São Cirilo, Arcebispo de Jerusalém e Doutor da Igreja
(† 386)
Cirilo, o grande Arcebispo de Jerusalém, nasceu em 315 em Jerusalém ou num lugar vizinho. Passou santamente a mocidade, em trabalho e oração. Prova da sua aplicação são as célebres Catequeses, nas quais Cirilo revela um conhecimento admirável da Escritura Sagrada, dos santos Padres e das opiniões dos hereges, principalmente dos maniqueus. Tudo indica que Cirilo tenha vivido numa comunidade religiosa, e que seu preparo e santidade tenham chamado a atenção do Bispo Macário de Jerusalém.
Tendo apenas 19 ou 20 anos, Cirilo foi ordenado diácono e nesta qualidade, dirigiu em Jerusalém as classes dos catecúmenos, preparando-os à recepção do sacramento do Batismo. Em 350 foi eleito Bispo de Jerusalém. Célebre na história ficou um acontecimento, que se deu por ocasião da tomada da posse de S. Cirilo; ele mesmo o relata, numa carta ao imperador Constâncio, do seguinte modo: "Aos sete de maio, pela hora terceira do dia (às 9 horas da manhã), apareceu no céu uma grande luz, em forma de uma cruz, que se estendia do Monte Calvário até o monte Olivete. Este fenômeno foi observado, não por uma ou outra pessoa, senão pela população inteira da cidade. Também não se tratava de uma aparição rápida; pelo contrário, a luz brilhou diante a nossa vista durante algumas horas e com esplendor tal, que o próprio sol não a ofuscou. Os espectadores, tomados de medo e alegria ao mesmo tempo, corriam em chusma para a Igreja. Velhos e moços, fiéis e infiéis, nacionais e estrangeiros, uniram as vozes, em louvor a Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, que, com seu poder, fez este milagre. Todos reconheceram a divindade da religião, testemunhada pelo próprio céu". Este milagre é confirmado por diversos escritores contemporâneos e como tal reconhecido por muitos representantes da ciência. Na Igreja grega é festejada a comemoração desta aparição no dia sete de maio.
Cirilo, compenetrado da grande responsabilidade de Bispo, opôs-se com toda a energia à heresia ariana, embora esta atitude lhe importasse o desagrado do imperador Constantino e o ódio e a perseguição dos bispos arianos. Um deles, Acácio, bispo de Cesaréia, contra o qual Cirilo se viu envolvido num processo, em questão de jurisdição, envidou todos os esforços para perdê-lo. Para este fim apelou para um concílio, composto exclusivamente de bispos arianos, o qual decretou contra Cirilo a deposição. Entre outras acusações, levantaram também a de ter esbanjado os bens da Igreja e profanado os santos vasos litúrgicos, dando-lhes destino profano. Esta acusação tinha um fundo de verdade. No tempo de uma grande carestia e fome, Cirilo, vendo a miséria do povo e não tendo outros recursos para aliviá-la, lançou mão de alguns vasos litúrgicos e de algumas preciosidades da propriedade eclesiástica e vendeu-as, para salvar os pobres da morte. Em vista da guerra que lhe faziam, Cirilo saiu de Jerusalém. Exilado da diocese, achou agasalho em Tarso, onde o Bispo Silvano o recebeu com todas as honras e onde ficou até o ano de 359. Naquele ano o concílio de Selêucia o restabeleceu em sua dignidade. Os arianos, porém, conseguiram, que um outro concílio, celebrado em Constantinopla, o depusesse outra vez.
Quando o novo imperador Juliano, reintegrou todos os Bispos expulsos, Cirilo voltou em triunfo para a diocese. Pouco tempo depois se deu em Jerusalém um fato extraordinário, ligado à apostasia rancorosa de Juliano. Tendo este jurado exterminar a religião cristã, um dos seus empenhos foi desacreditar o autor e provar ao mundo que Jesus Cristo não é Deus. Concebeu o plano de reedificar o templo de Jerusalém, cujas ruínas datavam da destruição por Tito, em 70. As obras começaram com muito entusiasmo, também da parte dos judeus. Deus, porém, confundiu o plano. Amiano Marcelino, pagão historiador e amigo de Juliano, e portanto testemunha insuspeita, escreveu sobre aquele movimento: "Entretanto Alipio, auxiliado pelo governador, começou as obras com muita energia. Quando, porém, os operários se puseram a trabalhar, saíram dos fundamentos labaredas de fogo, que não deixaram ninguém se aproximar. Como o elemento (isto é, o fogo) todos os dias repelisse os pedreiros, foi resolvido abandonar a obra".
O que Amiano Marcelino conta, afirmam-no outros escritores, como São Gregório Nazianzeno e Teodoreto, Rufino, Sócrates e Sozomeno.
Juliano, em consequência deste fracasso, parecia ter concentrado todo o ódio no santo Bispo de Jerusalém, mas Deus não permitiu que chegasse a executar seus planos ímpios, pois numa expedição contra os persas, Juliano perdeu a vida. Em 367 S. Cirilo foi obrigado, mais uma vez, a comer o pão do exílio, por determinação do imperador Valente; morrendo este, em 368, Cirilo voltou para Jerusalém. Cuidava o Bispo, de modo especial, da conservação da fé, no meio dos perigos que a ameaçavam da heresia ariana, tão poderosamente apoiada por alguns imperadores. Em 381 Cirilo tomou parte no concílio ecumênico de Constantinopla. Em 386 foi descansar das lutas e receber a recompensa eterna.
As obras de S. Cirilo são de grande valor. Nelas vemos estampada a Religião Católica, como nós a conhecemos. Cirilo fala da santa Missa, chamando-a "o Sacrifício incruento, o Sacrifício propiciatório, o culto de Deus mais sublime". Muito claras e positivas são suas expressões sobre o mistério da real presença de Jesus Cristo no SS. Sacramento.
Reflexões
O estigma da heresia foi sempre é o orgulho. A humildade foi sempre e é o baluarte, a defesa mais segura da fé. Diz Santo Agostinho: Há diversos caminhos que conduzem ao conhecimento da verdade, o primeiro é o da humildade; humildade é o segundo e o terceiro é ainda a humildade. "Eu fiquei crente, porque me pus a crer o que não compreendia". Santo Agostinho foi uma das inteligências mais esclarecidas, que o mundo jamais possuiu. O orgulho gerou as heresias antigas e novas. O arianismo, o nestorianismo, o luteranismo, o calvinismo, o metodismo, o espiritismo são suas legítimas filhas. Todas Invocam em seu favor, a Bíblia, devendo esta servir, o que é grande absurdo, de documentação para todos os erros. A Bíblia pode ser interpretada de muitos modos, daí a dificuldade de achar explicação autêntica. Se fosse fácil, por que então os discípulos de Emaus pediram a Nosso Senhor que lhes explicasse a Escritura? Porque o eunuco da rainha de Etíopes respondeu ao Apóstolo Filipe, que lhe perguntava se tinha compreendido o que lera na Bíblia: "Como poderia compreendê-lo, não tendo quem m'o explicasse?" Muitas coisas da Bíblia os próprios Apóstolos não compreenderam, apesar das repetidas explicações que tiveram de Nosso Senhor. Como se justifica a grande divergência que há na explicação da Bíblia, entre os hereges? A Bíblia deve ser considerada como um código de verdades havendo uma só autoridade competente, para interpretá-la autenticamente. A explicação desta autoridade todos devem sujeitar-se e reconhecê-la como a única verdadeira. O orgulho não se conforma com isto, alegando nada mais ser preciso, para a explicação da Bíblia, que a razão humana. A regra da fé deve ser simples, clara, uma constante e universal, por isso não pode depender da razão humana. Todos os homens normalmente desenvolvidos têm inteligência, o que não pode impedir que até hoje houvesse reinado entre eles a maior divergência de ideias, em matéria de fé. A inspiração do Espírito Santo por nenhum sinal sensível se manifesta e qualquer um pode reivindicá-la para si, sem que outros lhe possam disputar. Assim procedem os luteranos, os calvinistas, os metodistas, que ensinam doutrinas contraditórias. Não, a razão humana não pode ser o critério da verdade, na interpretação da Bíblia. Dos hereges diz S. Paulo muito bem: "Aprendendo sempre, nunca chegam ao conhecimento da verdade". (2. Tim. 3, 7). A doutrina por eles apregoada hoje, amanhã é rejeitada; os hereges, com a Bíblia na mão, contestaram já a divindade de Cristo, a eternidade do inferno, a existência e divindade do Espírito Santo, o pecado original, a autenticidade da Bíblia e muitos outros pontos do dogma; é onde chega, quem se afasta da Igreja Católica. Só a ela foi dito: "convosco estou todo o tempo, até a consumação dos séculos" (Mt. 28, 20). Quem ouve a Igreja, ouve a Cristo, e Cristo é a verdade, o caminho e a vida.
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Em Augsburgo, o bispo S. Narcisio, apóstolo da Baviera e do Tirol. Pregou o Evangelho na Espanha, onde converteu muitas pessoas ao cristianismo. Morreu mártir na perseguição de Diocleciano.
Em Nicomédia dez mil mártires. Na mesma cidade os santos mártires Trófimo e Eucárpio.
Na Inglaterra o rei Santo Eduardo, morto por instigação de sua madrasta. Faleceu em 978.
Em Luca, na Toscana, a morte do bispo S. Frigdiano.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 18 de março.
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