Santo de 6 de abril

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São Guilherme, Abade

(† 1203)

Guilherme, nasceu em Paris, no ano de 1105, de família nobre e foi, criança ainda, confiado aos cuidados do primo Hugo, que era abade de St. Germain. Em tão boa escola, era natural que Guilherme, dotado de boa inteligência, fizesse rápidos progressos, não só nas ciências, como também na virtude. Tendo alcançado a idade canônica, foi recebido no cabido da Igreja de S. Pedro e S. Paulo, chamada também de Santa Genoveva. Infelizmente não encontrou, entre os membros do cabido, o espírito que devia reinar, numa coletividade deste gênero. Os cônegos, apesar de sacerdotes, levavam uma vida pouco digna de tão alta missão. Guilherme, notando isso, não se associou aos maus elementos; pelo contrário, continuou as práticas de vida religiosa, como as tinha adquirido no convento, não se deixando abalar pelo escárnio e pela crítica zombeteira dos colegas. O bom procedimento e a vida exemplaríssima de Guilherme tanto os incomodou, tanto os exasperou, que puseram em jogo todos os meios, para eliminá-lo da colegiata. Guilherme sofreu com paciência as injustiças, que lhe eram feitas, e feliz se sentiu, quando lhe foi oferecida uma prebenda fora da cidade, onde, sem causar incômodo a outros, pôde dedicar-se a uma vida só de Deus.

Aconteceu que aqueles cônegos, por decreto do Papa Eugénio III e por ordem do rei Luís VII, foram expulsos e substituídos por Cônegos Agostinianos. Odo, o abade desta nova família monástica, dirigiu amável convite a Guilherme, para que se incorporasse à Ordem Agostiniana. Embora fosse muito inclinado à vida religiosa, Guilherme externou dúvidas sobre o passo que Odo lhe aconselhava, sendo a maior a de abandonar uma colocação tão rendosa, como possuía. Odo, ao ouvi-lo falar desta dificuldade, apontou para o crucifixo e disse a Guilherme: "Deus, que por nosso amor deixou o céu, não merece que, por seu amor, abandones as coisas deste mundo?" Esta resposta, inesperada como lhe veio, confundiu o santo homem, o qual, caindo de joelhos, pediu perdão pelo apego desordenado e aceitou o convite do Superior. Guilherme entrou na Ordem Agostiniana e foi, como religioso, modelo perfeito em santidade para todos.

Algum tempo depois apareceu-lhe Nosso Senhor Jesus Cristo, em sonho e disse-lhe: "Guilherme, é minha vontade que procures uma terra longínqua e desconhecida. Muitas tribulações e perseguições te esperam, mas tem ânimo; estarei contigo, e quando estiveres bastante idoso, te chamarei à eterna bem-aventurança". Guilherme, intimamente consolado com a garantia da eterna salvação, fez o protesto de seguir para onde a vontade divina o quisesse, e de aceitar tudo que a divina Providência determinasse; mas não sabia que país era aquele, que lhe reclamava a presença. Esta incerteza desapareceu, quando recebeu de Absalão, Bispo de Roskilde, na Dinamarca, o convite para o cargo de Visitador, no convento dos Cônegos Agostinianos, em Eskilsoe, na ilha Seelandia.

Com o consentimento dos Superiores, seguiu, com três companheiros, para o lugar que a obediência lhe tinha indicado. O Bispo Absalão recebeu-o de braços abertos. Não tão cordial foi a recepção que teve no convento. Os Cônegos, que havia tempo, não mais observavam a regra da Ordem, não podiam olhar com bons olhos o Visitador, a quem outro motivo não podia ter trazido, senão o de reformar os costumes dos religiosos e levá-los novamente ao caminho do dever. Mil dificuldades opuseram à obra da reforma, e mil dissabores causaram ao visitador.

Cheios de irritação e malvadez, chegaram ao ponto de forjar o plano de vendê-lo como escravo ou fazê-lo desaparecer. Guilherme não se deixou intimidar. Com firmeza insistiu na fiel observância da regra e na abolição de abusos que se tinham insinuado na Comunidade. O que exigia dos outros, ele mesmo observava com todo o rigor, não ligando importância nenhuma ao desprezo, às ameaças e maus tratos, de que era alvo por parte dos maus religiosos. Ao mesmo tempo, procurou com muita prudência, com modos afáveis, ganhar a simpatia ou pelo menos o respeito dos confrades rebeldes, Estes, vendo de um lado a caridade e condescendência, abandonaram pouco a pouco a atitude hostil e tornaram-se dóceis e obedientes. Guilherme teve a satisfação de ver-se diante da necessidade de fundar um outro convento, que se encheu de bons religiosos

Noventa e um anos contava Guilherme, quando teve em sonho a visão de um venerável ancião, que lhe disse: "Viverás ainda sete". Guilherme, na suposição de tratar- se de um aviso de morte próxima, preparou-se para deixar o mundo. Sete dias passaram e nenhum sinal da morte aparecia. Quando assim se foram passando sete semanas, sete meses e no fim do sétimo mês, Guilherme se sentiu forte e bem disposto, pareceu-lhe fora de dúvida que aqueles sete significavam sete anos.

No sétimo ano adoeceu gravemente. O corpo cobriu-se-lhe de úlceras e o santo servo de Deus sofreu horrivelmente. Como nas perseguições, também nos dias da doença Guilherme conservou a paciência imperturbável. No meio das dores, dizia, como Job: "Se recebemos de Deus benefícios, não devemos aceitar-lhe das mãos também o que nos é desagradável? Faça-se o que o Senhor determinar. Bendito seja o nome do Senhor!"

Guilherme morreu santamente, aos 6 de abril de 1203, no dia da Páscoa, depois de ter recebido os santos Sacramentos, Honório III canonizou-o no ano de 1224.

Reflexões

Não só as coisas agradáveis vêm de Deus, como também as doenças, sofrimentos, pobreza, etc. "O bem e o mal, vida e morte, pobreza e riqueza tudo tem sua origem em Deus", diz o Sábio do Antigo Testamento. (Ecl. 11, 14). É preciso, porém, que poderemos o seguinte: Sofrimentos que nos vêm, sem que haja a concorrência de um pecado, partem diretamente de Deus. É Ele que no-los manda, para o nosso bem. Se em companhia dos sofrimentos aparecer um pecado, como por exemplo nas perseguições, ou como só é acontecer nos negócios do mundo, não é o pecado, como tal, que Deus intencionou que se praticasse. Vontade sua, porém, é que soframos com paciência. Deus não quer o pecado, que o ofende, mas também não cerceia a livre vontade dos homens, que o cometem. Assim é que devemos aceitar resignados as contrariedades, que Deus permite que nos surjam, do pecado dos homens. Assim procediam os Santos do Antigo Testamento, como Job; assim procedia São Guilherme, imitando desta forma ao próprio Jesus Cristo, que chamou sua Paixão e Morte um cálice, que seu Pai lhe dera. "Não beberei o cálice, que meu Pai me deu?" (Jo. 18, 11).

Santos, cuja memória é celebrada hoje

Em Roma a festa do Papa Sixto I, na série dos papas, o oitavo. Tomou enérgicas medidas contra os gnósticos. É provável que tenha sofrido o martírio. 126.

Em Roma, o Papa Celestino I, dos papas o quadragésimo quinto. Condenou as heresias de Nestório e do pelagiano Celesto. Deu à Inglaterra e à Irlanda bispos nas pessoas de S. Germano e S. Paládio.

Na Irlanda a memória de S. Celso, bispo de Armagh, combateu energicamente o sistema de bispos-leigos e restaurou a catedral de Armagh. 1129.

Em Tonkin o martírio do bem-aventurado Paulo Le-Bao-Tinh, sacerdote indígena, decapitado em 1857.

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 6 de abril.

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