dias. (3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 357-359)

Voltar ao calendário de meditações diárias

Ver os santos do dia

Produtos recomendados:

Compartilhe esta meditação:

Remorso do condenado: Eu me condenei por um nada

Remorso do condenado: Eu me condenei por um nada

Gustans gustavi paululum mellis, et ecce morior – “Tomei um pouco de mel, e por isso morro” (1 Rs 14, 43)

Sumário. A consciência roerá o coração dos réprobos por muitos remorsos; mas um dos que mais o atormentarão, será a lembrança de que se perdeu por um nada. Oh! que rugidos soltará o condenado, pensando que por algumas satisfações momentâneas e envenenadas, renunciou a um reino de eterna felicidade, e está condenado a arder para sempre naqueles abismos!… Meu irmão, reflete bem que também hás de sentir um dia o mesmo desespero, se não te aproveitares agora da divina misericórdia, e lembra-te mais uma vez de que para te assegurar a eternidade nenhuma providência é demasiada.

I. A consciência roerá o coração dos réprobos por grande número de remorsos; mas um dos que mais os atormentarão será o pensar no nada das coisas porque se condenaram. Quando Esaú tinha comido o prato das lentilhas, pelas quais vendeu o direito de primogenitura, diz a Escritura que pela dor e mágoa da perda se pôs a rugir. Irrugiit clamore magno(1). Mas, oh! que uivos e rugidos mais horrorosos não soltará o réprobo, pensando que por umas satisfações fugitivas e envenenadas perdeu um reino de eterno gozo, e que está reduzido a ver-se eternamente condenado a uma morte contínua! Chorará mais amarguradamente do que Jonathas, quando se viu condenado à morte por Saul, seu pai, por ter tomado um pouco de mel: Tomei um pouco de mel, e por isso morro.

Ó céus! que pena sofrerá o condenado, considerando então a causa da sua condenação! Presentemente, o que é a nossos olhos a vida já passada, senão um sonho, um instante? Que hão de parecer pois a quem está no inferno, esses cinquenta ou sessenta anos de vida passados na terra, quando se vir no oceano da eternidade, na qual passará cem e mil milhões de anos e de séculos e sempre verá que a eternidade está ainda no seu começo?

Mas, que digo! cinquenta anos de vida! Serão porventura cinquenta anos de gozo? Gozará porventura o pecador, vivendo longe de Deus, doçuras contínuas em sua vida pecaminosa? Quanto tempo duram esses prazeres do pecado? Uns instantes apenas, e todo o resto de tempo é, para o que vive na desgraça de Deus, um tempo de mágoas e pesares. Que serão, portanto, esses curtos momentos de prazer, aos olhos do infeliz réprobo? e especialmente, como se lhe afigurará então aquele último pecado pelo qual se perdeu?

Portanto — assim dirá de si para si, — por uma miserável satisfação, que durou apenas um instante, e apenas gozada se dissipou como o vento, estou condenado a arder neste fogo, sem esperança e abandonado de todos, enquanto Deus for Deus, durante toda a eternidade!

II. Que favor não seria para o réprobo, se Deus lhe concedesse mais um ano ou mês de vida, para reparar o mal praticado, e aplacar os remorsos que de contínuo o atormentam? Ora, meu irmão, esse tempo é a ti que Deus o concede, e então em que o quererás empregar? Pensa que se trata da eternidade, e que, na palavra de São Bernardo, nenhuma providência é demasiada para a pores ao abrigo dos perigos: Nulla nimia securitas, ubi periclitatur aeternitas.

Iluminai-me, Senhor, e fazei-me conhecer a injustiça que cometi ofendendo-Vos, e o castigo que mereci. Meu Deus, sinto grande mágoa por Vos haver ofendido; mas esta mágoa me consola. Se me tivésseis enviado ao inferno, como merecia, o inferno do meu inferno seria o remorso de pensar que me perdi por tão pouca coisa. Mas, agora este remorso me consola, porque me anima a esperar o perdão que prometestes ao que se arrepende. Sim, meu Senhor, arrependo-me de Vos haver ultrajado; abraço a mágoa que sinto e peço-Vos que m’a aumenteis e conserveis até à morte, afim de que eu chore sempre amargamente os desgostos que Vos dei.

Perdoai-me, meu Jesus! Ó meu Redentor, que, para ter piedade de mim, não tivestes piedade de Vós mesmo, condenando-Vos a morrer de dor: suplico-Vos que me livreis do inferno onde não mais Vos poderia amar. Fazei que a mágoa de Vos ter ofendido sustente em mim uma dor contínua e ao mesmo tempo me abrase todo em amor por Vós, que me haveis amado tanto, me haveis suportado com tão grande paciência, e, em vez de me castigar, me enriqueceis de luzes e graças. Graças Vos dou, ó meu Jesus, e amo-Vos mais que a mim mesmo, amo-Vos de todo o coração. — Não sabeis desprezar o que Vos ama. Amo-Vos; não me repilais de vossa presença. Recebei-me em vossa amizade, e não permitais que Vos torne a perder.— Maria, minha Mãe, aceitai-me por vosso servo e prendei-me a Jesus, vosso Filho. Suplicai-lhe que me perdoe, que me dê o seu amor e a graça da perseverança até à morte.

Referências:

(1) Gn 27, 34

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 272-274)

Voltar ao calendário de meditações diárias

Ver os santos do dia

Compartilhe esta meditação: