
Santa Lúcia Filippini, Fundadora das "Pias Professoras Filippini"
(† 1732)
Deus, que conhece as necessidades de seus filhos, toma, a tempo devido, as providências que elas exigem. Foi devido à Providência Divina que a Itália teve sua grande e santa Mestra, na pessoa de Lucia Filippini, que, na Palavra do Pontífice que a canonizou, foi o modelo e a formadora de santas mestras, uma verdadeira apóstola, que, depois de ter exercido o apostolado por si própria, veio a ser a apóstola para muitas almas, muitas famílias, para a sociedade toda, sendo que as cooperadoras lhe perpetuaram a obra, seguindo-lhe o exemplo e os ensinamentos.
Lúcia nasceu aos 13 de janeiro de 1672, em Corneto, Tarquínia. Os pais eram de honesta e honrada linhagem. A mãe, Madalena Picho Falzacappa, com a nobreza dos antepasados, família de destaque, tinha herdado as virtudes tradicionais dos avoengos. O pai, Filipe Filippini, natural de Génova, comerciante de profissão, era igualmente procedente de família honesta e piedosa.
Cinco eram os filhos deste abençoado casal, sendo Lúcia a última. No mesmo dia em que veio à luz do mundo, recebeu o sacramento do batismo, das mãos do tio paterno Miguel Filippini, cônego da catedral de Tarquinia. O destino da criança parecia ser a dor. Os beijos e caricias maternais, que sempre são prodigalizadas em torno do berço, vieram a cessar rapidamente. Quando Lúcia contava apenas onze meses e poucos dias, a mãe, jovem de 27 anos, baixou à sepultura. Aos três anos perdeu o tio, o cônego da Catedral, e quatro anos depois, seguiu o pai para a eternidade. Na idade em que a criança mais necessidade tem de um guia e protetor, Lúcia era órfã de pai e mãe. Os tios maternos tomaram conta dos meninos, que deixaram a casa paterna tão cheia de tristes recordações. Lúcia educou-se juntamente com os irmãos João, Francisco e Isabel. O comportamento da pequena Santa era sempre irrepreensível. Desde pequena se habituara de bom grado aos trabalhos domésticos humildes e fatigantes e agora, na casa dos parentes, trabalhava também para assim demonstrar sua gratidão. Prestava-lhes o mesmo respeito, a mesma obediência, como se fossem seus pais, entregando tudo à Divina Providência, que não abandona os órfãos. Modesta, interior e exteriormente, fugia das amizades de maus elementos, que envenenam com os vícios as almas mais inocentes; guardava-se da vaidade, do luxo, que são os assassinos da inocência e o precipício das meninas. A modéstia, que amava em si, gostava de ver também nos outros. Com doçura e afabilidade sabia corrigir a irmãzinha, quando esta se apresentava com qualquer ornamento que lhe parecia supérfluo ou inconveniente. Desde a mais tenra infância, revelou sentimentos de piedade profunda, prova de que Deus lhe estava sempre na mente e em todas as coisas lhe procurava as santas inspirações. Alma pura que era, detestava profundamente o pecado, de que já compreendia todo o horror e maldade. Se acontecia que os parentes uma ou outra vez se mostrassem impacientes com pequenas faltas, próprias de crianças, Lúcia se ajoelhava diante deles e com tanta humildade pedia perdão, que ficavam admirados, edificados e até comovidos. Não faltou a menina a intuição dos Santos, os quais, para se conservarem livres do pecado, domavam a própria carne e se flagelavam até correr o sangue. Lúcia, sabendo que o inimigo mais insidioso está em nós mesmos e precisamente nos nossos sentidos, começou uma guerra desapiedada contra o corpo não lhe dando mais paz nem trégua.
Para se manter no espírito de piedade, e pôr-se sempre a seguro das procelas do mundo, foi bater às portas do convento das Beneditinas, em Tarquínia, onde se achavam religiosas da mais alta nobreza da cidade e algumas parentas suas. Neste convento havia também um colégio onde se educavam as filhas das famílias mais distintas da cidade. Lúcia, no meio das companheiras, deu a todas o mais perfeito exemplo de piedade, de caridade e de mortificação. Foi lá também que recebeu a primeira Comunhão, para a qual se preparou com o máximo fervor.
Bem cedo se revelou em Lucia grande talento de ensinar catecismo às crianças. Desejosa de conhecer bem as belezas da verdade revelada por Nosso Senhor, prestava grande atenção aos ensinamentos do pároco. Interrogada na aula de catecismo, respondia com tanta prontidão e clareza, que causava admiração a todos. O pároco, vendo o grande preparo da menina, e o gosto com que sabia transmitir a doutrina às pequenas companheiras, escolheu-a para catequista das mesmas. Via-se, pois, aos domingos, a pequena mestra rodeada de um bom número de meninas que a ouviam, com a maior atenção, explicar os santos mistérios; e esta explicação era feita não só com clareza e distinção, mas com um fervor tal, que movia os corações das pequenas ouvintes.
A influência que Lúcia exercia sobre as companheiras, era o prelúdio da vocação de professora, o início da missão apostólica para a qual a Divina Providência estava a prepará-la. Em determinada ocasião a paróquia de Corneto Tarquinia teve a visita do Prelado, o Cardeal Barbarigo. Lúcia Filippini contava então dezesseis anos. O Cardeal, que foi assistir à catequese, ficou maravilhado da simplicidade e clareza com que Lúcia explicava o catecismo, mais ainda, porém, do ardor que esta órfã manifestava pela glória de Deus e a salvação das almas. Era deveras extraordinário encontrar-se uma donzela de dezesseis anos, que aos amores frívolos e às vaidades do mundo preferia um ideal de perfeição, em que a alma, desprezados todos os interesses terrenos, não aspira senão a uma cousa: amar a Deus com todos os ímpetos do coração e procurar o bem espiritual das criaturas. Era claro que a Divina Providência tinha seus planos para com esta donzela privilegiada. O Cardeal não mais a perdeu de vista e, depois de obtida a licença da família de Lúcia, levou esta consigo para Montifiascone, onde a entregou aos cuidados das Irmãs Clarissas. Em pouco tempo a jovem religiosa era a mestra de todas na prática da caridade e da sabedoria divina. De dia para dia crescia na estima e veneração de todos que a conheciam. As religiosas consideravam-na possuidora de altas virtudes. Muitas damas de Montefiascone vinham ao convento para ver a maravilha, e ficavam encantadas pelas belas e agradáveis maneiras da santa donzela, cujas conversações arrebatavam, comoviam e edificavam.
Vinte anos tinha Lúcia. Estava, pois, na idade das decisões sobre o futuro. Voltar para o mundo e tomar estado como fizera sua irmã Elizabeth? Não era possível. As inclinações, o espírito de perfeição da jovem e a repugnância que sentia às cousas do mundo, faziam excluir de antemão qualquer ideia de casamento. Continuar no convento, como educanda ou pensionista? O estado de educanda tem limite e as condições de pensionista nem sempre combinam bem com as de uma religiosa. Fazer-se freira? Lúcia experimentava forte desejo de abraçar o estado religioso, mas ao mesmo tempo se sentia mais atraída pelo apostolado do ensino, do que pela vida contemplativa.
Para reformar o espírito religioso e os costumes cristãos na diocese o Cardeal Barbarigo tinha concebido o plano de fundar escolas em diversas cidades e, procurando a quem pudesse confiar esta obra, recaiu-lhe a escolha sobre Lúcia Filippini. Esta, a princípio relutou, julgando acima das suas forças e competência tão importante empreendimento. Tão fortes, porém, eram as insistências do Cardeal, que Lúcia receou contrariar a vontade de Deus, se continuasse a opor-se à vontade do superior. Assim aceitou humildemente a incumbência tão honrosa quão espinhosa.
Num generoso esforço que lhe revelava a grandeza da alma, renunciou à tranquilidade espiritual de que gozava, para abraçar uma vida cheia de trabalho, de penas e sacrifícios. Era esta sua missão. Os fatos demonstraram depois, que as inclinações, o gosto, as qualidades todas da jovem estavam em perfeita harmonia com a natureza do apostolado ao qual Deus a chamara.
Como todo fundador dá aos filhos um hábito, como emblema e sinal religioso, que mais tarde veio a ser de distinção, assim o Cardeal Barbarigo deu à sua filha um hábito religioso, que mais tarde velo a ser o hábito da Congregação.
O sacrifício, a boa vontade e o zelo apostólico da piedosa fundadora justificaram perfeitamente as esperanças do Cardeal, que teve a satisfação e o grande consolo de ver ressurgir nas famílias o espírito da piedade e do temor de Deus. Na escola de Lúcia se formava o caráter e a consciência das meninas, para o fiel desempenho dos deveres religiosos e cívicos. As escolas eram templos em que Deus era adorado e glorificado.
O fervor apostólico da Santa não se restringia à escola; sentia em si a vocação de pregar missões para as pessoas do sexo feminino. Em Pitigliano, Scansano, Montemarano e em outros lugares, trabalhou com extraordinário fruto, como São Leonardo de Porto Maurício, seu contemporâneo, não teve maior. Seguindo o impulso do coração e do zelo verdadeiramente apostólico, que a consumia, chamada por bispos e sacerdotes, ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, havendo por nada fadigas e sacrifícios, para converter pecadores, renovar a vida cristã nas famílias e estabelecer o piedoso instituto. Ninguém lhe resistia ao poder da palavra e do exemplo. As palavras da Serva de Deus, quais setas incendiadas, penetravam nos corações das senhoras, que aos pés da grande missionária depositavam os adornos da vaidade e prometiam abandonar o caminho do pecado.
Clemente XI, informado do grandioso apostolado de Lúcia, na escola e nos exercícios espirituais dados a senhoras, chamou-a a Roma. Em 1707 abriu uma escola na paróquia de S. Lorenzolo ai Monti. O resultado foi o mesmo que em outros lugares. A escola em pouco tempo foi uma das mais frequentadas da cidade, e Lúcia era conhecida em Roma pelo título de: "a santa professora". O colégio parecia um paraíso. Lá só se falava em Deus e se trabalhava para Deus. A modéstia das alunas era exemplaríssima, e entre elas havia uma santa concorrência em praticar as virtudes. Nos sábados a "santa professora" levava as melhores discípulas a um ou outro hospital, para lhes dar ocasião de exercitar-se na caridade e humildade, prestando serviço às pobres doentes.
Não faltavam provações.
As coisas de Deus são sempre acompanhadas da cruz e do sofrimento, e suas obras regadas com o orvalho das lágrimas... Logo na fundação, como na propaganda da obra, Lúcia experimentou o sofrimento. Contrariedades sem conta, desprezo e calúnias foram os paraninfos das fundações e dos empreendimentos da Santa de Deus. Posta em dúvida a pureza de sua fé, por várias vezes foi acusada perante o Supremo Tribunal do Santo Oficio. A Santa, porém, não perdeu a paz da alma, nem tão pouco se deixou vencer pela tristeza e pelo desânimo. Em tudo agradecia a Deus e procurava fazer bem, até aos adversários.
Aos sofrimentos espirituais aliou-se mais tarde um mal físico, um cancro no peito, que durante cinco anos a martirizou, dando-lhe ocasião de exercitar até ao heroísmo a paciência e a conformidade com a vontade de Deus. As águas da tribulação não conseguiram extinguir-lhe o fogo do amor. Qual outra Teresa de Jesus, embora ardendo em febre, e torturada pelas dores, quase insuportáveis, da horrível enfermidade, não deixava de ensinar às crianças, de dar às senhoras os pontos de meditação e de visitar as casas da Congregação.
Os últimos quatro meses trouxeram-lhe ao leito. Condenada à imobilidade completa, só a língua continuava a prestar-lhe serviços. Ne meio das convulsões fortíssimas que lhe agitavam o pobre corpo, ouvia-se lhe dizer: "Oh meu Deus, eu vos agradeço. Tende compaixão de mim!" Quando sentia algum alívio nas dores, punha-se a cantar e convidava as irmãs para com ela cantarem o "Te Deum", agradecendo a Deus a felicidade de poder sofrer alguma cousa. Na festa da Anunciação, 25 de março de 1732, quando os sinos, ao meio dia, anunciavam à humanidade a Encarnação de Jesus Cristo, Lúcia elevou o olhar ao céu e com um doce sorrir, exalou a bela alma.
A obra de Santa Lúcia Filippini sobreviveu à fundadora. A Congregação das piedosas professoras Filippini, que em Roma tem a Casa Matriz, dirige escolas em diversas províncias da Itália e na América.
A Igreja, em decretar as honras dos altares, procede com tradicional cautela e sabedoria. Assim, depois de ter estudado a vida de Lúcia Filippini e haver-lhe reconhecido a heroicidade das virtudes, examinou os milagres atribuídos à sua intercessão. Aprovados dois, de inegável autenticidade, o Santo Padre Pio XI houve por bem inscrevê-la no álbum dos Santos, em 22 de junho de 1930.
Reflexões
Escola leiga ou religiosa é até hoje a questão mais discutida. A tradição, o bom senso e a própria experiência dizem ao católico à qual das duas deve dar o voto. Além do ensino, o homem precisa receber educação. Educação, no sentido cristão, não é imaginável sem o ensinamento da moral e o exercício das virtudes. Moral e virtude têm sua base na religião, na relação natural e sobrenatural que existe entre Deus e a criatura. A escola leiga exclui em absoluto o ensino religioso. O nome de Deus não figura nos livros e não é pronunciado pelos docentes. A educação há de ser falha, portanto, por mais que o espírito moderno enalteça a superioridade da escola sem Deus. Trará o esquecimento de Deus da parte do educando, depois da família e da sociedade. A escola leiga é declaradamente um dos pontos do programa da maçonaria, do apostolado de Satanás. A escola religiosa trata verdadeiramente do ensino e da educação, da formação do caráter e do coração do educando. O professor leigo ensina, porque ensinar é sua profissão. O professor religioso tem seu trabalho no conceito de um nobre apostolado.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 25 de março.
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Festa da Anunciação de N. Senhora
Antiquíssima é a festa que a Igreja celebra hoje, e tem o nome de Anunciação de Nossa Senhora pelo seguinte motivo: Estava no plano de Deus que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade salvasse o gênero humano, e para este fim tomasse a natureza humana. Tendo chegado o momento escolhido desde a eternidade, para a realização deste grande mistério, o Arcanjo S. Gabriel foi incumbido da missão de comunicá-lo a Maria, santa donzela, que residia em Nazaré, e era descendente de Davi. Foi o mesmo Arcanjo que, havia 400 anos, tinha anunciado a vinda e a morte do Messias ao profeta Daniel e, poucos meses atrás, comunicado ao sacerdote Zacarias o nascimento do Precursor. Maria, esposa de José, homem justo, também da casa de Davi, em virtude de um voto que havia feito a Deus, vivia com ele em perfeita e virginal castidade. Entre todas as mulheres do mundo, a SS. Trindade tinha escolhido esta para mãe do Messias prometido, e por este motivo, não resta dúvida, foi que a enriqueceu de tantos privilégios e graças, que em santidade a elevara acima de toda criatura humana.
A Virgem, por Deus tão privilegiada, achava-se em oração, quando o Arcanjo entrou no aposento. Não é destituída de razão a opinião de Santo Padres, que supõem que o objeto da oração de Maria tivesse sido o que interessava vivamente a nação inteira: a vinda do Messias. O Arcanjo saudou-a com estas palavras: "Ave, Maria, cheia sois de graças, o Senhor é convosco; bendita sois entre as mulheres". Maria, ao ouvir esta saudação, assustou-se. O Arcanjo, porém, prosseguiu: Nada temais, Maria! Achastes graça diante de Deus. Eis que concebereis e dareis à luz um filho, e pôr-lhe-eis o nome de Jesus. Este será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai, Davi, e reinará eternamente na casa de Davi, e seu reinado não terá fim" (Lc. 1, 30).
O que se passou na alma da Santíssima Virgem, ao ouvir estas palavras, das quais cada uma encerra um mistério insondável, é mais fácil imaginar-se do que exprimir em palavras. Maria, tendo ouvido estas coisas, turbou-se e perguntou ao Arcanjo: "Como se fará isto pois eu não conheço homem?" Estas palavras não eram a expressão de uma dúvida, que a Santíssima Virgem tivesse do que o Arcanjo dissera: eram antes a linguagem da humildade que não podia supor que Deus a tivesse escolhido para tão alta dignidade; eram ainda o reflexo da perplexidade, por não saber como havia de conciliar a maternidade com a virgindade a Deus votada. São Gabriel esclareceu-a imediatamente sobre este ponto, mostrando-lhe que, ser mãe não lhe comprometeria o estado de virgem e disse: "O Espírito Santo virá sobre vós e a virtude do Altíssimo vos obumbrará. E por isso mesmo o Santo que há de nascer de vós, será chamado Filho de Deus. Eis que também Isabel, vossa parenta concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se diz estéril; porque a Deus nada é impossível". (Lc. 1, 35).
Ao ouvir esta declaração, Maria Santíssima, com toda humildade, se sujeitou à vontade divina e disse: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo vossa palavra". No mesmo momento se realizou o grande mistério da Encarnação. O Verbo de Deus fez-se carne, o verdadeiro Filho de Deus tomou a natureza humana. A palavra de Maria significava para Deus a maior humilhação; para ela, porém, a elevação à mais alta dignidade. O Filho Unigênito de Deus fez-se homem; Maria Santíssima veio a ser Mãe de Deus, sem com isto perder a virgindade.
Os Santos Padres são unânimes em afirmar, que a Encarnação do Verbo de Deus é de todos os mistérios o maior, e nele todos os demais se encerram; é um mistério que transcende nossa compreensão, um mistério em que se refletem as mais altas perfeições de Deus, como sejam a sabedoria, caridade e misericórdia. Na Encarnação se revela a sabedoria divina, pois inteligência nenhuma, a não ser a divina, poderia ter descoberto meio mais maravilhoso de estabelecer a paz entre Deus e a criatura; a Encarnação é a revelação da caridade e misericórdia divinas, porque outro princípio não teve, senão a infinita bondade de Deus para com os homens. O Padre Divino manda seu Filho Unigênito ao mundo, para que este tenha a salvação por amor. O Filho de Deus desce do céu, para salvar o mundo pelo amor. O Espírito Santo, o eterno amor, prepara aquele santo corpo, que será dado como vítima da salvação, "Tanto Deus amou o mundo".
No grande dia da Anunciação se realizaram os desejos, suspiros e profecias dos patriarcas e profecias do Antigo Testamento. "Céus, enviai o rócio do lato e vós, nuvens, o justo como chuva salutar; abra-se a terra e apareça o Senhor". (Is. 45, 8). "Vinde, Senhor, não tardeis mais". "Levantai-vos, Senhor, no vosso poder e vinde para nos salvar". (S. 17). Nestas e outras preces exprimiram os antigos o ardente desejo de ver o Messias. Hoje comemoramos a data em que o Filho de Deus desceu ao seio da Virgem Mãe; daqui a poucos meses o veremos reclinado na manjedoura e mais tarde o acharemos no altar da cruz para com o preço de seu sangue, resgatar o gênero humano.
Que gratidão não devemos à infinita bondade de Deus e à misericórdia divina! Os Anjos, segundo o testamento de S. Paulo (Hebr. 1, 6), no dia de hoje adoram o grandioso mistério da Encarnação, realizado nas puríssimas entranhas da Santíssima Virgem. Muito mais razão temos nós para fazer o mesmo, hoje e todos os dias da nossa existência. Esta homenagem, tão digna quão justa, podemos prestá-la na Santa Missa e no toque do "Angelus". Pronunciando as palavras: "e o Verbo se fez carne", o sacerdote dobra o joelho, em profunda adoração ao augusto mistério. O mesmo faz, quando recita as palavras do Credo: "E encarnou-se por obra do Espírito Santo, no seio da Virgem Maria". Com este cerimonial a Igreja nos quer lembrar o grande mistério, que merece todo o nosso respeito, toda a nossa gratidão e todo o nosso amor. O toque do "Angelus" não tem outro fim, a não ser o de incutir-nos na memória o mistério fundamental da nossa santa religião, para que dele nunca nos esqueçamos e o veneremos todos os dias, com muito acatamento. Só os hereges, ímpios e maus católicos têm sorriso escárnio para estas piedosas práticas, tão caras ao coração do fiel e tão agradáveis a Deus e a sua santa Mãe.
Maria, tão privilegiada por Deus, escolhida entre as demais mulheres, merece toda a veneração. É opinião de Santo Anselmo e de outros Santos Padres, que criatura alguma, em tempo algum, alcançou tão alta dignidade, como Maria Santíssima, tendo ela chegado a ser Mãe do Altíssimo. Como Mãe de Jesus Cristo, está acima de todos os Anjos e Santos do céu, que nela reconhecem e veneram sua gloriosa Rainha. Podemos negar nossa homenagem, respeito e amor a quem foi honrada, enaltecida e amada por Deus como Maria Santíssima? Como são ingratas, injustas e desapiedadas as seitas que nos querem negar este direito e colocar a augusta Mãe de Deus ao nível de simples criatura, cheia de miséria e pecado!
Como bons católicos, devemos ser filhos gratos e devotos de Maria Santíssima. No momento em que ela foi elevada à dignidade de Mãe de Deus, ficou sendo também nossa Mãe, porque, pela Encarnação, Jesus Cristo se dignou ser nosso irmão. Fazendo esta consideração, Santo Anselmo escreve: "Se Jesus Cristo é irmão dos fiéis, há algum motivo para que sua Mãe não possa ser também nossa Mãe?" A ela pois devemos dirigir-nos, como filhos à Mãe, com amor, confiança e gratidão. Nunca se ouviu dizer que Maria tivesse abandonado aqueles que, confiantes, a invocaram nas necessidades.
Reflexões
O dia de hoje deve ser de grande alegria para todos os católicos, que se sentem felizes em serem filhos de Maria. Ser filho de Maria é grande honra para nós. Se Maria nos honra com seu amor e proteção, devemos honrá-la com uma vida santa e digna de cristão. "O Senhor é convosco", disse o Arcanjo a SS. Mãe de Deus. Oxalá o nosso Anjo possa dizer-nos as mesmas palavras: "O Senhor é contigo". Seria esta a maior satisfação que Maria, nossa Mãe, poderia ter, vendo-nos benditos do Senhor, protegidos, abençoados e queridos por Deus. Para que o nosso Anjo um dia nos possa apresentar a Maria Santíssima, na glória eterna, e dar-lhe a satisfação de abraçar-nos e estreitar-nos ao coração, como benditos do Senhor, imitemos as virtudes de nossa Santa Mãe, e procuremos ser verdadeiros servos e servas de Deus.
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Em Roma a festa de S. Quirino, que sofreu o martírio no tempo do Imperador Cláudio. Seu corpo foi atirado ao Tibre. Suas relíquias passaram para Tegernese, diocese de Ratisbona, onde existe uma fonte cujas águas milagrosas são empregadas contra moléstias da vista e do ouvido.
Em Nicomédia, na Ásia Menor, a memória de Santa Dula. Empregada de um alto militar pagão, foi morta por este em defesa de sua castidade, e por ser cristã. Santa Dula é padroeira das empregadas.
A Igreja de Jerusalém celebra hoje a memória do Bom Ladrão, a que a tradição deu o nome de S. Dimas. É padroeiro dos condenados à morte e dos carroceiros. É invocado em casos graves de impenitência e contra o perigo dos ladrões. Diz a tradição que, como chefe de uma quadrilha, era o terror de uma região, por onde a Sagrada Família passava na sua fuga para o Egito. A beleza de Nossa Senhora e do Menino Jesus de tal maneira o teriam comovido, que, desistindo do seu plano de roubá-los, lhes teria dado hospedagem em sua choupana. A arte cristã o apresenta crucificado ao lado direito de Jesus, com a diferença, porém, de o mostrar apenas amarrado com cordas, ao passo que Nosso Senhor foi pregado na cruz.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 25 de março.
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