Epifania do Senhor
A festa que a Igreja celebra, tem o nome de Epifania, isto é, aparição do Senhor, por apresentar-nos três grandes mistérios, em que Jesus Cristo se manifestou ao mundo como Filho de Deus e Salvador do gênero humano. O primeiro destes mistérios é a adoração que os três Magos prestaram ao Menino, em Belém. O segundo é o Batismo de Jesus Cristo no Jordão, ocasião em que o Pai celeste fez a apresentação de seu Filho, dizendo: "Este é meu Filho mui amado, em quem pus minha complacência". O terceiro, finalmente, é a transformação da água em vinho, milagre que Cristo fez, por ocasião das bodas de Caná, para manifestar aos discípulos sua missão messiânica.
Logo após seu nascimento no estábulo de Belém, Jesus Cristo quis manifestar-se aos judeus e aos pagãos. Aos pastores, que estavam nos campos vigiando os seus rebanhos, mandou celeste mensagem, por intermédio dos Anjos, que lhes anunciaram grande acontecimento, dizendo: "Não temais; anuncio-vos uma boa nova, que há de ser para todo povo motivo de grande alegria! Hoje na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é o Cristo, nosso Senhor" (Lc. 2, 10). Aos pagãos do Oriente mandou a estrela maravilhosa, a anunciar-lhes o aparecimento daquela estrela profetizada por Balaam, nas palavras: "Uma estrela sai de Jacó, um cetro levanta-se de Israel, que esmagará os príncipes de Moab".
Os pagãos bem conheciam esta profecia, e ansiosos esperavam pelo aparecimento da estrela preconizada. Afinal a viram surgir. Sobressaindo entre as outras, pelo brilho e a posição extraordinários, chamou a atenção de três homens, conhecidos por Gaspar, Melquior e Baltazar ou, como a Bíblia os intitula, os três Magos do Oriente. Iluminados por luz divina, conheceram no aparecimento da estrela o sinal indubitável do cumprimento da palavra profética de Balaam, e sem demora trataram dos preparos da viagem, que os levassem à presença do Rei dos Judeus recém-nascido.
A estrela servia-lhes de guia. Seguindo-a sem desfalecimento, chegaram a Jerusalém. Pela primeira vez, ao chegarem à capital de Judá, o astro maravilhoso se lhes escondeu das vistas, e grande foi a tristeza e não menor o desapontamento dos Magos. Na convicção, porém, de tratar-se de um fato por todos conhecido e, julgando que não houvesse na cidade quem não soubesse dar-lhes as necessárias informações sobre o Rei dos Judeus recém-nascido, confiadamente entraram em Jerusalém e perguntaram: "Onde está o Rei dos Judeus, que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo" (Mt. 2, 2.).
Se grande lhes foi o desaponto por não mais ver a estrela, sua fiel companheira, maior foi a decepção que experimentaram, ao notarem o espanto que essa pergunta causou às pessoas a quem a dirigiram.
A chegada de três príncipes estrangeiros à capital dos Judeus provocou grande alvoroço na cidade e na corte real. O rei Herodes perturbou-se sobremodo, não sabendo o que pensar da inesperada nova. No intimo começou a recear pelo trono. Reuniu os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, para que lhe dissessem algo do lugar onde devia nascer o Cristo.
Os judeus conhecedores que eram das profecias, não duvidaram de que teria chegado o momento do Messias aparecer. Sabiam também o lugar onde, segundo o profeta Michéas, o Desejado das nações havia de nascer. A resposta dos sacerdotes não deixou nada a desejar, quanto à clareza, e era concisa nestes termos: Os sagrados livros dizem: Em Belém, terra de Judá, há de nascer o Cristo; pois está escrito: pelo profeta: "Tu, Belém na terra de Judá, não és por certo a menor, entre as cidades principais da Judéia; pois é de ti que há de sair o chefe, que deve governar Israel, meu povo".
Tendo Herodes ouvido a resposta dos entendidos, mandou vir secretamente os Magos, e indagou o tempo exato em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois, mandando-os a Belém, disse-lhes: "Ide, informai-vos do Menino com cuidado, e logo que encontrardes, vinde dizer-me a fim de que eu também o vá adorar". Não era, porém, esta a sua intenção. Falso que era, fingiu grande devoção e interesse de conhecer o Messias, e figurar entre os primeiros adoradores, quando sua intenção verdadeira era apoderar-se da criança e matá-la. Os Magos, cheios de alegria, por ter obtido informações tão claras partiram. A estrela que tinham visto no Oriente, caminhava diante deles e quando chegou em cima do lugar onde estava o Menino, parou. Por inspiração divina sabiam, que se achavam na presença d'Aquele que, nascido na pobreza, era o Rei do Universo.
Entraram na casa, e aí acharam o Menino, com Maria, sua Mãe. Tomados de profundo respeito, prostraram-se por terra e adoraram ao Menino, como Deus e Salvador do mundo. Em seguida abriram os tesouros e ofereceram ao divino Infante ouro, incenso e mirra.
Cumpriu-se a profecia do rei Davi, que diz: "Reis de Tharsis e das ilhas virão oferecer-lhe presentes; os reis da Arábia e de Sabá trarão oferendas" (S. 71, 10). Sobre o tempo que os Magos permaneceram em Belém, os Santos Livros nada dizem. Nada sabemos o que entre eles e José e Maria se passou. É, porém, provável, que se tenham demorado na cidade de Davi e que José e Maria lhes tenham referido tudo que se passara nos últimos dias, antes de sua chegada do Oriente.
Tratando da volta, quiseram, como a Herodes tinham prometido, passar por Jerusalém. Um Anjo, porém, apareceu-lhes dando-lhes a ordem expressa que tal não fizessem. Obedientes a este celeste aviso voltaram por caminho diferente para sua terra.
É fora de dúvida que os Magos tenham comunicado aos súditos o aparecimento do Salvador e com eles se tenham convertido à religião, de que se confessaram fiéis discípulos até o fim da vida. Um autor antiquíssimo, na explicação que faz do Evangelho de São Mateus, diz que o Apóstolo Tomé os batizou na Pérsia e com eles milhares de súditos. Uma tradição existe, segundo a qual as relíquias dos Magos foram transportadas para Constantinopla, e de lá passaram para Milão, de onde, no século 12, o Imperador Frederico Barbaroxa as transladou para Colônia, em cuja majestosa Catedral são até hoje veneradas.
Epifania – Cf. Bento XIV. De festis D. N. J. Chr. tom. 1. Raess e Weiss vol. 1. p. 119.
Nota: A piedade e costume acostumaram-nos a ver os três Magos junto ao presépio do Menino Jesus. Não é fácil fazer uma discriminação exata entre poesia e verdade histórica, entre lenda e revelação bíblica. Há quem sustente, que os três Magos tenham chegado em Belém antes da apresentação do Menino Jesus no templo. Se assim fosse, os espiões de Herodes não teriam descoberto a criança? Mais: se os Magos tivessem vindo antes da purificação de Nossa Senhora, esta, tendo recebido ouro e preciosidades, em vez de um par de pombas não teria ofertado um cordeirinho? A apresentação de Jesus no templo teve lugar quarenta dias depois do seu nascimento. Teria a Sagrada Família passado todo este tempo na gruta de Belém? São Mateus (2. 11) relata a visita dos Magos da seguinte forma: "Quando entraram na casa, viram o menino com sua mãe Maria. Em S. Lucas, (2. 39) lemos: "Depois que eles cumpriram todas as coisas segundo a lei do Senhor, voltaram a Galileia, para sua cidade de Nazaré". Assim, de acordo com a Sagrada Escritura podemos admitir que os Magos apareceram um ano ou alguns meses depois do nascimento de Jesus. Depois dos quarenta dias a Sagrada Família teria voltado para Nazaré, e novamente se mudado para Belém, quando recebeu a visita dos Magos e logo depois foi obrigada a fugir para o Egito.
Reflexões
Os três Magos são, com toda razão, chamados as primícias da nossa fé, e sua festa é digna de ser celebrada com a maior solenidade, em sinal de alegria, por Deus ter chamado também os pagãos, ao conhecimento da religião de seu Filho Unigênito. "É um beneficio imenso, que Deus me fez, ter-me chamado à existência num tempo e numa terra, onde reina a verdadeira religião", diz Santo Agostinho. "Milhares e milhares de homens vejo, que não têm esta felicidade. Quantos milhões são ainda pagãos?" – Agradece de todo coração a Deus a graça de tua vocação cristã e procura tornar-te cada vez mais digno da mesma.
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Em Tunis grande número de cristãos, que, sob o governo de Severo, foram queimados vivos.
Na Champagne (França) a Virgem e Mártir Macra, no tempo da perseguição diocleciana. Atirada à fogueira, nada sofreu. Depois cortaram-lhe os seios e meteram-na em calabouço imundo, horrivelmente mutilada. Não satisfeitos com esta crueldade, revolveram seu corpo sobre espinhos agudos e queimaram-no sobre brasa. Entre estes tormentos desumanos a mártir exalou seu espírito em 304.
Em Rennes (França) o Bispo S. Melanio, homem de grandes virtudes e taumaturgo. Faleceu em 549.
Em Gera (Egito) o eremita S. Nilamon, chamado o Recluso. Indicado para ser bispo de Gera, não foi possível fazê-lo sair da sua ermida por todos os lados fechada com pedras. Morreu rezando e pedindo a Deus que o livrasse do cargo episcopal. Faleceu em 404.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 6 de janeiro.
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