Beata Lidvina (Lidviges, Lídia), Virgem
(† 1433)
A Beata Lidvina foi uma das poucas almas privilegiadas por Deus, e pela Divina Providência destinadas a seguir o Divino Esposo, no doloroso caminho do sofrimento. Natural de Schiedam, cidade dos Países Baixos, era Lidvina filha de pais pobres, porém religiosos e honestissimos.
Desde a infância já se lhe notava o cunho da profunda religiosidade, esta se manifestando numa admirável devoção à Santíssima Virgem. A imagem de Nossa Senhora exercia uma atração tal sobre o coração da menina, que esta, cada vez que o caminho a conduzia defronte da igreja, nela entrava para saudar, com uma Ave Maria, a santa e divina Mãe. Como, em certa ocasião, se demorou mais do que era de costume, e esta demora tivesse causado embaraço em casa, a mãe repreendeu-a. Lidvina desculpou-se com toda a simplicidade, dizendo que Nossa Senhora a tinha olhado com tanta ternura, que se deixara ficar ao pé do altar.
Tendo apenas 12 anos de idade, era Lidvina uma encantadora menina, e por este motivo não lhe faltaram admiradores, entre os jovens do lugar. Os pais nutriam o desejo e a esperança da filha tratar casamento com um dos mais ricos pretendentes; Lidvina, porém, rejeitou as mais lisonjeiras propostas, declarando-se esposa de Cristo, a quem desejava guardar fidelidade até à morte. Para se ver livre dos pedidos de casamento, rogou a Deus que lhe tirasse a beleza do rosto e toda a formosura. Deus ouviu os rogos de sua serva de um modo singular. Apreciadíssimo é na Holanda o divertimento da patinação. Era no dia 2 de fevereiro de 1395, festa de Nossa Senhora das Candeias, quando Lidvina, acedendo ao convite das companheiras, com elas se dirigiu ao lugar da patinação. Quinze anos contava Lidvina. Aconteceu que, estando a apreciar as evoluções daquele esporte, de repente recebeu um fortíssimo empurrão de uma companheira, que não a tinha visto, o golpe, de todo inesperado, fê-la cair com tanta infelicidade, que fraturou uma das costelas. Foi esta a primeira estação do caminho da cruz, que terminou com a morte 38 anos depois. Lidvina teve de sujeitar-se a dolorosos tratamentos, durante aquele tempo todo, sem que a ciência médica tivesse conseguido aliviar-lhe a triste sorte. As dores generalizaram-se pelo corpo todo. Órgão não havia que tivesse seu funcionamento normal. Os pulmões, rins, estômago, fígado, apresentaram sucessivamente sintomas, os mais alarmantes de moléstia gravíssima. A insônia era-lhe companheira inseparável, passou a enferma e quase sem se alimentar. Muitas pessoas julgavam extraordinário esse estado, e não faltava quem o atribuísse a influências diabólicas.
Não foi coisa fácil para a pobre doente, principalmente nos primeiros anos de enfermidade, conformar-se com a vontade de Deus, e sofrer tudo com paciência. A situação tornava-se-lhe cada vez mais aflitiva não havendo quem a animasse e consolasse, confortando-lhe o espírito com palavras estimulantes e lhe desse uma direção firme, prudente e santa. Além disto a grande pobreza dos pais, fez com que sofresse, às vezes, dolorosas privações das coisas necessárias.
Deus compadeceu-se de sua serva, enviando-lhe um confessor e diretor espiritual exemplaríssimo, que conseguiu despertar o seu interesse pela Sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor, mistério este em que o espírito da enferma achou conforto, consolo e orientação segura. A meditação frequente da Sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor, bem como a comunhão frequente, causaram uma grande mudança na vida espiritual de Lidvina. Não mais teve o desejo de ficar boa; não mais se afligia quando lhe faltava o recurso material; não mais se lhe ouvia uma palavra de impaciência; não mais se lhe reparava um gesto de desânimo. Entregue à vontade de Deus, outra coisa não desejava, senão sofrer, e crescer no amor de Jesus.
Pela paciência heroica, causou a conversão de não poucos pecadores, os quais, impressionados pelos sofrimentos de Lidvina e sua admirável conformidade, abandonaram a senda do vício e se restabeleceram na graça de Deus, Sem cessar oferecia as dores a Deus, para alcançar a conversão dos pecadores e pelo alívio das almas do purgatório. Paupérrima, distribuía ainda entre os pobres, esmolas que se lhe davam. Em compensação, Deus cumulou sua serva de graças extraordinárias; assim foi Lidvina muitas vezes consolada pela aparição do Anjo da Guarda, que a consolava e confortava nos seus sofrimentos, mostrando-lhe as delícias do céu, os horrores do Inferno e do purgatório, Jesus Cristo e a Mãe Santíssima dignaram-se de aparecer à santa doente.
Pelo fim da vida, Lidvina foi acometida de hidropisia, e quando a peste fez sua marcha desoladora pelos Países Baixos, não parou diante da porta da pobre padecente. Cálculos atrozes. Já não suportava a maciez da cama. O corpo parecia uma chaga. Trocou o leito por duras tábuas.
A estes sofrimentos juntaram-se outros, causados pela invasão do exército de Felipe de Borgonha na Holanda. A rude soldadesca foi de um procedimento indigno para com a pobre doente. Quando os malfeitores, acusados dos seus crimes, deviam responder à justiça humana, Lidvina protestou, pedindo que a Deus se entregasse a vingança. Assim aconteceu e os miseráveis tiveram um fim desgraçado.
Lidvina teve o grande consolo de receber o aviso de sua morte dos lábios de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nos últimos dias os sofrimentos redobraram. Num dos acessos de vômito, Lidvina desfaleceu e entregou a alma puríssima ao Divino Esposo. Era no dia 14 de abril de 1433. Foi beatificada em 14 de maio de 1890.
O corpo da Santa, tão maltratado e desfigurado pelas moléstias, cada qual delas mais grave, depois da morte retomou toda a formosura primitiva. As relíquias de Santa Lidvina acham-se em Bruxelas.
Reflexões
Durante trinta e oito anos, Beata Lidvina sofreu as dores de doenças cruciantes. Que são trinta e oito anos? Um pequeno lapso de tempo, mas uma eternidade para uma pobre doente, que os passa no fundo de uma cama. Que são trinta e oito anos, em comparação com a eternidade? Os trinta e oito anos de sofrimento atroz para Beata Lidvina tiveram fim. Quando será o fim dos tormentos dos condenados ao inferno? Nunca. As penas do Inferno não têm fim. O inferno é eterno. Agora uma pergunta: Se tivesses certeza que pelo teu primeiro pecado mortal, Deus, por castigo, te mandasse uma doença dolorosa de trinta e oito anos, terias coragem de cometer tal pecado? Porque então pecas tão fria e sossegadamente, quando sabes que cada pecado grave terá por consequência, não uma doença de trinta e oito anos, mas dores eternas no Inferno? Talvez respondas que esperas poder dar plena satisfação a Deus, pela prática de longas penitências. Os milhares e milhares de pecadores, que agora estão no inferno, não tiveram a mesma esperança, o mesmo desejo? O que lhes aconteceu, poderá acontecer-te. Não é grande imprudência ela, leviandade imperdoável, expôr-se no perigo de perder a alma eternamente? Lembra-te do inferno e foge do pecado!
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Em Roma o martírio dos Santos Tiburcio, Valeriano e Máximo. Tiburcio e Valeriano deveram sua conversão ao cristianismo às orações e aos conselhos de Santa Cecília. Máximo era camareiro do prefeito Almachio, que decretou a morte de todos os três. 250.
Em Terni, na Itália, a memória do bispo-mártir S. Próculo. 542.
Em Alexandria a mártir Santa Tomais, vítima de uma paixão impura de seu sogro. 5º século.
Em Lion, o bispo-confessor S. Lamberto. 688.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 9 de abril.
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