Santos Epipódio e Alexandre, Mártires
(† 178)
Quando Antônio Vero era imperador romano, a perseguição religiosa fez muitas vítimas, entre os cristãos da cidade de Lion. A fúria dos pagãos celebrava orgias de crueldade. Os nomes de bem poucos mártires passaram à posteridade, tendo morrido a maior parte, cujos nomes se acham registrados no livro da vida. Depois da grande e pavorosa carnificina, a que centenas de cristãos foram sacrificados, aparecem ainda Epipódio e Alexandre, cujos nomes foram indicados ao juiz, como de indivíduos que clandestinamente aderiam à religião cristã. Ambos eram de ilustre descendência. Epipódio era Lionês e Alexandre filho da Grécia. Jovens ainda, tinham feito os estudos nas mesmas escolas e sendo da mesma religião, viviam na mais santa amizade. Durante a perseguição, se animaram mutuamente a perseverar na prática da fé. Fazendo obras de misericórdia e pelo exercício das virtudes da castidade, temperança e caridade, prepararam-se para o martírio. Para poder servir a Deus com mais liberdade, resolveram não se ligar pelos laços do matrimônio.
Quando, em 178, o fogo da perseguição começou a alastrar-se, seguindo o conselho do Evangelho, Epipódio e Alexandre procuraram um abrigo seguro. Saíram de Lion e aceitaram a hospedagem que uma piedosa viúva cristã lhes tinha oferecido, numa aldeia perto da cidade. Lá ficaram por algum tempo, sem que a fúria dos perseguidores os tivesse vindo incomodar. Um dia, porém, foi-lhes descoberto o esconderijo, e contra toda a praxe, sem que fossem ouvidos em tribunal, foram metidos na prisão. Só três dias depois, com as mãos atadas nas costas, foram apresentados ao governador.
Apenas tinham declarado serem cristãos, quando o povo, com grande fúria e ímpeto, os increpou: "Ainda tendes a ousadia de recusar-vos a sacrificar aos deuses? Ainda vos atreveis a calçar aos pés as leis dos imperadores e cometer o crime de lesa-majestade, ofendendo o imperador e os deuses ao mesmo tempo? Onde estão os ecúleos, onde estão os patíbulos, as cruzes e as feras, onde estão os tenazes em brasa? Não temos mais torturas, que os acompanhem até às fronteiras da morte? Não mais existem aqueles homens, nem seus túmulos, mas ainda vive a memória de Cristo! Que atrevimento é esse, de permanecerdes nessa religião proibida? Haveis de pagar bem caro vossa temeridade!"
Para que os dois não se pudessem comunicar e mutuamente se animar, o juiz mandou que fossem separados e começou o julgamento de Epipódio, o mais moço. Antes de mais nada, procurou ganhá-lo por meio de elogios e promessas. O Santo, porém, respondeu-lhe: "A caridade de Cristo e a fé católica muniram-me bastante, para que o fingimento de tua compaixão não consiga a mudança do meu pensar. Essa tua compaixão é crueldade, viver convosco é morte, sofrer a morte das vossas mãos é honra. Não sabes que Nosso Senhor eterno, Jesus Cristo, que dize ter sido crucificado, ressuscitou dos mortos e, sendo Deus e homem verdadeiro, preparou aos seus servos o caminho da imortalidade e os conduz à glória do céu? Para falar-te em linguagem mais compreensível, teu espírito de certo não está tão entenebrado, que não saibas que o homem é composto de corpo e alma. As monstruosidades, com que homenageias os ídolos, satisfazem o corpo, mas matam a alma. Nós guerreamos o corpo, para salvar a alma; pugnamos em prol da alma, contra os vícios. Se nós, por vós perseguidos, morremos, deixamos apenas a vida temporal, para entrar na eterna".
O juiz, irritado com esta declaração franca de Epipódio, mandou que lhe batessem na boca. O mártir porém, continuando, disse: "Confesso que Jesus Cristo é Um com o Pai e o Espírito Santo, e justo é que eu lhe entregue a minha alma, por Ele criada e remida. Assim minha vida não me é tirada, mas transformada em outra melhor".
A esta confissão se seguiu um tratamento bárbaro, a que o juiz mandou que Epipódio fosse sujeito. Esticado sobre o ecúleo, foram-lhe os lados dilacerados com harpões de ferro. O Santo não deu o menor sinal de impaciência, suportando tudo com a maior calma. Enfureceu-se com isto o povo, o qual quis atirar-se sobre o santo Mártir, para matá-lo. O juiz ordenou então que Epipódio fosse decapitado e esta ordem foi prontamente executada.
Dois dias depois entrou em julgamento o companheiro de Epipódio, Alexandre.
Longe da narração do martírio horrível de Epipódio e de outros cristãos a este intimidar, fortificou-se-lhe ainda mais o ânimo e como eles, fez solene profissão de fé. O juiz condenou-o à flagelação que foi cruelmente executada. Alexandre suportou-a com a maior coragem. Sendo perguntado depois, se persistia nos erros, respondeu: "Como não hei de persistir? Os ídolos dos pagãos são demônios, mas o Deus a que rendo homenagem e que é santo e eterno, dar-me-á força, para confessá-lo até o fim. Proteger-me-á na minha fé e bom propósito".
O juiz, vendo que era inútil qualquer outra insistência, mandou que Alexandre fosse crucificado. O Mártir, todo ensanguentado e horrivelmente maltratado, com voz agonizante invocou ainda o nome de Jesus Cristo. Os cristãos procuraram os corpos dos mártires e enterraram-nos clandestinamente.
A vitória do paganismo foi de curta duração. Os túmulos de Epipódio e Alexandre foram glorificados por numerosos e estupendos milagres, e o povo cristão, de perto e longe, veio para venerar as santas relíquias dos Mártires e invocar-lhes a intercessão.
Reflexões
Os Santos Epipódio e Alexandre confessaram o nome de Jesus Cristo e selaram a fé com o próprio sangue. Também nós devemos confessar a nossa religião, sempre que as circunstâncias o exigirem. Pode a prudência aconselhar-nos certa reserva, principalmente quando se trata de provocações da parte de inimigos da religião, que outra coisa não pretendem senão a sensação ou talvez o escândalo. Pelo seu próprio exemplo (Lc. 20, 2-8) Nosso Senhor nos ensinou, como nos havemos de haver em semelhantes circunstâncias. Quando, porém, a justiça, a honra de Deus e da religião, o bem do próximo o exigirem, seria faltar ao nosso dever, se por fraqueza, por respeito humano ou outros interesses materiais, quiséssemos conservar-nos naquela reserva ou até disfarçar a nossa convicção religiosa. O amor de Deus, a gratidão que devemos a Nosso Senhor, o verdadeiro patriotismo cristão, podem de nós exigir sacrifícios supremos. No reino de Jesus Cristo cedem todas as outras considerações, quando estão em jogo os interesses sobrenaturais. Há circunstâncias, em que se aplica ao pé da letra a palavra de Nosso Senhor, que diz: "Quem ama pai ou mãe, filho ou filha mais que a mim, não é digno de mim". "Quem quer conservar a alma, virá a perdê-la; e quem perder a alma por amor de mim, salvá-la-á". (Lc. 9, 24).
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Em Roma a memória de S. Caio, dos papas o vigésimo nono. Parente do imperador Diocleciano, procurava por muito tempo os esconderijos das catacumbas, para assim, poder atender às necessidades dos cristãos. Morreu em 296.
Apeles e Lúcio, segundo a tradição, do número dos 72 discípulos de Nosso Senhor. Apeles é chamado por S. Paulo "o provado em Cristo" (Rom. 16, 10), e presidia como bispo à Igreja de Smirna. Lúcio era bispo de Laodicéla na Síria.
Neste dia, no ano de 350, na Sexta-Feira Santa, houve um horrível massacre de cristãos na Pérsia por ordem do imperador Xapur. Nada menos de vinte e três bispos deixaram a vida, e com eles maior número de sacerdotes, diáconos e fiéis.
Em Alexandria, o martírio de S. Leonides, pai do célebre escritor eclesiástico Origenes. 204.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 22 de abril.
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