Beato Germano José, O. Praem.
(† 1241)
A vida de Germano José é uma das mais encantadoras que há e, embora não se trate de um Santo canonizado, é uma prova eloquente do amor que Maria Santíssima vota aos meninos, que conservam puro o coração e lhe têm devoção filial. Germano José nasceu em Colônia, cidade antiga da Alemanha e célebre pelo espírito religioso que nela sempre reinou. O pai de Germano José era um dos cidadãos mais considerados e abastados de Colônia, mas repetidos reveses e contratempos fizeram com que caísse em grande pobreza. No entanto, não descuidou da educação do filhinho. Germano José foi um daqueles meninos, que, desde a mais tenra infância, parecem trazer em si o sinal de uma predestinação à santidade. Na idade de estudar, frequentou a escola e entre os numerosos alunos, era o mais exemplar. Com muito cuidado fugia dos companheiros que em palavras e no proceder manifestavam má educação e má índole. Tanto mais vezes procurava a igreja onde ao pé do altar da Santíssima Virgem, ficava em doces colóquios com aquela a quem venerava como mãe. Encantador era o modo por que ele, criança de seis anos, conversava com Maria Santíssima.
Certa vez lhe trouxe uma maçã e com a simplicidade de uma criança inocente, pediu à divina mãe que a aceitasse. De fato, a imagem de Nossa Senhora moveu-se, estendeu a mão para receber a singela oferta. Desde aquele dia se estabeleceu entre a Mãe de Jesus e o pequeno Germano José uma amizade como entre mãe e filho. Maria falava com a criança e esta procurava a Mãe celeste, deliciando-se com ela em cordial e encantadora conversa. Quando em um dia feriado, conforme era seu costume, foi à igreja, para falar com a divina Mãe, viu a Rainha do céu rodeada de grande esplendor, tendo ao lado São João, que brincava com o Menino Jesus. Germano José, vendo aquela cena, de longe a contemplou com doce enleio. A Mãe de Deus chamou o para perto de si e disse-lhe: "Vem cá, Germano José!" Mais que depressa o menino subiu os degraus do presbitério, mas o gradil fechado impediu-lhe a entrada. "Não posso subir, disse Germano José a Maria Santíssima, a porta está fechada e não há escada aqui para eu trepar". Maria ensinou-o a fazer do próprio gradil escada e subir sem temor que ela mesma lhe ajudaria. Germano José transpôs o gradil com alguma dificuldade e no descer, ao passar pelas pontas agudas que em cima havia, se feriu um pouco no peito. A ferida era insignificante, mas doía. Tendo assim penetrado no coro, Maria Santíssima deu-lhe a licença de brincar com o Menino Jesus. Se bem que com algum acanhamento, Germano José pôs-se a divertir-se com o divino Infante, e Maria acompanhava-os com o doce olhar maternal. Passou-se assim o dia e, quando veio a tarde, Maria, a doce Mãe, ajudou o pequeno a ganhar de novo o alto gradil, por onde chegou ao corpo da igreja. Germano José confessou, que nunca sentira maior satisfação que naquele dia.
Num dia de inverno, o pequeno Santo se dirigiu descalço à igreja e tiritando de frio, fazia as orações no altar da Virgem Mãe. Esta lhe perguntou: "Germano José porque, andas descalço neste frio?" O menino respondeu: "Não tenho calçado". Então Maria Santíssima lhe disse, apontando para uma pedra: "Olha aquela pedra! Vai lá e encontrarás o dinheiro, para comprar um par de sapatos". A criança obedeceu e achou o dinheiro prometido. Jubiloso trouxe-o para Maria Santíssima o ver. A benfeitora acrescentou então: "Germano, todas às vezes que precisares de dinheiro para tuas necessidades, procura a pedra e acharás sempre o necessário"
Germano José teve assim, por muito tempo o que o pobre pai não lhe podia fornecer. A fonte de renda era impossível que ficasse oculta. Os companheiros de Germano José, descobrindo-lhe o segredo, foram procurar aquela pedra, mas nada acharam. Os bolandistas referem outros fatos, ainda mais extraordinários, na vida de Germano José.
Tendo doze anos, Germano José empregou-se no convento dos Premonstratenses, em Steinfeld, e a muito pedido seu, foi aceito na comunidade, como noviço. Trabalhos e estudos tomavam-lhe o tempo de tal forma, que quase não lhe ficava um minuto para as devoções particulares, o que muito o entristecia. A divina Mãe apareceu-lhe e consolou-o com estas palavras: "Não te esqueces Germano José, que melhor não poderá servir a meu Filho e a mim, que fazendo os teus trabalhos na santa obediência e servindo a teus irmãos com muita caridade". Daí em diante, reinaram, como dantes, alegria e satisfação no coração de Germano José.
Pouco tempo depois, desta visão, os superiores incumbiram a Germano José dos trabalhos da sacristia. Como sacristão, tinha muito tempo para dedicar-se à oração e estar com a divina Mãe. As comunicações entre Maria e Germano José eram tão frequentes, que dificilmente se poderá encontrar um Santo que tivesse sido tão privilegiado por Maria Santíssima, como o jovem premonstratense. As visões eram quase quotidianas. Também Germano José não perdia ocasião de cantar os louvores de Maria Santíssima, e homenagear a divina Mãe. Em virtude desta devoção terníssima, os religiosos deram-lhe o nome de José, quando em casa era chamado só Germano. Julgando-se indigno de usar este nome, foi preciso Maria Santíssima tranquilizá-lo e ordenar-lhe que aceitasse o nome de José. Esta circunstância fê-lo amar ainda mais a santa Mãe.
Não teria sido bom Filho de Maria, se não tivesse havido uma devoção sincera e ardente ao Santíssimo Sacramento. Frequentes vezes de dia e de noite, visitava a Jesus na igreja. Mais tarde, quando sacerdote, raras vezes celebrava a santa Missa sem derramar lágrimas de comoção, e muitas vezes foi observado que, rodeado de grande luz, permanecia no altar arrebatado em doce êxtase.
Apesar de tão privilegiado e cumulado de provas de predileção da parte de Deus e de Maria Santíssima, Germano José conservou-se sempre na mais edificante humildade. Se bem que nunca tivesse manchado a alma com um pecado mortal, sua vida era uma contínua prática de penitência. Deus permitiu também que seu servo fosse atormentado pelas mais terríveis tentações e sujeito a dores fortíssimas. Germano José levou esta cruz com coragem e resignação à vontade de Deus,
Não longe de Steinfeld havia um convento de religiosas, as quais pediram ao superior de Germano José, que o mandasse, para durante a quaresma fazer o serviço religioso no convento. O superior opôs dificuldade, e a comunidade toda se externou também contrária à vontade das Irmãs. Germano José foi pessoalmente pedir ao abade que atendesse às religiosas, porque era esta a vontade de Deus, e obteve a permissão.
Ao entrar no convento das freiras, designou com a bengala um lugar no chão, dizendo: "Aqui me haveis de sepultar". Embora ninguém supusesse que estas palavras tivessem cumprimento, os acontecimentos que se seguiram não deixaram dúvida que Germano José soube o tempo e lugar do seu trânsito. Morreu ali mesmo, durante as funções sacerdotais a 7 de abril de 1241. Antes de entregar a alma a Deus, teve uma visão, que muito consolo lhe trouxe.
O corpo foi de fato, enterrado no lugar que Germano José, semanas antes, tinha indicado; mas como os religiosos do seu convento o reclamassem, as Irmãs tiveram de entregá-lo, ao que se resolveram só depois de terem recebido ordem terminante do Bispo neste sentido. A exumação teve lugar na terça-feira depois de Pentecostes, e geral foi a grande surpresa quando, ao tirar o caixão com os restos mortais do santo religioso, lhe encontraram o corpo intacto, sem o menor sinal de decomposição, o que era de admirar-se, tanto mais, quanto o lugar, onde tinha achado o primeiro repouso, era bastante úmido. Muitos milagres dignou-se Deus de fazer, glorificando o túmulo do seu santo servo. Entre estes, mencionam os biógrafos a cura de diversas doenças e a ressurreição de alguns mortos.
Germano José escreveu uma exegese do livro Cantares e é autor de belos hinos. Dele é o hino mais antigo ao Sagrado Coração de Jesus: "Summi regis cor aveto". O processo de canonização se acha interrompido.
Reflexões
O Bem-aventurado Germano José afligia-se, quando as obrigações do cargo não lhe davam o tempo que desejava ter para rezar. Maria Santíssima, porém, consolou-o, dizendo-lhe que o trabalho feito por obediência é sumamente agradável a Deus. Esta verdade não é menos consoladora para todos aqueles, que procuram servir a Deus numa vida trabalhosa, que poucos minutos lhes dá para rezar. Saibam todos que o trabalho obrigatório, feito na reta intenção de servir a Deus, vale mais do que dias inteiros passados em orações, se bem que isto talvez lhe agrade mais. "Tudo por amor de Deus"; "tudo pela maior honra e glória de Deus"; "tudo por vós, Sagrado Coração de Jesus", deve ser a intenção predominante em todos os nossos trabalhos. Desta maneira, nosso trabalho se transforma em oração, e dela terá o merecimento.
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Na Cilícia, na Ásia Menor, o mártir São Caliópio, filho de um nobre magistrado de Perge na Pamfília. Seu martírio foi a crucificação de cabeça para baixo. A mãe, que assistira à cena, morreu ao pé da cruz de seu filho. 304.
Em Roma a memória de Santo Hegesipo, um dos escritores cristãos mais antigos; judeu de nascimento, era membro da Igreja de Jerusalém. No tempo do Papa Eleutério se achava em Roma, onde fez a compilação de um catálogo pontifício. Não deve ser confundido com Flávio Josefo, que também tem o nome de Hegesipo e que é autor da história da guerra judaica. Santo Hegesipo escreveu a tradição católica desde a morte de Jesus Cristo até o seu tempo. 180.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 7 de abril.
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