Meditação de 31 de julho

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Festa de Santo Inácio de Loyola

Festa de Santo Inácio de Loyola

Quicumque glorificaverit me, glorificabo eum — “Eu glorificarei a quem me glorificar” (1 Sm 2, 30)

Sumário. O que mais distinguiu Santo Inácio foi o seu zelo pela glória divina. Foi um zelo esclarecido, porque, tendo começado por glorificar a Deus em sua própria pessoa pelo conhecimento e pelo amor, passou em seguida a glorificá-lo no próximo, promovendo de todos os modos o conhecimento e amor de Deus. E Deus, que se não deixa vencer em generosidade, ó, quão bem soube remunerar o seu servo, tanto nesta vida como na outra! Rejubilemo-nos com o santo, e agradeçamos por ele ao Senhor; e, para termos parte na recompensa do santo, imitemos os seus exemplos.

I. O caráter distintivo do grande Santo Inácio é o seu zelo pela glória divina; mas um zelo prudente e esclarecido, porque começou por glorificar a Deus em sua própria pessoa, por meio de uma conversão verdadeira. Quando estava doente de uma ferida, leu, por uma disposição da Providência, um livro de vidas de santos, e impressionado pelos atos sublimes daqueles heróis, sentiu-se abrasado no desejo de os imitar. Por que, dizia de si para si, como Santo Agostinho, por que não poderás tu fazer o que fizeram tantos jovens de toda condição, de ambos sexos? Tinham eles porventura uma natureza diferente? Serviam a outro senhor? Aspiravam a outro fim? Tu non poteris quod isti et istae?

Quando estava curado, fez Santo Inácio uma peregrinação ao santuário de Nossa Senhora de Montserrat; e, depois de fazer uma confissão geral dos seus pecados, retirou-se para a gruta de Manresa, a fim de praticar as penitências mais ásperas. Às austeridades exteriores, com as quais o santo castigava o seu corpo, Deus, a fim de purificá-lo mais, acrescentou outros sofrimentos de espírito. Permitiu que todas as cruzes da vida espiritual viessem pesar sobre ele; mas ao mesmo tempo deu-lhe amor e força para carregá-las com resignação.

Depois de ter assim glorificado a Deus em sua própria pessoa pelo conhecimento e amor, Inácio começou a glorificá-lo no próximo, promovendo de todos os modos este conhecimento e amor do Bem supremo. E porque as suas próprias forças não condiziam com a grandeza de seu coração, resolveu fundar a Companhia de Jesus, por meio da qual o seu zelo se estende a todos os tempos, a todas as idades, a todas as condições, a todas as nações da terra.

Rejubila-te aqui com o santo, e rende graças a Deus por lhe haver comunicado tão alta virtude. Ao considerares que ele ainda continua a promover a glória de Deus, por meio dos religiosos, seus filhos, pede a Deus que os faça crescer em número, os proteja nas perseguições e dê a todos a santa perseverança.

II. Deus nunca se deixa vencer em amor; e se Inácio foi generoso na promoção da glória divina, mais generoso foi o Senhor para com ele em remunerá-lo desde a vida presente:

“Eu glorificarei a quem me glorificar” (1)

Antes que o santo se tivesse convertido plenamente, enviou-lhe Deus do céu o Príncipe dos apóstolos, a fim de lhe curar a ferida, e pouco depois a mesma Bem-aventurada Virgem com o divino Menino, a qual pela sua presença extinguiu nele para sempre toda a inclinação aos prazeres sensuais.

Depois da conversão do santo, apareceu-lhe Jesus Cristo inúmeras vezes, tratando-o com familiaridade incrível, afirmando-lhe a sua proteção e revelando-lhe segredos acerca dos mistérios mais sublimes. Mais: Deus fê-lo autor do livro exímio dos “Exercícios espirituais”: e visto que então o santo mal sabia escrever, ordenou que na composição deste livro a divina Mãe o assistisse de um modo especial. Mas a glória mais bela com que Deus remunerou o seu glorificador é esta: fê-lo pai de uma Ordem que deu e ainda dá tantos santos à Igreja, tantos apóstolos ao mundo e tantas almas a Deus.

Ao pensar em tamanha glória de Inácio, sentes desejo de participar dela; mas deves então imitar primeiro as virtudes do santo e especialmente o seu zelo pela glória de Deus. Começa, com ele, por glorificar a Deus em ti mesmo, por meio de uma verdadeira emenda, pois que “aquele que é mau para si, não pode ser bom para os outros” (2). Para este fira recomenda-te ao Senhor pelos merecimentos do santo.

“Ó meu Deus, Vós, que para dilatar mais a glória do vosso Nome fortalecestes por intermédio de Santo Inácio a Igreja militante com um novo auxílio, concedei-me propício que, com o auxílio e à imitação deste santo, combatendo cá na terra mereça ser coroado com ele no céu” (3). Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria.

Referências: (1) 1 Sm 2, 30. (2) Eclo 14, 5. (3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 340-343)

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Pena de dano que os réprobos sofrem no inferno

Pena de dano que os réprobos sofrem no inferno

Derelinquam eum, et abscondam faciem meam ab eo… invenient eum omnia mala – “Eu o deixarei, e esconderei dele meu rosto… todos os males virão sobre ele” (Dt 31, 17)

Sumário. Não são as trevas, a infecção, os gritos, o fogo, que constituem o inferno; o que faz o inferno é a dor de ter perdido a Deus e de não O poder amar. Aparta-te (dirá o Juiz à alma na sentença final), aparta-te de mim; não te quero mais ver. Tu não mais serás minha, nem eu serei nunca mais teu. Ó separação amarga!… Quem sabe, meu irmão, se esta pena tão terrível não nos está reservada também? Fascinados como estamos pelos bens terrestres, não a compreendemos agora, mas experimenta-la-íamos, se um dia tivéssemos a desgraça de nos perder.

I. Todos os sofrimentos dos réprobos no inferno não são nada em comparação com a pena de dano. Não são as trevas, a infecção, os gritos, o fogo, que constituem o inferno: o que faz o inferno é a dor de ter perdido a Deus e de não mais O poder ver nem amar. É o que um dia o demônio disse quando Santa Catarina de Gênova lhe perguntou quem era: “Eu sou aquele”, respondeu, “que está privado de amor de Deus”.

– Pelo que São João Crisóstomo diz que mil infernos não podem igualar esta perda; que mil infernos nada seriam em comparação com a pena de estar longe de Deus e ser odiado por Ele. Santo Agostinho acrescenta que os condenados, se gozassem a vista de Deus, deixariam de sofrer e o inferno tornar-se-ia paraíso: Ipse infernus verteretur in paradisum.

Fascinados como estamos pelos bens da terra, não podemos compreender o que seja o estar privado para sempre da presença de Deus, mas para fazermos uma leve ideia deste tormento, arrazoemos assim: Se alguém perdesse uma pedra preciosa no valor de 100 mil reis, sentiria grande mágoa; se tivesse o valor de 200 mil reis, a mágoa seria dobrada; maior ainda seria, se o valor fosse de 400 mil reis; numa palavra, a mágoa cresceria sempre em proporção do valor do objeto perdido. E qual é o bem que o réprobo perde? Um bem infinito, que é Deus; portanto, conclui Santo Tomás, a pena que esta perda lhe causa, é de algum modo infinita.

Todo o inferno está, pois, nestas primeiras palavras da sentença final: Discedite a me, maledicti – Retirai-vos, malditos, não quero que me torneis a ver a face. – Se ouvíssemos os gemidos de uma alma condenada, e lhe perguntássemos: Ó alma, porque estás gemendo tanto? Ela só teria esta única resposta: Estou gemendo, porque perdi meu Deus e nunca mais o tornarei a ver. Esconderei dele meu rosto; todos os males virão sobre ele.

II. Quando Davi condenou Absalão a não mais se apresentar diante dele, o jovem príncipe ficou tão aflito que respondeu: “Dizei a meu pai que me dê licença de o ver, ou que me mande matar.” (1) A um fidalgo de sua corte, que se tinha portado com pouco respeito na igreja, disse um dia Filipe II: “Não compareças mais em minha presença.” O cortezão retirou-se para casa tão consternado, que morreu de pesar. Que será então, quando, na hora da morte, Deus dizer ao réprobo: “Aparta-te; não te quero mais ver; nunca mais serás meu e eu nunca mais serei teu!Voca nomem eius, non populus meus (2) – “Chama-lhe pelo seu nome: Não-meu-povo”.

Vós sois, meu Deus, o soberano Bem, o Bem infinito, e quantas vezes Vos perdi eu voluntariamente! Sabia que pelo meu pecado Vos ofendia gravemente, e no entanto o cometi! Ah, se não Vos visse pregado na cruz a morrer por mim, já não teria mais coragem para Vos pedir e esperar o perdão. A esta hora deveria estar no inferno, já há muitos anos, sem esperança de poder ainda amar-Vos e de recuperar a vossa graça perdida. Meu Deus mais do que todos os males detesto a injúria que Vos fiz, renunciando à vossa amizade e desprezando o vosso amor, por indignos prazeres da terra. Porque não morri antes mil vezes? Como pude ser tão cego e tão insensato?

Agradeço-Vos, meu Senhor, por me concederdes o tempo para reparar o mal que fiz. Já que, pela vossa misericórdia, estou ainda fora do inferno e Vos posso amar, quero amar-Vos, meu Deus. Nem por um só instante quero adiar a minha conversão. Amo-Vos, bondade infinita, amo-Vos minha vida, meu tesouro, meu tudo. Meu Jesus, lembrai-me sempre o amor que me haveis tido e o inferno em que devia estar, afim de que este pensamento me anime incessantemente a fazer atos de amor e a dizer-Vos: eu Vos amo, eu Vos amo.

– Ó Maria, minha Rainha, minha Esperança e minha Mãe, se estivesse no inferno, já não poderia amar-Vos. Amo-Vos, minha Mãe, e em vós espero nunca deixar de vos amar, a vós e a meu Deus. Ajudai-me; rogai a Jesus por mim.

Referências:

(1) 2 Rs 14, 25 (2) Os 1, 9

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 311-314)

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