Santo Irêneo, Bispo e Mártir
(† 304)
Santo Ireneo, Bispo de Sírmio na Hungria, figura entre as numerosas vítimas da sanha cristófoba de Diocleciano. Das atas do seu martírio citamos o diálogo que houve entre ele e Probo, governador da Hungria, então chamada Panônia. "Obedece às leis divinas, que impõem a todos os homens adorarem os deuses", intimou Probo a Irêneo. Este respondeu, "Amaldiçoado aquele que presta homenagens aos deuses, em vez de rendê-las ao único Deus verdadeiro". Probo: "Temos ordem do sereníssimo Senhor e Imperador de castigar, aquele que não sacrifica aos deuses". Irêneo: "A ordem do meu Deus é: antes sofrer toda a sorte de martírio, que negar seu Nome e sacrificar aos demônios". Probo: "De duas uma: ou adorarás aos deuses ou serás entregue aos algozes". Ireneo "Maior satisfação não poderia ter, pois assim teria a honra de participar da Paixão do meu Senhor". Probo deu então ordem de pô-lo no cavalete. Ao ver o Bispo horrivelmente sofrendo, perguntou: "Que dizes Irêneo? Não te resolves ainda?" Irêneo: "Estou oferecendo a meu Deus o sacrifício da minha confissão pública".
Grande tristeza apoderou-se da família do Santo, quando teve notícias do que acontecera. Irêneo, antes de ser elevado à dignidade episcopal, havia-se casado, o que naquele tempo era permitido, devido à dificuldade de encontrar homens solteiros para o sacerdócio. Depois, porém, de ter recebido as Ordens viveu de conformidade com as leis da Igreja, em absoluta continência. Vieram a mãe, esposa e filhos, todos consternados pelo triste espetáculo, que se lhes desenrolava diante dos olhos. Os filhinhos abraçaram os joelhos do pai e, entre soluços e lamentos, exclamaram: "Paizinho, tem pena de ti e de nós". A esposa, desfeita em lágrimas e quase fora de si de dor e de tristeza, estreitou-o ao coração e disse-lhe: "Conserva-te para mim e para estes inocentes penhores do nosso amor! "A mãe soluçava alta mente e com ela todos os parentes, que se colocaram ao redor do instrumento do martírio. Todos, cada um do seu modo se lhe dirigiam pedindo que tivesse dó dos filhinhos, Irêneo, porém, inflamado de um amor mais santo que o da carne e sangue, opôs a estes pedidos e protestos dos amigos a palavra de Jesus Cristo: "Quem me negar diante dos homens, será por mim negado diante de meu Pai, que está nos céus". E nada mais respondeu, apesar de insistirem para que tivesse pena de si. Diante destas cenas de dor e de desolamento, Probo perguntou ao Mártir: "Que direis? Não tens dó das lágrimas de teus íntimos amigos e ainda não queres abandonar tua absurda pertinácia? Então a ternura é indigna de um homem? Poupa a flor de tua velhice e sacrifica". Irêneo respondeu: "O melhor modo de poupar-me é cuidar da minha eterna salvação e não sacrificar aos deuses".
Probo ordenou que o Mártir fosse levado ao cárcere, onde ficou por algum tempo, sempre sofrendo maus tratos. Conduzido novamente à presença do juiz e algoz, e intimado a abandonar a religião, Irêneo declarou: "Farei o que as leis do imperador te ordenam, não mudarei meu modo de pensar". Ouvindo estas palavras, Probo mandou-o espancar barbaramente. Irêneo, no meio do martírio, disse: "Tenho o meu Deus, que adoro desde a infância; ele me dará força e a ele ofereço sacrifícios, mas ídolos feitos por mãos de homens, não posso adorar". Probo: "Trata de conservar a vida. Ainda não sofreste bastante?" Irêneo: "Eu conservo a vida e fujo da morte, porque sofrendo, alcançarei a vida eterna". "Então não tens esposa?" perguntou Probo. "Não", respondeu Ireneo. "Não tens filhos ?" "Não os tenho". "Não tens pais e parentes ?" "Não". "Quem então foram aquelas pessoas, que no primeiro inquérito que houve, tanto choraram por tua causa?" "Há um mandamento de meu Senhor Jesus Cristo que diz: "Quem ama a seu pai, sua mãe, a esposa, filhos, irmãos e parentes mais que a mim, não é digno de mim" (Mt. 10, 37). Elevando pois, os olhos para meu Deus, a quem adoro e lembrando-me da felicidade que me foi prometida, esqueço que sou pai, marido, mestre e amigo". Probo mais uma vez tentou salvar a vida de Ireneo e disse-lhe: "Sacrifica aos deuses, pelo menos por amor a teus filhos e parentes". Ireneo: "Meu filhos tem o mesmo Deus que eu. Ele é seu pai e pode dar-lhes a salvação; cumpre, portanto, as ordens que recebeste. Probo: "Pela última vez te digo: salva a tua vida, sacrifica, para que não me veja obrigado a entregar-te aos últimos tormentos". Faze o que entenderes e verás quanta paciência e força meu Senhor Jesus Cristo me dará para sofrer tudo". "Bem, eis a sentença: Ordeno, que Irêneo seja lançado ao rio por não se ter sujeito jeito às ordens do Imperador", Irineo "Depois de tantas e tão terríveis ameaças, esperava eu mil outros tormentos e finalmente morto pela espada. Vejo que tens dó de mim, não me aplicando as penas mais fortes que aquelas que esperava, mas peço-te experimentares em minha pessoa martírio maior, para que possas conhecer, com que coragem os cristãos desprezam a morte, quando devem sofrê-la por causa da fé".
Probo pasmo e ao mesmo tempo irritado pela constância e intrepidez do santo Bispo, ordenou que o mesmo fosse decapitado. Irêneo, ao ouvir esta nova sentença, exclamou: "Graças vos dou, Senhor Jesus Cristo, que me destes paciência e fortaleza para sofrer as dores do martírio e que vos dignastes de chamar-me à eterna glória,
Tendo chegado à ponte, elevou as mãos ao céu e disse: "Senhor Jesus Cristo, que por vontade vossa sofrestes pelo mundo, estejam abertos os céus, esperem-me os anjos, vossos ministros para me receber, a mim, que sofro pelo vosso santo Nome e pelo povo que me confiastes Imploro a vossa misericórdia, para que me acolhais benignamente e fortaleçais na fé a Igreja de Sirmio". Imediatamente lhe foi dado o golpe mortal e o corpo atirado ao Save. O martírio de Santo Irineo teve lugar no ano de 304.
Reflexões
Não temos de lutar contra inimigos e perseguidores da nossa fé, como Santo Ireneo, que, desprezando os sofrimentos do martírio, as súplicas da esposa, as lágrimas dos filhos e parentes, preferiu dar a vida em testemunho de suas convicções religiosas. A nossa luta é outra, mas não menos terrível, a luta contra os inimigos interiores, que nos tentam sem cessar e nos levarão à desgraça eterna, se não lhes opusermos a mais decidida resistência. A concupiscência da carne, de todas a paixões a mais tirânica e perigosa, é uma terrível inimiga nossa. Pecado igual a queimar incenso aos ídolos é a condescendência com esta paixão, com a qual profanamos o templo de nossa alma, que pertence ao Espírito Santo. Tanto os impuros como os idólatras, não possuirão o reino de Deus. A concupiscência carnal é um mal que existe em nós devido ao pecado original, um mal, porém, que podemos e devemos combater. A concupiscência carnal temo-la comum com os irracionais; estes não a combatem, porque neles é instinto, nós, porém, devemos combatê-la e domá-la, porque é indigna da nossa vocação sobrenatural. Deus quer que a combatamos e nos auxilie com sua graça. Dar-te-ei inteligência e instruir-te-ei no caminho em que hás de andar. Não queiras ser como o cavalo e o mulo, que não tem entendimento" (S. 31, 8). Injuria a Deus, desrespeita a Nosso Senhor, vilipendia sua própria natureza, quem afirma ser a prática da virtude da pureza coisa impossível. "Tudo posso naquele que nos dá força". (Filip. 4, 13). Para conservar-nos puros, é preciso, é indispensável, que afastemos de nós o perigo, a ocasião. Sem que ponhamos freio aos olhos, sem que recusemos ao corpo as delícias que reclama, sem que imponhamos moderação aos nossos, apetites, sem que fujamos das más companhias, que nos aparecem em forma de pessoas, livros, revistas, divertimentos, não nos será possível sairmos vitoriosos da luta contra a concupiscência. Suzana, José do Egito, S. Luiz Gonzaga, S. Tomás de Aquino mostraram-nos como devemos combater o nosso poderoso inimigo. Imponhamo-nos como primeira condição, para nos livrarmos do perigo, a fuga das ocasiões e a mortificação dos sentidos, sendo que a oração e a confiança em Deus são também indispensáveis. "Sabendo eu que não me podia conservar casto, recorri ao Senhor, pedindo-lhe auxilio", confessa David. Com a graça de Deus e nossa boa vontade, com a oração e a vigilância, conseguiremos também a vitória sobre o inimigo, de todos o mais terrível.
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Na Tunísia a memória do mártir S. Vitoriano, proconsul de Cartago e de dois negociantes, de nome Frumêncio. Segundo o testemunho do bispo africano Vitor, morreram pela fé na perseguição dos vândalos.
Em Barcelona o santo sacerdote José Oriól, padre secular, grande sacerdote, amigo dos pobres e enfermos. Faleceu em 1702. Canonizado por Pio X.
Em Peru, S. Turíbio, arcebispo de Lima, que morreu em 23 de março de 1906. Foi um grande Apóstolo dos índios, que nele possuíam um protetor contra as operações e injustiças dos conquistadores do Peru.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 23 de março.
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