Meditação de 28 de outubro

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Festa dos Apóstolos São Simão e São Tadeu

Festa dos Apóstolos São Simão e São Tadeu

Annuntiaverunt opera Dei, et facta eius intellexerunt — “Anunciaram as obras de Deus, e entenderam os seus feitos” (Sl 63, 10)

Sumário. Posto que o Evangelho e a Tradição nos digam pouco acerca das virtudes de São Tadeu e nada acerca das de São Simão, temos todavia uma garantia da sua santidade, por terem eles sido dignos de se tornarem apóstolos e mártires de Jesus Cristo. De quantas graças não deviam ser enriquecidos, quantas virtudes não praticaram para conseguirem esta dúplice glória! Se, à imitação destes santos apóstolos, cooperarmos bem com a graça que Deus nos dá, poderemos ser também homens apostólicos e mártires de paciência. Por que então não fazê-lo?

I. Posto que o Evangelho e a Tradição pouco nos digam das virtudes de São Tadeu, e quase nada das de São Simão, podemos todavia medir-lhes a grandeza pela sua sublime dignidade de apóstolos de Jesus Cristo. Como apóstolos, ambos tiveram que abandonar para sempre os seus bens, a sua casa, os amigos e os parentes; tiveram que renunciar ao próprio juízo, à própria vontade, aos próprios sentimentos.

E tudo isto para seguirem Jesus Cristo, talvez menos conhecido pelos seus milagres do que pelo ódio que lhe tinham os grandes de Israel; para seguirem Jesus Cristo, que, como recompensa de tantos sacrifícios, lhes prometia, é verdade, os futuros bens celestiais, mas para a vida presente não lhes prometia senão misérias, perseguições e sofrimentos até a morte. Ora, como teriam os apóstolos sido capazes de executar coisas tão difíceis, se não possuíssem uma virtude sólida, e especialmente uma fé viva, uma firme esperança e um amor ardentíssimo para com o divino Redentor?

Qual tenha sido o ardor do seu amor ao próximo, se pode deduzir do zelo com que trabalharam pela salvação dos homens, por meio da pregação do Evangelho. Depois de Pentecostes, São Simão foi evangelizar o Egito e com tamanho fruto que se mostrou digno do título de Zelote, com que o distingue a Santa Escritura. São Tadeu, chamado também Irmão do Senhor, segundo a carne, percorreu para o mesmo fim a Síria e a Mesopotâmia.

E, não contente de trabalhar tão felizmente para a conversão dos gentios, quis estender o seu amor a todos os fiéis, e, por inspiração divina, escreveu a sua Epístola católica, na qual os anima a estarem firmes na fé e a usarem da oração, para se manterem no amor de Deus.

In Spiritu Sancto orantes, vosmetipsos in dilectione Dei servate (1) — “Orando pelo Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus”

Regozija-te com os santos apóstolos, agradece a Deus em seu nome, e procura ser também homem apostólico, pela imitação das suas virtudes.

II. Não há amor maior nem mais heroico que o que dá a vida pelo amigo: “Maiorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis suis”. Foi a este grau heróico que chegou a virtude de São Simão e de São Tadeu, pois que ambos coroaram os seus trabalhos com um generoso martírio. Depois de terem trabalhado separadamente na pregação do Evangelho, reuniram-se na Pérsia, a fim de pregarem juntos e com mais eficácia naquelas vastíssimas regiões. E tão bem foram sucedidos, que os sacerdotes dos ídolos, encolerizando-se, excitaram a populaça a matar os nossos santos. Diz a tradição que São Tadeu foi degolado e São Simão serrado pelo meio, pelo que um machado e uma serra são os símbolos de seu martírio.

Regozija-te novamente com os santos Apóstolos, e escolhe-os novamente para teus protetores especiais junto de Deus. Já que não tens a dita de os poderes imitar dando a vida por Jesus Cristo, esforça-te ao menos por imitá-los na paciência, suportando com resignação o mal que te sobrevier. Diz São Francisco de Sales que o serviço de Deus consiste mais no padecer do que no obrar.

Oferece também a Jesus Cristo o sacrifício da tua vida, pronto para morrer quando, onde e como ele quer; e desde hoje aceita a morte com todas as penas que a possam acompanhar, a fim de satisfazeres à justiça divina e dares à divina bondade uma prova de amor que lhe tens. Por esta intenção implora a intercessão dos santos Apóstolos, e lembra-te que a aceitação da morte, para cumprirmos a vontade divina, nos faz merecer uma recompensa igual à dos mártires, que são mártires exatamente por terem abraçado a morte para agradarem a Jesus Cristo.

“Ó Deus, que por meio dos vossos apóstolos São Simão e São Tadeu me fizestes vir ao conhecimento do vosso Nome, concedei-me que, celebrando a sua glória eterna, cresça mais e mais na piedade”. Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria.

Referências: (1) Jd 1, 20. (2) Jo 15, 13. (3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 380-382)

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Das penas do Inferno

Das penas do Inferno

Omnis dolor irruet super eum – “Toda a sorte de dores virá sobre ele” (Jó 20, 22)

Sumário. É artigo de fé que há um inferno, isto é, uma prisão miserabilíssima toda cheia de fogo, onde cada sentido e cada faculdade do réprobo sofrem uma pena particular. Enquanto fazemos esta meditação, tantos cristãos desgraçados, talvez da mesma idade que nós, talvez conhecidos nossos, estão ardendo nessa fornalha ardente, sem a mínima esperança de saírem de lá. Reflete agora, meu irmão: qual é o estado de tua consciência? Se o Senhor te deixasse morrer na primeira noite, para onde iria a tua alma?

I. Considera que o inferno é uma prisão miserabilíssima, toda cheia de fogo. Nesse fogo estão submergidos os réprobos, tendo um abismo de fogo acima de si, um abismo ao redor de si e um abismo abaixo de si. Fogo há nos olhos, fogo na boca, fogo por todos os lados.

Cada um dos sentidos sofre a sua pena própria. Os olhos são cegados pela fumaça e pelas trevas, e aterrados pela vista dos outros condenados e réprobos. Os ouvidos ouvem dia e noite urros, gemidos e blasfêmias. O olfato é empestado pelo mau cheiro daqueles inumeráveis corpos infectos. — O gosto é atormentado por uma sede ardentíssima e uma fome devoradora sem jamais obter uma gota de água nem um pedaço de pão. Por isso os desgraçados prisioneiros, ardendo em sede, devorados pelo fogo, cruciados por toda a espécie de tormentos, choram, urram e se desesperam. Mas não há, nem haverá jamais, quem os alivie ou console. Oh inferno, oh inferno! Como é que alguns não querem crer em ti, senão quando se veem precipitados dentro de ti!

Considera depois as penas que sofrerão as faculdades da alma. A memória será atormentada pelo remorso de consciência. O remorso é aquele verme que está roendo sempre no condenado ao pensar que se condenou por culpa própria, por uns poucos prazeres envenenados. Oh meu Deus! Como se lhe afigurarão aqueles prazeres momentâneos depois de cem, depois de mil milhões de anos? O verme do remorso lhe recordará o tempo que Deus lhe deu para salvação; a facilidade que teve de se salvar; os bons exemplos dos companheiros; as resoluções tomadas, mas não cumpridas. Verá então que não pode mais remediar a sua ruína eterna. Oh meu Deus, meu Deus! Que inferno no inferno será este! — A vontade será sempre contrariada; não terá nada do que deseja e terá sempre aquilo que não quer, isto é, toda a espécie de tormentos. O entendimento conhecerá o grande bem que perdeu, a saber: Deus e o paraíso. – Ó Senhor, perdoai-me, pelo amor de Jesus Cristo!

II. Meu irmão, dize-me se agora tivesses de morrer, para onde iria a tua alma? Não sabes suportar uma centelha caída de uma vela sobre tua mão e poderá suportar a permanência num abismo de fogo devorador, desolado e desamparado de todos, por toda a eternidade? — Ah! Quantos da mesma idade que tu, talvez conhecidos e companheiros teus, estão agora ardendo naquela fornalha ardente, sem a mínima esperança de poderem remediar a sua desgraça!

Agora talvez não te importe perder o paraíso e Deus; conhecerás porém a tua cegueira, quando vires os bem-aventurados em triunfo e no gozo do reino dos céus, e tu, como um cão lazarento, fores excluído daquela pátria feliz, da bela presença de Deus, da companhia de Maria Santíssima, dos Anjos e dos Santos. Então gritarás enfurecido: Ó paraíso de felicidades, ó Deus, Bem infinito, não sois nem sereis jamais para mim! — Ânimo, pois, faze penitência, muda de vida; não esperes que não haja mais tempo para ti. Pede a Jesus, pede a Maria que tenham piedade de ti.

Aqui tendes, Senhor, a vossos pés, o desgraçado que tão pouco caso fez da vossa graça e dos vossos castigos. Ai de mim! Quanto anos já devia estar abandonado por Vós e ardendo na fornalha do inferno! Mas vejo que me quereis salvar a todo o preço, porquanto com tamanha bondade me ofereceis o perdão, se eu quiser detestar os meus pecados; ofereceis-me a vossa graça e o vosso amor, se eu Vos quiser amar. Sim, meu Jesus, quero sempre chorar as ofensas que Vos fiz e amar-Vos de todo o meu coração. — Fazei-me saber o que quereis; quero satisfazer-Vos em tudo. Permiti que eu viva e morra em vossa graça; não me mandeis ao inferno onde não Vos poderia mais amar e disponde de mim segundo a vossa vontade.

— Ó Maria, minha esperança, guardai-me sob a vossa proteção e não permitais que eu venha ainda a perder o meu Deus.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 228-230)

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