Santo de 15 de março

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São Clemente Hofbauer

São Clemente Hofbauer, Redentorista

(† 1820)

A Moravia é a terra de S. Clemente Maria Hofbauer, onde aos 26 de dezembro de 1751 nasceu, filho de pais pobres, mas mui piedosos. De doze filhos, que este privilegiado casal educou para Deus, era Clemente Maria o nono. Sete anos contava o menino, quando sua mãe enviuvou. Viva na memória do órfão ficou aquela hora, que a mãe, diante da imagem de Jesus crucificado lhe disse: "Meu filho, de hoje em diante este é teu pai. Procura andar sempre no caminho que lhe é agradável". O exemplo e os conselhos de sua progenitora eram uma semente abençoada, que caia em terra bem preparada e fertilíssima. Em casa, na escola, na igreja, o pequeno Clemente era sempre o modelo vivo dos seus irmãos e companheiros. Já naquele tempo brotava no fundo de sua alma cândida o desejo de um dia poder servir a Deus como sacerdote e missionário. As condições precárias, porém, em que sua família vivia, pareciam tornar irrealizável este sonho dourado. De Taswitz, onde residia a família Hofbauer, Clemente Maria, quando contava quinze anos, se transferiu para Znaim, onde aprendeu o ofício de padeiro, e três anos depois empregou-se como padeiro no convento dos Premonstratenses em Burck. Sua piedade sincera, aliada a um comportamento exemplaríssimo fez com que o abade se interessasse mais de perto pelo jovem operário, e lhe facultasse a frequência das aulas de latim, junto com os alunos do estabelecimento. Quando em 1775 morreu seu benfeitor, Clemente Maria resolveu retirar-se para uma solidão perto do santuário de Muhlfrauen, onde passou o tempo de quase um ano. Depois foi a Viena, onde novamente se empregou, Em Viena, conheceu um companheiro, Pedro Kunzmann, a quem se ligou em forte amizade, e com quem fez uma romaria a Roma. Seria difícil descobrir-se romeiros mais piedosos que estes dois jovens operários vienenses.

Esta romaria, feita com todo o fervor, e rica das mais profundas impressões, aumentou ainda mais em Clemente Maria o desejo de abandonar o mundo. Numa segunda romaria que fez à cidade eterna, ficou com Tivoli. Provado pelo bispo, D. Barnabé Chiaramonti (posteriormente o Papa Pio VII), das mãos deste mesmo prelado, recebeu o hábito de eremita, e foi morar numa solidão nas proximidades da cidade. Nos seis meses que lá permaneceu, recebeu luzes tão abundantes e claras do céu, que não mais pôde duvidar de sua vocação sacerdotal.

Outra vez se dirigiu a Viena, resolvido a continuar seus estudos, o que fez, lutando sempre com grandes dificuldades, por ser pobre. A Providência Divina entretanto vigiava, e sempre havia uma ou outra família caridosa, que não deixava faltar o necessário ao dedicado e virtuoso estudante.

Não era bom o espírito, que reinava nos estabelecimentos de ensino na capital dos Habsburgos. Certa vez, que um dos professores perante seus alunos proferiu uma sentença liberal e falsa, o jovem estudante Clemente Maria se levantou e disse: "O que o Sr. professor acaba de dizer, é contra a doutrina católica". Hofbauer sofria muito debaixo da atmosfera irreligiosa que predominava em Viena, e pela terceira vez fez a viagem a Roma. Acompanhava-o seu amigo Tadéo Huebl, como ele, era estudante e jovem reto e virtuoso.

À procura de uma igreja, onde bem cedinho pudessem ouvir missa, seguiram o som do toque de "Angelus", e entraram na igreja dos Redentoristas, na hora em que os religiosos e o Bispo de Santa Ágata no recolhimento da hora matutina estavam fazendo meditação. Foi a primeira vez, que a Clemente Maria, se oferecera ocasião de ver redentoristas. Terminada a santa Missa, não pôde resistir ao desejo de saber algo da vida, da regra, do caráter da Congregação, e pediu uma entrevista com o superior da casa. Longo tempo esteve com o superior, que, além de lhe dar as explicações pedidas, mostrou-lhe a casa e as suas instalações. Tudo que ouvia e via, profundamente impressionava ao piedoso e não menos curioso visitante, e antes de se despedir, pediu formalmente, que o aceitassem na Congregação. Deram-lhe admissão e no dia seguinte Tadéo Huezl imitou o exemplo de seu amigo e foi igualmente aceito. Os dois jovens justificaram perfeitamente as esperanças neles depositadas.

Não só nos estudos como também na prática das virtudes monásticas e na perfeição da vida religiosa, se distinguiram admiravelmente. Quando o santo fundador soube da admissão dos dois vienenses, deu demonstração de grande contentamento e predisse-lhes um grande e abençoado apostolado na sua terra. Um ano depois de sua admissão, isto é, na festa de S. José, do ano de 1785, Clemente Maria Hofbauer fez a sua profissão religiosa, e no dia 30 de março do mesmo ano foi-lhe conferido o sacramento sacerdotal da Ordem. Estava pois satisfeita a sua maior aspiração, cumprido o sonho da sua vida. Para se aprofundar nas ciências teológicas, ficou ainda algum tempo em Roma.

Findos os estudos, externou novamente seu grande ideal, de comunicar à sua terra as bênçãos da Congregação do Santíssimo Redentor. Munido das necessárias licenças para este fim, foi a Viena em companhia de seu conterrâneo Pe. Tadéo Huebl. A política anticlerical do governo de José II da Áustria fazia prever a impossibilidade da Congregação se estabelecer na Capital ou em qualquer outra parte do império. Hofbauer procurou à Propaganda da Fé em Roma, que lhe indicou a Curlândia como campo de ação. Em outubro de 1786 deixou Viena, para fixar residência em Varsóvia. Do superior da Congregação teve bastantes dificuldades para receber noviços e fundar casas.

O núncio apostólico, Mons. Saluzo, recebeu os padres com demonstração de grande satisfação, e modificou o plano da missão para a Curlândia, e segurou-os na Varsóvia, onde havia milhares de alemães sem assistência religiosa. Com permissão da Santa Sé, estabeleceram-se numa casa perto da antiga Igreja de S. Benone, e começaram a cura das almas entre os alemães. A pequena comunidade foi incorporada também como Irmão do antigo companheiro de Hofbauer em Viena, Pedro Kunzmann.

Durante vinte anos a Igreja de S. Benone foi o centro de uma atividade grandiosa do Pe. Clemente Maria e dos seus companheiros. A igreja quase em ruínas experimentou grandes melhoramentos; a pequena casa transformou-se em largo e espaçoso convento.

A afluência dos fiéis à igreja de S. Benone tomou proporções inesperadas. Houve um tempo, que além do Pe. Hofbauer trabalhou em Varsóvia vinte e cinco Padres Redentoristas. Diariamente havia na sua igreja duas práticas em alemão e duas em polonês. No ano de 1796 compareceram 58.777 fiéis à mesa eucarística, número que em 1807 atingiu a cifra de 104.000.

O resultado do trabalho missionário do Pe. Hofbauer e de seus companheiros teria sido maior ainda, se não o tivesse limitado a estreita capacidade da igreja. Nas paróquias vizinhas os Redentoristas desenvolveram uma atividade extraordinária, e no espaço de pouco tempo, Pe. Hofbauer pôde fundar mais três conventos.

Por mais lisonjeira que fosse a messe abundante no trabalho apostólico das missões populares e na cura de almas, o santo homem estendia suas vistas para mais além. De uma fé inabalável na Providência Divina, empreendeu obras de caridade, que, na época em que foram ideadas, podiam parecer impraticáveis. As guerras continuadas deixaram o povo na miséria e na pobreza. A triste sorte das crianças comovia o coração do homem de Deus. Para abrigar as mais necessitadas, fundou um asilo, em que quarenta meninos recebiam o pão material e espiritual. Além disto criou uma associação de donzelas católicas com o fim de socorrer as meninas órfãs. Numa escola aberta junto à igreja de S. Benone, 350 crianças pobres recebiam ensino gratuito. Fundação do Pe. Hofbauer foi também uma escola superior para meninos, que teve boa frequência e da qual saíram homens de valor.

Em 1793 Pe. Hofbauer foi nomeado Vigário Geral da província germânica de sua Congregação. Nesta qualidade teve de fazer muitas e longas viagens através da Áustria e da Suíça. Por falta de outro meio de locomoção, estas viagens eram feitas a pé. No ano de 1802 conseguiu fazer a primeira fundação na Alemanha. As correntes políticas, porém, na Alemanha, particularmente em Baden, não eram favoráveis à expansão católica naquele país, e Hofbauer viu-se forçado a retirar seus religiosos e procurar outras paragens. Na Suíça encontrou grato acolhimento e ocasião bastante para positivar sua atividade.

Poderes tenebrosos não podiam de bons olhos observar os triunfos do zelo apostólico do Pe. Hofbauer. O ano de 1808 trouxe a este muitas provações e fortes contrariedades. Por ordem do governo foram fechadas as casas dos Redentoristas na Polônia, e os religiosos foram levados presos à fortaleza de Kuestrin. Lá ficaram quatro semanas até que nova ordem do governo os fez regressar para Viena. Com a mudança para Viena começou para Hofbauer uma nova e grande época da sua vida sacerdotal. Triste era a situação da Igreja Católica na Áustria naquele tempo. Dependente de um governo intolerante e mesquinho; tolhida também as manifestações mais insignificantes de sua vitalidade, impossível lhe era cumprir em toda a plenitude a missão, que lhe competia por direito divino e humano. As igrejas, no seu abandono, e péssimo estado de conservação, bem alto testemunharam o pouco interesse que havia pela causa da religião, e o grande indiferentismo religioso, em que jazia a população da grande metrópole. Os católicos de verdade eram bem poucos, e não se atreviam a dar expressão pública às suas convicções. Assim também Hofbauer achou prudente nos primeiros anos conservar-se com certa reserva, contentando-se com o pouco serviço que o reitor da igreja italiana lhe oferecia. Ainda assim não passou despercebido seu zelo pastoral, e o próprio arcebispo Mons. Hohenwart não se fechou ao conhecimento de se achar diante de um sacerdote de qualidades morais e ascéticas extraordinárias, e em vista disso nomeou-o confessor das religiosas Ursulinas. Difícil seria descrever a atividade salutaríssima que daí em diante Pe. Hofbauer exercia. A olhos vistos o movimento católico e religioso em Viena tomou novo incremento. Obra nenhuma, das que na capital se compreendia em honra de Deus, pela salvação das almas e pela exaltação da Igreja, dispensava o impulso e o conselho do santo Redentorista. Sua pessoa tornou-se o centro da vida católica em Viena. No púlpito, no confessionário, na conversação era ele sempre o apóstolo incansável de Nosso Senhor. Ao seu zelo unia-se uma amabilidade atraente, uma paciência edificante, uma caridade sem limites. Ser tudo para todos parecia estatuir seu ideal. Em todas as emergências de sua tarefa sacerdotal e missionária revelava ele uma piedade sem igual, uma fé inabalável na Divina Providência.

Não podia faltar, que homem singular e de tanto valor, como Hofbauer se visse constantemente rodeado de pessoas a reclamarem sua oração, seu conselho, sua direção. Estas pessoas se recrutavam não só de gente humilde do povo, de pobre e abandonados, mas seu confessionário era assediado por cavalheiros e senhoras da alta sociedade, ministros, generais, professores, homens das altas finanças e da própria corte imperial.

O Núncio Apostólico Severoli e seu sucessor Leardi abriam a sua consciência ao humilde sacerdote da Congregação do SS. Redentor. Os bispos Mons. Rauscher e Baroga se ajoelhavam aos pés do Pe. Clemente Maria Hofbauer. Grande foi o número de protestantes e judeus, a que Pe. Hofbauer conduziu à luz da verdade. Muitos outros arrancou do lamentável indiferentismo, a que viviam entregues havia muitos anos, restituindo-os à uma vida prática, verdadeiramente católica. A conversão destes arrastava a outros, que, vendo o bom exemplo, mais facilmente se animavam a seguir no mesmo caminho.

Em sua humilde e pobre residência se reuniam médicos, advogados e estudantes, a qual sabia tão bem e tão sabiamente comunicar seu amor a Deus, a Maria Santíssima, o amor à virtude da pureza e seu entusiasmo pela mãe de todos, a Igreja Católica. Aos mais talentosos incutiu interesse pela obra da boa imprensa, e seu merecimento foi a fundação de "Ramos de Oliveira". Jornal que se publicou durante cinco anos. Sua foi a ideia, realizada por diversos seus amigos, da organização de uma biblioteca popular católica. À sua insistência abriu-se um colégio para meninos das famílias nobres e abastadas. Uma fundação deste gênero impunha-se como uma necessidade indiscutível, e já no tempo do Pe. Hofbauer apareceram os bons frutos desta obra oportuníssima.

Estes poucos traços da vida do Pe. Hofbauer suficientes são para convencer ao leitor, da verdade que há no dizer, que este humilde Filho de Santo Afonso tem sido o apóstolo de Viena, e a ele a capital da Áustria deve o seu ressurgimento religioso da letargia de um indiferentismo e da morte da impiedade, em que se achava perdida. A missão do Santo é muito bem caracterizada pela palavra do Cardeal Rauscher, que disse: "Pe. Hofbauer preparou o caminho para a Concordata, e deu ao espírito do seu tempo uma orientação melhor".

No meio de tantos trabalhos, S. Clemente Maria não descuida da expansão de sua Congregação na Alemanha. Apesar da tenaz resistência de certos elementos anticlericais; apesar da hostilidade por mil formas manifestada pelos inimigos da Igreja Católica e das Ordens religiosas, Pe. Hofbauer conseguiu a realização dos seus planos. Quando fechou os olhos para o último descanso, a 15 de março de 1820, a província transalpina, contava 45 sacerdotes e 5 Irmãos. Duas semanas depois de sua morte, um decreto imperial autorizou a existência da Congregação na Áustria.

Grande que foi na vida, mais o exaltou Deus na morte. Apenas se soube em Viena o passamento do Pe. Hofbauer, começou também o culto do povo católico ao Santo Clemente Maria. Se milhares choravam a morte de um pai espiritual, como igual não era possível imaginar-se, milhares, procuraram seu túmulo, na igreja de Santa Maria em Viena, dirigindo suas preces ao Santo, que deixara a terra para trocá-la pela mansão eterna da celestial Jerusalém. Se seu corpo morto era venerado pelos que o conheceram em vida, suas relíquias receberam constantes homenagens da parte de todos os católicos, desde que a Suprema Autoridade da Igreja declarou pertencentes a um dos seus filhos mais ilustres, a que conferiu as honras dos altares.

Reflexões

Deus é que dá as vocações sacerdotais. Seu Espírito as forma por toda a parte, de preferência no seio das famílias numerosas e profundamente religiosas. A vocação de S. Clemente Maria comprova esta verdade observada em todos os tempos. Hoje em todo o mundo a Igreja lamenta a escassez do clero. A quem cabe a culpa desta triste realidade? Nosso Senhor faz as vocações dependerem da oração dos fiéis. "Enviai, Senhor, operários para a vossa messe. A messe é grande, mas poucos são os operários", são suas palavras. Um povo terá tantos sacerdotes, quantos quer. Deus não lhos nega, uma vez que seja pedido. A célula mater do sacerdócio católico é a família religiosa, temente a Deus, a família que se interessa pela propagação do reino de Jesus Cristo. Honra àquelas mães, que consideram a maternidade uma bênção do céu. Honra àquelas mães, que na maternidade enxergam o meio seguro de sua salvação eterna. Honra àquelas mães, que a exemplo de tantas outras pedem a Deus prole numerosa, para podê-la consagrar ao seu santo serviço. Honra à mãe de São Clemente Maria Hofbauer, que, embora pobre e atribulada, tomou sobre a cruz pesadíssima de educá-los na santa lei de Deus, Foi esta mãe heroica do povo, que deu a Deus um sacerdote. Este sacerdote veio a ser um grande Santo, uma glória da Congregação a que pertenceu, a glória da Igreja e não menos a glória de sua santa progenitora, o apóstolo de uma grande nação. Há escassez de sacerdotes? Que apareçam mães piedosas, mães de espírito como o admiramos em D. Maria Hofbauer, mãe do nosso Santo e em tantas outras, também da nossa terra, que saibam sacrificar o egoísmo pagão dos nossos dias ao grande amor a Deus, que ardia em sua alma, Que as mães, que os pais, que o povo inteiro façam crescer em si o amor a Deus e a sua santa Igreja. E bem depressa desaparecerá a lamentável escassez de sacerdotes no Brasil.

Santos, cuja memória é celebrada hoje

Em Cesaréia o martírio de São Longino, daquele soldado romano que abriu o coração de Nosso Senhor no Calvário. Seu nome pagão era Cássio, que no batismo se mudou em Longino. Residia em Cesaréia, onde, no ano de 58, aproximadamente, sofreu o martírio. Converteu o carcereiro, que junto com ele foi decapitado. Suas relíquias se acham em Mantua. É padroeiro dos ferreiros; sua intercessão é invocada contra moléstias dos olhos. Há uma bênção especial de S. Longino para fazer parar hemorragias provocadas por ferimentos.

No mesmo dia o martírio de Santo Aristóbulo, discípulo dos Apóstolos.

Em Salônica a Santa Matrona, que era empregada de uma judia mas cristã de coração. Surpreendida um dia nas suas práticas religiosas cristãs, teve que sofrer muitas humilhações e angústias. Finalmente foi morta a pauladas (304). Em Córdoba, na Andalúzia a virgem-mártir Leocrícia (850).

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 15 de março.

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Santa Luiza de Marillac

Santa Luiza de Marillac

(† 1660)

Fundadora da Congregação das "Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo"

Luiza de Marillac nasceu em Paris a 12 de agosto de 1591. Muito jovem ainda, teve o pesar de perder a mãe. O pai, Luiz de Marillac, senhor de Ferrières, proporcionou-lhe uma educação esmeradíssima e eminentemente cristã, que a preparou para a sua missão providencial.

Já se havia dedicado à prática de uma vida toda de caridade, quando um dia lhe escreveu São Vicente de Paulo, ao saber que ela visitara em Paris, uma pessoa atacada da peste. "Nada receies Mademoiselle, Deus quer servir-se de vós para alguma coisa que visa a sua glória, e estou certo de que Ele vos conservará para este fim". Visivelmente se realizaram estas palavras proféticas, pelo posterior desenvolvimento grandioso da Congregação das Irmãs de Caridade, hoje conhecida em todas as partes do mundo.

Em 1613 contraiu matrimônio com António le Gras, secretário da rainha Maria de Medici. Deus deu ao piedoso casal um filho, que, pelas suas virtudes, mostrou-se digno dos progenitores. Em 1625 a morte lhe arrebatou o esposo. Com coragem e resignação cristã sofreu este duro golpe, procurando alívio e consolo em Deus, a quem se consagrou inteiramente. Para oferecer a Deus um sacrifício mais perfeito e assim garantir a salvação de sua alma, decidiu dedicar-se inteiramente às obras de caridade, decisão que teve o pleno consentimento do bispo de Belley, seu confessor. Não podendo ele permanecer por muito tempo em Paris, confiou-a à direção de São Vicente de Paulo, sobre a pessoa do qual recebera ótimas informações de São Francisco de Sales.

Nas paróquias onde São Vicente de Paulo ou seus missionários pregavam missões, fundaram confrarias de caridade, que se recrutavam de piedosas senhoras, cujo intuito era socorrer os pobres enfermos. S. Vicente, vendo que era necessário dar a este movimento uma organização bem orientada, confiou a Luiza de Marillac a missão de inspetora. A piedosa senhora não só aceitou essa incumbência, mas dedicou-se à obra com um zelo admirabilíssimo. Os frutos deste trabalho não tardaram a aparecer. A humildade e dedicação da inspetora abriram-lhe os corações, e raros foram os casos de uma ou outra paróquia não querer aceitar-lhe a benéfica colaboração. Em muitos lugares sua chegada foi festejada com grandes manifestações de religiosos. No desempenho de sua missão, na nobre propaganda da caridade, se deixou guiar pelo genial apóstolo que era seu confessor. Embora fosse grande o desejo de ambos de verem as confrarias fundadas e prósperas em todas as paróquias, nada faziam, se o pároco se mostrava contrário às suas ideias. "Cedei", escreveu S. Vicente a Luiza num caso, em que o pároco se opôs à fundação da confraria "cedei; um só ato de submissão é como um belo diamante, que vale mais que uma montanha de pedras, isto é, de atos inspirados pela própria vontade".

Nas visitas que fazia às paróquias, Luiza bem depressa teve de convencer-se da dificuldade, senão da impossibilidade, de acostumar as senhoras, principalmente as da alta sociedade no serviço de dama de caridade. Cada vez mais clara lhe surgiu diante do espírito a ideia de fundar uma Congregação religiosa, que, com mais ordem, dedicação e independência pudesse tomar a seu cargo a obra de caridade, como a idealizava. Não faltaram elementos utilissimos para realizar o plano. Em 1633 estava já formada uma pequena comunidade, composta apenas de quatro Irmãs, com Luiza como superiora. Na festa da Anunciação da SS. Virgem, do ano de 1634, se consagraram por um voto ao serviço dos pobres e doentes. Esta data tão significativa é até hoje de grande importância na Congregação das Irmãs de Caridade sendo neste dia que renovam, todos os anos, os votos que as ligam a Deus e aos infelizes.

S. Vicente de Paulo deu à jovem Congregação uma regra, cujo espírito é mais uma prova de alta competência do autor em matéria de virtude e santidade. Às filhas dava "como mosteiro a casa dos enfermos, como claustro as ruas da cidade, como clausura a obediência, como grade o temor de Deus, como véu a santa modéstia". Tiveram como divisa a palavra do Apóstolo "Caritas urget me", a caridade me obriga". A nova instalação teve um incremento grandioso.

Admirável foi a atividade de Luiza de Marillac. Quem a conhecia, vendo-lhe o estado de saúde tão precário, não podia compreender como lhe era possível dedicar-se a uma obra tão trabalhosa. O próprio S. Vicente de Paulo chegou a dizer às Irmãs, que os últimos vinte anos da vida da Superiora eram um verdadeiro milagre.

Quando em 1652 Paris foi visitado pela peste, Luiza de Marillac socorreu a 14.000 pessoas e suas filhas distribuam aos pobres o necessário sustento. Outras iam aos subúrbios tratar dos doentes. A pedido da rainha Maria de Gonzaga, a Congregação estabeleceu-se na Polônia.

Luiza de Marillac via nos pobres e doentes a pessoa de Jesus Cristo, tendo em mente a palavra do Divino Mestre: "O que fizestes a um destes mais pequeninos, foi a mim que o fizestes". Igualmente grande era o seu respeito ao Sumo Pontífice, a quem chamava "o Pai santo dos cristãos e o verdadeiro tenente de Jesus Cristo". Firme na fé, fugia da heresia como da peste. Cortou relações com a duquesa de Liancourt, sua amiga, por se ter esta deixado atrair pela heresia jansenista. Em outra ocasião, retirou as Irmãs de um estabelecimento, porque das ideias jansenistas do vigário da paróquia receava uma influência má sobre a fé das religiosas.

Inspirada pela caridade, procurava comunicar o mesmo espírito às suas Filhas espirituais. Numa antiga crônica da Congregação se lê o seguinte tópico: "Madame tinha tanto respeito e devoção para com as pobres que, desde o início do estabelecimento de caridade, recomendou às suas filhas que os servissem com grande caridade e humildade, considerando-os como seus senhores e amos; por isso queria que se lhes destinasse o "primeiro pedaço de pão que se cortava para o almoço e primeira ração de caldo que se servia para o jantar". Ela mesma punha mãos à obra. servindo os doentes, lavando-lhes os pés, pensando-lhes as chagas e tratando-os com todo o carinho. Na visita às aldeias, ela própria lecionava, para instruir as professoras que ali constituía.

No mês de março de 1660, Luiza de Marillac sentiu que sua vida aqui na terra ia findar-se. A suprema consolação, que desde longos anos pedia a Deus, era de ser assistida no derradeiro momento pelo pai e guia de sua alma, Vicente de Paulo. Deus não lha concedeu. Vicente de Paulo, de 85 anos, também prestes a deixar este mundo, só pôde enviar-lhe a bênção e as seguintes palavras: "Madame, ides antes de mim; espero em breve, rever-vos no Céu. Ela recebeu a Comunhão das mãos do vigário de Saint-Laurent, que a acompanhava no seu trânsito. Este, mais uma vez, lhe pediu que abençoasse as suas filhas. Ela aquiesceu: "Queridas irmãs, disse-lhes ela, (resumindo neste momento solene o que havia sido sempre a paixão de sua vida e o desejo supremo de seu coração), continuo a pedir a Deus a sua bênção para vós e a graça de perseverar na vossa vocação, a fim de servi-lo da maneira que Ele deseja de vós: cuidai bastante do serviço dos pobres e sobretudo vivei em grande união e cordialidade, amando-vos umas às outras a fim de imitardes a união e vida de Nosso Senhor, e rogai com fervor à Santíssima Virgem para que ela seja a vossa única Mãe". Acrescentou que morria, tendo em grande estima a vocação delas e que, se vivesse cem anos, não lhes pediria outra coisa que uma absoluta fidelidade a esta santa vocação.

Um padre da Missão ocupava-lhe, à cabeceira, o lugar de Vicente de Paulo, não a deixando um instante. Ele lhe ministrou a indulgência da boa morte. Pelas 11 horas. ela fez baixar as cortinas, como para se recolher, e desde então não falou mais. Meio quarto de hora após, entregava docemente a alma a Deus. Era segunda-feira, 15 de março de 1660, O vigário de Saint-Laurent, de sua paróquia, a quem ela fizera confissão geral, achava-se presente; não pôde deixar de exclamar cheio de admiração: "Oh! que bela alma, leva consigo a graça do batismo!"

Os funerais foram muito simples. Era necessário conformar-se à vontade expressa pela piedosa fundadora, que não lhe tributassem maiores honras que às Irmãs, "Agir de outra forma, dissera ela, seria declarar-me indigna de morrer como uma verdadeira Irmã de caridade, embora não estime nada de mais glorioso que essa qualidade". Foi inumada na igreja de Saint-Laurent, na capela da Visitação. Os despojos mortais foram transferidos mais tarde, para a capela da casa matriz das Irmãs de Caridade, 140, rue du Bac, Paris, onde hoje repousam. É esta a capela que foi honrada, em 1830, com a aparição da Santíssima Virgem e com a manifestação da Medalha Milagrosa. A mais preciosa deposição no processo de beatificação de Luiza de Marillac será sempre o elogio que dela teceu São Vicente, em duas conferências feitas diante das Irmãs de Caridade, poucos dias depois da morte da Santa, conferências que ele quis proferir apesar de sua enfermidade.

Nestas conferências S. Vicente louvou particularmente a prudência sem par de Luiza de Marillac, a sua caridade e pureza. Disse, entre outras cousas: "Há pouco, refletindo diante de Deus, eu dizia: Senhor, queres que falemos de vossa Serva, pois é obra de vossas mãos: e perguntava a mim mesmo: que viste nela, neste 38 anos que a conheceste, que viste nela? Velo-me à memória reminiscência de alguma sombrinha de imperfeição; mas de pecado mortal, oh! Nunca, nunca! Era uma alma pura em tudo, pura na mocidade, pura no estado de casada, pura na viuvez. Tínheis sob os olhos, minhas filhas, um belo modelo: ela agora no Céu. Lá, vossa boa mãe não será menos bondosa para convosco que na terra. Conquanto não se deva rogar publicamente aos mortos que ainda não foram canonizados, pode-se fazê-lo em particular; por conseguinte podeis perfeitamente pedir a Deus graças pela sua intercessão".

Beatificada pelo Papa Benedito XV, em 1920, foi elevada à suprema honra dos altares a 11 de março de 1934 pelo Sumo Pontífice Pio XI.

Reflexões

A vida de Santa Luiza de Marillac, é o mais vibrante reflexo do fogo celeste que é a caridade.

Coração de mulher, de mãe, e cristã de crente, coração iluminado, perseverante, heróico, universal da universalidade e grandeza da fé, formou-se no amor do Coração de Jesus, que é a caridade infinita. Foram necessários três séculos para que sua grandeza e vitalidade pudessem aparecer em todas as proporções; apareceram nas obras por ela criadas em nome e por amor do Redentor e da caridade nascida no Coração divino. Só hoje se pode avaliar suficientemente como original e árdua, admirável e necessária tem sido esta sua obra. Só hoje o mundo, que organiza o mal e sabe arrecadar milhões para a perdição das almas, e isto num plano em sua grandiosidade desconhecido no passado, poderá compreender e contemplar melhor que tudo isto é em comparação à caridade, exercida não só como sentimento e oração, não só espiritualmente, mas socialmente, corporalmente como manifestação e faísca daquela chama interior, de que se alimenta a imensa família de Cristo.

Deus é a caridade, afirma B. João, - Deus não o vemos, mas vemo-lo no próximo, a quem devemos amar como a nós mesmos. Ora, se no passado tal preceito levou a práticas de heroísmo inúmeros indivíduos, e sodalícios, ninguém se lembrava de fundar uma Congregação feminina do "Mandamento novo" como Banta Marillac fez, criando a Filha da Caridade. "Filha da Caridade: Filha de Deus", dizia S. Vicente; e quando a Filha da Caridade da sua vocação, certamente a humanidade não tinha presenciado coisa igual, mais prodigiosa, e mais gentil. Agora as "cornetas" brancas são realmente duas asas de anjos que nas voltas do purgatório terrestre são mensageiros da divina misericórdia.

Quando os secretários de todos os tempos, e hoje os bolchevistas, negadores de Deus, querem ferir a Igreja Católica, focalizam seu ódio ao Papa; e quando querem chasquear o que há de mais delicado e comovente no heroismo cristão, tomam por emblema a Filha da Caridade. Mas aqueles que se gloriam da divisa do Filho de Deus, enchem-se de admiração diante daquela figura cândida, que representa um exército de bondade. O comunismo com toda a sua propaganda fragorosa tem disseminado a fome, o extermínio, a morte; deu pedras a quem lhe pedia pão As obras de S. Vicente, de Santa Luiza de Marillac e de Frederico Ozanam, nos tristes dias da miséria e do inverno gélido tem feito resplandecerem os raios de um sol fecundo de vida e de graça.

Não só as Filhas da Caridade, mas a cada católico o Supremo Pastor das almas apresenta esta grandiosa figura de mulher, apóstola daquela virtude que é o fundamento da Lei, o distintivo do cristão, daquela virtude que ainda hoje de todas as outras é a mais necessária: a Caridade. Caridade que emana do coração que vive da luz do Espírito Santo e do Redentor; mas caridade ardente, operosa, ativa, real, perseverante, tal qual a descreve S. Paulo na sua epístola aos Coríntios: "A caridade é paciente, é benigna, não é invejosa, não é temerária, não se ensoberbece; não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre". (1. Cor. 13. 4-7).

Caridade! Pratiquemos a caridade como o Divino Redentor a praticou; como a praticaram S. Vicente de Paulo, Santa Luiza de Marillac, glorificando a Deus e vindo em auxílio ao pobre, ao necessitado, ao atribulado. Não pode haver afirmação mais prática e sensível do nosso amor à Igreja e da nossa cooperação ao Reino de Cristo.

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 15 de março.

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