São Benone, Bispo
(† 1106)
São Benone, filho do conde Frederico de Woldenberg, nasceu em 1010, em Hildesheim, na Saxônia. Na idade de cinco anos foi entregue aos cuidados de S. Bernardo, seu parente, que era Bispo de Hildesheim. Educado na escola do convento de São Miguel, sob a direção do Prior Wigero, fez Benone belos progressos, não só na ciência, como na virtude. De protegido, tornou-se íntimo amigo do parente e benfeitor, que, alquebrado pelo peso dos anos, não queria em sua companhia outra pessoa a não ser Benone. Nas horas silenciosas que o jovem passava à cabeceira do velho Bispo, aprendeu coisas utilíssimas para a vida prática cristã, que livro nenhum é capaz de ensinar.
Grande foi a dor que Benone experimentou, por ocasião da morte do Santo Bispo. Tamanha tristeza lhe causou, que o mestre Wigero seriamente receou pela saúde do discípulo. Com um carinho excepcional tomou conta de Benone, que, entretanto, também tinha ficado órfão de pai. Com consentimento da sua mãe, Benone entrou para o convento, onde tinha feito os estudos. Mais do que nunca se dedicou ao estudo da Sagrada Escritura, dos Santos Padres, à oração e aos exercícios da vida monástica.
Tendo trinta anos de idade recebeu a dignidade sacerdotal. Como sacerdote, entregou-se de corpo e alma aos trabalhos do alto ministério, sendo para todos um modelo perfeitíssimo, na fidelidade de cumprir as obrigações do próprio estado. O modo de celebrar a santa Missa era edificantíssimo, e na cura de almas o zelo não lhe conhecia limites.
Quatro anos depois da ordenação sacerdotal, foi Benone eleito Abade do convento. Durante três meses ocupou este cargo, até quando, à insistência de seus pedidos, os religiosos lhe consentiram na renúncia a favor de Sigeberto, que na eleição tinha obtido grande número de votos. Grande foi o prazer de S. Benone em poder voltar às práticas da vida religiosa e no maior recolhimento trabalhar pela sua santificação.
Pouco durou este prazer. O imperador Henrique III, no desejo de ter um colégio formado pelos homens mais sábios da Alemanha, tinha fundado um instituto para cônegos regulares, em Goslar e, com o consentimento do Papa Leão IX, nomeou Benone para ser o primeiro diretor. Dezessete anos ocupou este cargo. O instituto gozou de grande reputação, e grande foi o número de homens célebres pelo saber e pela virtude, que em Goslar fizeram os estudos. Um dos discípulos de Benone foi Hanno, que mais tarde ornou a sede arquiepiscopal de Colônia e pela morte de Henrique III, assumiu o cargo de governador do Império. Hanno, amigo íntimo de Benone, pela sua alta posição e influência fez com que fosse ao mestre oferecida e conferida a dignidade de Bispo de Misnia (Meissen). Benone, na idade de 56 anos, recebeu a sagração episcopal das mãos de Werner, Arcebispo de Magdeburgo e irmão de Hanno.
Chamado por Deus para governar uma parte da Igreja de Cristo, Benone, deu provas de Bispo, exemplar, tanto na administração material da diocese, quanto na cura de almas. Pela palavra e pelo exemplo, procurou implantar nos corações dos diocesanos o espírito de Cristo, o espírito da verdade e do temor de Deus. Nesse intuito distribuiu a herança materna entre os indigentes, estabeleceu um cabido, composto de membros dignos e competentes, pregou contra os vícios predominantes e as práticas supersticiosas. Especial atenção dedicou ao culto divino, insistindo por toda parte para que fosse celebrado com toda dignidade e com o devido esplendor.
Nas margens do Elba moravam os Slavos (os Wendos), que, em tempos passados convertidos ao Cristianismo, tinham em grande parte voltado às superstições da antiga religião. Para reconduzi-los à verdade do Evangelho, Benone empregou todos os esforços. Não sobreviesse uma tempestade inesperada, o trabalho apostólico teria sido coroado de brilhante êxito.
Rebentou uma guerra atroz, entre o imperador Henrique e os Saxões. Benone, ponderando bem todas as razões, julgou prudente observar a mais estrita neutralidade, no que o imperador reconheceu um crime de lesa-majestade. A cidade de Meissen recebeu inesperadamente a visita insólita de tropas imperiais, que se apoderaram da pessoa do Bispo e destruíram a catedral. Benone foi detido na prisão, durante um ano. Neste interim ficou a cidade de Meissen entregue às arbitrariedades de Burkhardo, homem cruel e sanguinário. Benone voltou e restaurou a Igreja. Sobreveio então a luta entre Henrique IV e o Papa Gregório VII. O imperador convocou a Dieta de Worms, com o intuito de, mediante a cooperação dos bispos da Alemanha, conseguir a deposição do Papa. Este por sua vez, convidou os Bispos alemães e o imperador para um sínodo em Roma, querendo assim obrigar Henrique a responder às acusações contra ele levantadas. Benone assistiu ao sínodo, que lançou a excomunhão contra o imperador e seus partidários. Antes da partida, entregou as chaves da catedral a dois cônegos, com a ordem expressa de atirá-las ao Elba, caso o imperador fosse excomungado. Os cônegos, tendo depois notícia da excomunhão e, obedecendo à ordem recebida, fecharam a catedral e lançaram as chaves ao rio.
Para esquivar-se de manifestações ruidosas, na sua volta a Misnia, Benone entrou na cidade como forasteiro, pedindo hospedagem em um hotel. Na mesma hora vieram dois homens, trazendo um grande peixe apanhado no Elba, em cujas entranhas foram encontradas as chaves da catedral. Desta maneira foi descoberta a chegada do Bispo, e o povo fez-lhe uma recepção jubilosa.
Benone recomeçou os trabalhos apostólicos, entre os quais a evangelização dos Slavos (Wendos). Não mais sendo molestado no santo ministério, teve a satisfação de ver a conversão em massa dos idólatras. Grandes milagres, que Deus fez por intermédio do Apóstolo, corroboraram a verdade da doutrina pregada aos fiéis.
Para não ser alvo de elogios e assim perder o mérito, Benone retirou-se para a solidão, da qual só saiu quando negócios urgentes lhe exigiam a presença.
Benone tinha alcançado a idade de 96 anos, quando Deus o chamou para o descanso eterno. A santa vida terminou com uma santa morte, em 16 de junho de 1106.
O Papa Adriano VI, em 1523, honrou a memória do santo Bispo, inserindo-lhe o nome no catálogo dos Santos. As relíquias de S. Benone acham se na Igreja de Nossa Senhora, em Munich. S. Benone é padroeiro da Baviera e invocado contra a peste e doenças contagiosas.
Reflexões
S. Benone procurou com muito interesse conhecer a vocação, a que Deus o destinara. Não havendo mais dúvida sobre a vontade de Deus a seu respeito, deu logo os passos necessários para o cumprimento da mesma e cumpriu pontualissimamente as obrigações, que o estado lhe impunha. A escolha, ou por outra, o conhecimento da vocação é coisa de grande monta, na vida do cristão. É verdade que todos os estados são bons e profissão honesta não há, em que seja impossível santificar-se. Como, porém, os talentos, e as aptidões são diferentes e cada indivíduo apresenta suas inclinações e qualidades, é necessário que cada um escolha o estado, cujo caráter mais se lhe adapta e em que, com mais facilidade, pode aplicar e desenvolver os talentos. Da escolha do estado depende, em grande parte, a felicidade aqui na terra e quase sempre também a salvação da alma. Sendo, pois, a escolha do estado uma escolha de grande importância, para a vida e para a morte, é de toda conveniência que se procure, com todo o zelo, saber qual se deva fazer. São três meios, de que ninguém pode prescindir, para garantir um bom êxito: primeiro, a oração; segundo, o conselho do confessor ou de pessoas sérias e práticas da vida e terceiro, a opinião, o conselho e a benção dos pais. Quem estiver empenhado em conhecer e escolher a vocação, faça a escolha que na hora da morte desejaria ter feito. Um bom filho, uma boa filha, não dispensará a benção dos pais e estes não lhe negarão um bom conselho, sem, entretanto, se atrever a contrariar a vocação, uma vez conhecida como sendo por Deus mandada.
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Em Besançon, na França, os santos missionários Ferreolo, e seu diácono Ferrúcio. Sofreram gravíssimo martírio sob Aureliano. O povo os invoca como padroeiros dos animais domésticos, sem que se conheça a origem e o motivo desta invocação.
Em Mogúncia, na Alemanha, o martírio de Santo Aureo e de sua irmã Justina com outros companheiros, que foram mortos pelos hunos, quando reunidos na igreja celebravam os santos mistérios.
O bem-aventurado Cláudio de la Colombiére, da Companhia de Jesus, apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus e diretor espiritual de Santa Margarida Maria Alacoque. Como vítima inocente de uma conspiração, foi encarcerado e exilado. No ano de 1679 voltou para a França, onde morreu três anos depois, na idade de 41 anos. Sua beatificação teve lugar em 1929.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 16 de junho.
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